Claquete – 30 de março de 2007
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Enquanto as águas de março fecham o verão (e quase que Natal toda), chega aos cinemas o esperado “300”, épico co-estrelado por Rodrigo Santoro (veja em Filme da Semana). A outra estréia é a comédia nacional “Ó Pai, Ó”, com Lázaro Ramos e grande elenco. Continuam em cartaz a ótima animação de Luc Besson, “Arthur e os Minimoys”, o policial “Atirador”, com Mark Wahlberg, a produção da Disney “Ponte Para Terabítia”, as comédias “Deu a Louca em Hollywood”, e “Norbit”, onde Eddie Murphy interpreta diversos personagens, a ação “Motoqueiro Fantasma”, com Nicolas Cage, e o desenho de Mauricio de Sousa “Turma da Mônica – Uma Aventura no Tempo”. Nas programações exclusivas, o Moviecom exibe “A Rainha”, Oscar de Melhor Atriz e “Letra e Música”, comédia romântica com Hugh Grant e Drew Barrymore.
Em 480 a.C. um enorme exército, comandado por Xerxes (Rodrigo Santoro), o imperador da Pérsia, invadiu a Grécia pelo norte, chegando até a Fócida, no extremo oeste da Grécia Central. Leônidas, um dos dois reis espartanos, posicionou seu exército, com aproximadamente 4.000 soldados, nas Termópilas, um estreito desfiladeiro próximo ao mar. Dessa forma, conseguiu bloquear a passagem dos invasores, enquanto as outras cidades gregas eram avisadas por mensageiros. A estratégia teria sido bem-sucedida não fosse um traidor que revelou aos persas um atalho que possibilitou um ataque devastador pelos flancos. Como o código de honra dos homens de Esparta repudiava a derrota ou a rendição, Leônidas decidiu resistir até o final, juntamente com sua guarda de elite, os 300. O resultado foi uma das mais heróicas batalhas da história. A direção é de Zach Snyder, baseado na graphic novel de Frank Miller. “300” estréia nesta sexta-feira, nas Salas 6 e 2 do Cinemark, e no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 18 anos.
Estréia 2: “Ó Pai, Ó”
Em um animado cortiço do centro histórico do Pelourinho, em Salvador, tudo é compartilhado pelos seus moradores, especialmente a paixão pelo Carnaval e a antipatia pela síndica do prédio, Dona Joana (Luciana Souza). Incomodada com a farra dos condôminos, Dona Joana decide puni-los, cortando a água do prédio. A falta d’água faz com que o aspirante a cantor Roque (Lázaro Ramos); o motorista de táxi Reginaldo (Érico Brás) e sua esposa Maria (Valdinéia Soriano); o travesti Yolanda (Lyu Arisson), amante de Reginaldo; a jogadora de búzios Raimunda (Cássia Vale); o homossexual dono de bar Neuzão (Tânia Tôko) e sua sensual sobrinha Rosa (Emanuelle Araújo); Carmen (Auristela Sá), que realiza abortos clandestinos; Psilene (Dira Paes), irmã de Carmen que está fazendo uma visita após um período na Europa; e a Baiana (Rejane Maia), de quem todos são fregueses; se confrontem e se solidarizem perante o problema. A direção é de Monique Gardenberg. “Ó Pai, Ó” estréia nesta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark, e no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Pré-Estréia 1: “A Família do Futuro”
Lewis é um jovem responsável por invenções brilhantes e surpreendentes. Seu mais recente trabalho é o Memory Scanner, uma máquina que o ajudará a encontrar sua mãe biológica, o que permitirá que ele, enfim, tenha uma família. Porém, antes mesmo de ser utilizada, a máquina é roubada pelo Bandido do Chapéu Coco. Lewis recebe, então, a visita de Wilbur Robinson, um jovem misterioso que o leva em uma viagem no tempo. Já no futuro, Lewis conhece os Robinsons, a família de Wilbur, que o ajudará a recuperar o Memory Scanner. Produção dos estúdios Disney, baseada no livro “A Day with Wilbur Robinson”, de William Joyce. “A Família do Futuro” terá pré-estréia na próxima quinta-feira, dia 5, na Sala 4 do Cinemark. Para maiores de 14 anos.
Pré-Estréia 2: “Caixa Dois”
Novidades
“Filhos da Esperança”, em DVD
Inglaterra, 2027. Já faz 18 anos que a humanidade se tornou infértil. A incapacidade reprodutiva provoca mais caos social, já agudo com o problema dos imigrantes, da fome e das doenças. Tudo piora quando a pessoa mais jovem da Terra falece. O ex-ativista e hoje burocrata Theo (Clive Owen) vive sem rumo, até o dia se encontra com uma menina negra grávida, que, por isso, vira a pessoa mais perseguida do mundo. O filme traz formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital. Como extra, o documentário “Veja Como os Produtores Criaram as Cenas Mais Perigosas do Filme”. Nas locadoras.
“Zoom: Academia de Super-Heróis”, em DVD
Quando a Terra está em iminente perigo de ser destruída, um fora de forma e desempregado ex-super-herói é chamado para salvar a pátria. Seu nome é Jack Shepard, o “Capitão Zoom” (Tim Allen). O problema é que ele perdeu todos os poderes. E agora, o General Larraby (Rip Torn) e o Dr. Grant (Chevy Chase) terão que convencê-lo a aceitar mais uma missão: treinar um desorganizado grupo de crianças com poderes incríveis. Com a ajuda da intelectual Marsha Holloway (Courteney Cox), eles aprenderão a trabalhar em equipe e unir seus poderes para combater uma ameaça cruel que está determinada a criar a maior confusão em nossas vidas. O filme traz formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital. Como extras, Making Of, o documentário “Como Ser um Herói” e trailers de cinema. Nas locadoras.
“Nosferatu” no Projeto Cinema e Literatura
Claro Vídeo Maker
Sonha em ser cineasta e não larga o celular? Então, chegou a sua chance. Produza um vídeo inédito, com duração de 30 segundos, para ser divulgado na telinha do celular. O vídeo mais criativo e original – e que tiver a maior média de downloads – ganhará um prêmio especial – uma viagem a Londres, com direito a um acompanhante, para conhecer a sede da MTV. As despesas de transporte aéreo e estada serão pagas pela Claro. Para concorrer, os videomakers deverão enviar somente a URL do vídeo postado no site YouTube. Mais informações no site http://www.claroideias.com.br/.
Cineclube Natal exibe “O Evangelho Segundo Mateus”
O Cineclube Natal, no próximo domingo, dia 1, exibirá o filme “O Evangelho Segundo Mateus”, do polêmico diretor italiano Píer Paolo Pasolini. Apesar da extensa e contestadora obra do diretor, um agnóstico convicto, esta é considerada, inclusive pelo Vaticano, o melhor filme jamais feito sobre a vida de Jesus. Também será apresentado o curta-metragem “O Deus”, de Konstantin Bronzit. A sessão começa às 17h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto. Após os filmes, haverá debate com a platéia e sorteio de um DVD e pôsteres. Os ingressos custam R$ 2,00. Para maiores de 16 anos.
Filme da Semana: “300”
A vitória dos derrotados
Faz muito tempo que uma estréia não provocava tantas paixões quanto “300”, do diretor Zach Snyder. Os fãs dos quadrinhos de Frank Miller estão em polvorosa, principalmente por conta da decantada fidelidade à revista, os brasileiros estão orgulhosos da participação de Rodrigo Santoro em uma produção de Hollywood com mais de nove falas, e, pasmem, até o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, acusou o filme de intencionalmente denegrir os iranianos. O mais curioso é que o fato retratado aconteceu 2500 anos atrás. Afinal, porque tanto barulho?
No início do século V a.C., a Pérsia tinha-se convertido no maior império que o mundo jamais vira, conquistando Medos, a Babilônia, a Assíria, a Armênia, a Síria-Palestina, o Egito e a Ásia Menor. Na primeira tentativa de dominar a Hélade, o conjunto de cidades autônomas que formaria a futura Grécia, Dario foi derrotado na batalha de Maratona.
A segunda tentativa de dominação da Grécia ficaria para o filho de Dario, Xerxes (que é vivido por Santoro, no filme). Xerxes planejou cuidadosamente a nova expedição destinada a tomar a Grécia, ordenando a construção de uma ponte de barcas ligando as duas margens do Estreito dos Dardanelos (484 a.C.), permitindo um deslocamento mais fácil das suas tropas, poupando recursos preciosos e tempo, ao mesmo tempo em que uma poderosa esquadra foi enviada, para apoiar as operações em terra.
Sabendo desses preparativos, as cidades-estado gregas reuniram-se e formaram uma Liga destinada a defrontar o inimigo comum, tendo proclamado a reconciliação geral e declarado guerra à Pérsia. O comando dessa liga foi atribuído a Leônidas, um dos reis de Esparta.
Como havia uma tremenda inferioridade numérica, os gregos procuraram uma estratégia que lhes trouxesse vantagem, optando por posicionar-se no desfiladeiro de Termópilas, uma estreita passagem em uma região montanhosa. Embora os números históricos sejam inflacionados, havia bem mais gregos que os 300 do título, e os milhões de persas talvez fossem duzentos e cinqüenta mil. Mesmo assim, a desvantagem numérica era tremenda.
Com motivação para defender sua pátria, melhores armamentos, treinamento intenso e posição de defesa inexpugnável, foi fácil para os gregos rechaçarem os primeiros ataques dos invasores. A situação só mudaria com a participação de um traidor, Elfiates, que ensinou aos soldados de Xerxes um caminho secreto para surpreender a retaguarda do exército grego. Diante da nova situação, Leônidas liberou a maior parte dos gregos para reagrupar-se mais ao sul, no istmo de Corinto. Enquanto isso, os espartanos protegeriam a sua retirada.
O resultado era conhecido antes de ser travada a primeira luta. Mas, mais importante do que vencer a batalha de Termópilas, era ganhar tempo. E isso, Leônidas e seus soldados conseguiram, ao custo de suas vidas. É o tema do filme.
O filme de Snyder não é baseado nos livros de História, e sim na versão em quadrinhos de Frank Miller, a cultuadíssima graphic novel “300 de Esparta”, um dos melhores e mais elaborados trabalhos do autor. Também é dele “Sin City – Cidade do Pecado”, levado às telas por Robert Rodriguez.
Os fãs do quadrinista ficarão satisfeitos, pela fidelidade à obra de Miller, embora isso se deva a uma característica do artista, que fazia seus quadrinhos como se fosse um storyboard de cinema, daí a afinidade.
Aliando os recursos da computação gráfica com um tema poderoso, que retrata uma das batalhas mais famosas da História, o resultado é um épico diferente, dirigido ao público adulto (a censura é 18 anos), o que permite explorar a violência estilizada, que chega a parecer um balé, a estética dos corpos de homens e mulheres numa sensualidade pouco comum nas caretas produções hollywoodianas e um ritmo de videoclipe constante, com câmeras lentas, aceleradas, pausas dramáticas e edição frenética. Uma prova do perfeccionismo do diretor é que não há figurantes em cena, todos são atores ou dublês em cena. Das 150 cenas que compõem os 117 minutos de filme, 130 tiveram alguma interferência digital.
“300” consolida um conceito que começa a ter a simpatia da indústria do cinema. Apesar de ser um épico, movimentando um elenco estelar, foi produzido a um custo de “apenas” 60 milhões de dólares, custo de uma comédia romântica qualquer. Isso se deve à utilização de cenários criados digitalmente, como já tinha sido feito em “Capitão Sky e o Mundo do Amanhã”, “King Kong” e boa parte da série Matrix.
Mas, se o filme agradou muita gente, também amealhou um exército de detratores, além do já citado presidente do Irã. As críticas mais pesadas vão para a imagem de Xerxes, vivido pelo nosso Santoro, careca, cheio de piercings, o tempo todo de tanga, e de sexualidade não muito bem definida. Os guerreiros gregos também lutam praticamente nus, o que seria pouco aconselhável num ambiente cheio de objetos cortantes e perfurantes (na verdade, eles usavam uma prática couraça).
O que precisa ficar claro para os espectadores é que não devem esperar um relato histórico, como um documentário de National Geographic. “300” é uma transposição para a telona de um cultuado gibi, que já é uma visão com muita liberdade poética sobre o fato histórico. Quem for ao cinema, porém, terá a oportunidade de ver um épico com uma apresentação totalmente diferente de tudo o que já foi mostrado até hoje. Assista e forme a sua própria opinião, lembrando que as culturas da época eram totalmente diferentes das nossas, de modo que não se deve julga-las baseados nos valores e moral de hoje.