Claquete – 09 de fevereiro de 2007
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Pensei que tinha voltado no tempo, com a estréia de “Rocky Balboa” nos cinemas. Mas, se não é o velho (e ótimo) “Rocky” de 1976, é a volta de um dos ícones dos anos 70 aos cinemas. Também estréia “Antônia”, de Tata Amaral, com os mesmos personagens da série da TV. Continuam em cartaz o drama de guerra “A Conquista da Honra” (veja em Filme da Semana), de Clint Eastwood, o drama “À Procura da Felicidade”, com Will Smith, a comédia nacional “A Grande Família – O Filme”, a divertida comédia “Uma Noite no Museu”, e o drama de ação “Diamante de Sangue”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, tem o suspense “Déjà Vu”, com Denzel Washington, “Babel”, com Brad Pitt e Cate Blachett e a animação “Dogão – Amigo Pra Cachorro”. No Moviecom, continuam em cartaz a surpreendente produção alemã “Perfume – A História de um Assassino”, a animação “O Mar Não Está Para Peixe” e as comédias nacionais “O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili” e “Xuxa Gêmeas”.
Estréia 1: “Antônia”
Vila Brasilândia, periferia de São Paulo. Preta (Negra Li), Barbarah (Leila Moreno), Mayah (Quelynah) e Lena (Cindy) são amigas desde a infância e sonham em viver da música. Elas deixam o trabalho de backing vocal de um conjunto de rap de homens para formar seu próprio conjunto, o qual batizam de Antônia. Descobertas pelo empresário Marcelo Diamante (Thaíde), elas começam a cantar rap, MPB, pop e soul em bares e festas de classe média. Mas, quando o sonho de fazer algo da vida parece tomar corpo, as viradas de um cotidiano marcado pela pobreza, pela violência e pelo machismo ameaçam o grupo. Separadas por um destino amargo, as quatro terão de lutar para juntar os pedaços do grupo e resgatar a alegria de cantar juntas. “Antônia” estréia nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom e na Sala 2 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.
Estréia 2: “Rocky Balboa”
A glória faz parte do passado para Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Dono de um restaurante em Filadélfia, Rocky passa as noites contando aos clientes histórias de sua época de lutador. Rocky Jr. (Milo Ventimiglia), seu filho, não dá muita atenção ao pai, preferindo cuidar de sua própria vida. Sua vida muda após uma simulação de computador colocar Mason Dixon (Antonio Tarver), o atual campeão mundial dos pesos pesados, enfrentando Rocky em seu auge. Dixon fez fama pela facilidade com a qual conseguiu o título, mas, como nunca encarou um oponente que realmente o desafiasse, é considerado por muita gente como um lutador muito técnico, mas, sem alma. A simulação faz com que o agente de Dixon resolva realizar a luta, oferecendo a Rocky uma nova chance de voltar aos ringues. “Rocky Balboa” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom e na Sala 6 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.
Novidades
“Os Infiltrados”, em DVD
“Rocky – Antologia”, em DVD
As gerações mais novas devem estar estranhando o barulho ao redor do filme “Rocky Balboa”. Para atualizar a garotada, nada melhor do que uma overdose de Rocky, com o box “Rocky – Antologia”, com os cinco filmes da série e mais um monte de material extra, incluindo um documentário sobre o filme que estréia esta semana. São 511 minutos de filmes, com formato de tela widescreen anamórfico e som remasterizado em Dolby Digital. Nas lojas e locadoras.
“A Casa Monstro”, em DVD
Filme da Semana: “A Conquista da Honra”
O preço da guerra
De todas as coisas estúpidas que o Homem já inventou, a Guerra, certamente, é a pior e mais cruel de todas. Esta semana, o presidente americano anunciou que pretende cortar programas sociais para aumentar as verbas militares, que já alcançam 600 bilhões de dólares anuais! Mas, tão ruim quanto fazer guerra é justifica-la para conseguir mais dinheiro para financia-la. Esse tema é mostrado em “A Conquista da Honra”, do diretor Clint Eastwood.
Em fevereiro de 1945, o mundo já estava farto da guerra, que entrava em seu sexto ano. A Itália capitulara e mudara de lado em 1943. A Alemanha resistia, sustentada pela loucura de seus dirigentes, só indo se render no início de maio. Mas, no Pacífico, a situação era diferente. Entrincheirados nos territórios ocupados, ou, em suas ilhas, os soldados japoneses lutavam até a morte antes de ceder qualquer espaço.
Essa era a situação de Iwo Jima, no dia 19 de fevereiro de 1945. Sabendo que a ilha era um ponto altamente estratégico, vital para uma invasão ao Japão, os comandantes japoneses prepararam o lugar para uma resistência infernal.
Aproveitando a geografia do lugar, repleto de rochas vulcânicas, os defensores da ilha perfuraram milhares de casamatas interligadas por túneis, onde posicionaram farto equipamento de guerra, indo de metralhadoras, morteiros, armas antitanques, antiaéreas e canhões navais, de longo alcance. Os 22 mil soldados japoneses foram instruídos com novas táticas defensivas, deixando os atacantes penetrar em seu território para, então, dizimá-los com um pesado fogo cruzado.
O desembarque, mostrado no filme, foi feito no extremo sul da ilha, dominado pelo monte Suribachi. Mesmo sob intenso fogo, os Aliados conseguiram desembarcar trinta mil soldados no primeiro dia. Quarenta mil novos homens chegariam, nos dias seguintes. Como o bombardeiro era ineficaz contra as casamatas, o ataque foi feito metro a metro, com granadas, lança-chamas e luta corporal. No dia 23 de fevereiro, o cume do monte foi alcançado.
Para celebrar a conquista, uma bandeira norte-americana é içada no topo do monte. Uma primeira bandeira, menor, foi levantada. Depois, resolveram colocar uma outra maior. A cena foi registrada pelo fotógrafo Joe Rosenthal, da Associated Press, e ficou conhecida como “Raising the Flag on Iwo Jima” (Subindo a bandeira em Iwo Jima), merecendo o cobiçado prêmio Pulitzer de jornalismo. Ao ver a foto, os homens de marketing do governo americano perceberam o apelo que teria junto ao público, resolvendo utiliza-la para a campanha de arrecadação de fundos junto à população civil.
Assim, começou a epopéia de três homens, John “Doc” Bradley, Ira Hayes e René Gagnon. Únicos sobreviventes do grupo que ergueu a bandeira (os outros três morreram nos dias seguintes), foram trazidos de volta aos Estados Unidos, classificados como heróis e obrigados a atuar como garotos-propaganda para a venda de bônus de guerra. Apesar da famosa foto simbolizar uma vitória em Iwo Jima, depois da famosa cena ainda transcorreriam mais trinta dias de combates encarniçados, até a conquista total da ilha.
A princípio aliviados, por estar em casa, longe da guerra e paparicados por todos, os rapazes submeteram-se às suas novas atribuições. Ira Hayes, um índio Pima, foi o primeiro a revoltar-se com a nova situação. Educado sob os rígidos princípios de honra de sua tribo, para ele era odioso passar-se por herói, quando a maioria dos seus companheiros morria no Pacífico Sul. Como queixou-se posteriormente, “como poderia me sentir herói, quando apenas cinco de meu pelotão de 45 homens conseguiram sobreviver, e quando apenas 27, dos 250 homens da companhia, conseguiram escapar da morte e dos ferimentos?”.
Enquanto percorriam o país, Bradley e Gagnon cumpriam seus papéis, mas, Ira refugiava-se na bebida, sempre farta, para os heróis. As inúmeras situações de confronto com os superiores levaram-no de volta ao campo de batalha, o que, de certa forma, foi um alívio para ele.
Aos poucos, à medida que a guerra acabava, a utilidade dos heróis de Iwo Jima também deixou de ser necessária. A adulação dos fãs, que faziam mil promessas aos rapazes, virou pó. Os homens que faziam guerra tinham outras prioridades e outros objetivos a cumprir. Se foi ruim para os três rapazes, foi muito pior para os sete mil americanos que morreram em Iwo Jima, ao lado de quase todos os defensores da ilha. Dos 22 mil soldados japoneses, apenas duzentos foram feitos prisioneiros.
“A Conquista da Honra” é mais que um filme de guerra, é um filme sobre a guerra, mostrada através da ótica de pessoas que acreditam cumprir o seu dever, arriscando suas vidas e matando outros seres humanos. Baseado no livro homônimo, escrito por James Bradley (filho de um dos soldados que levantaram a bandeira), o diretor Clint Eastwood, diferentemente de outros nomes de Hollywood, como Charlton Heston ou o falecido John Wayne, consegue mostrar, com uma visão crítica, a estupidez da guerra e dos homens que as promovem.
Mais impressionante ainda é ele ter conseguido mostrar os dois lados da batalha, tendo, além de “A Conquista da Honra”, dirigido um filme todo falado em japonês, mostrando o mesmo episódio sob a ótica dos defensores. Seria bom que estes filmes apenas retratassem um fato do passado, mas, os noticiários atuais parecem mostrar que a guerra continua sendo um bom negócio. Para alguns. Os outros, todos, só saem perdendo.