Claquete

Newton Ramalho – claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

Se você não é ruim da cabeça, nem doente do pé, mas, nem por isso, está a fim de correr atrás do trio elétrico, considere as sugestões da semana. De estréias, no cinema, tem “Jesus – A História do Nascimento”, de Catherine Hardwicke, a fantasia “O Labirinto do Fauno”, de Guillermo del Toro, e, a animação “O Segredo dos Animais”, da Nickelodeon. Nas continuações, vale conferir a divertida animação “Happy Feet – O Pinguim”, o policial “Os Infiltrados”, de Martin Scorsese, o drama “O Grande Truque”, e, o suspense “Efeito Borboleta 2”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, tem a comédia nacional “Fica Comigo Esta Noite”, e, a divertida animação “Deu a Louca na Chapeuzinho”. No Moviecom, o terror “Jogos Mortais 3”, a animação nacional “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’Roll”, com os personagens de Angeli, e, a comédia “Muito Gelo e Dois Dedos de Água” (esta, com preços promocionais).

Estréia 1: “Jesus – A História do Nascimento”

Maria (Keisha Castle-Hughes) é uma jovem camponesa da cidade de Nazaré. Um dia, ela recebe a visita do anjo Gabriel (Alexander Siddig), que anuncia que Deus a escolheu para ser mãe de seu filho. Casada com o carpinteiro José (Oscar Isaac), Maria segue os conselhos do anjo, e, viaja para a casa de Zacarias (Stanley Townsend) e Isabel, seus parentes, para escapar dos guardas do rei Herodes (Ciarán Hinds). Ao retornar a Nazaré, já com a gravidez avançada, Maria é rejeitada por sua família e por José. Porém, após ter um sonho com o anjo Gabriel, José aceita a situação da esposa. Obrigados a viajar devido ao censo, José e Maria partem para Belém, sob o risco de serem descobertos pelos guardas de Herodes, sendo, ainda, procurados pelos três Reis Magos. “Jesus – A História do Nascimento” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom, e, na Sala 6 do Cinemark. Censura livre. Cópias dubladas.

Estréia 2: “O Labirinto do Fauno”

Espanha, 1944. Oficialmente, a Guerra Civil já terminou, mas, um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas, a norte de Navarra. Ofelia (Ivana Baquero), de dez anos, muda-se para a região, com sua mãe, Carmen (Ariadna Gil). Lá, as espera seu novo padrasto, um oficial fascista, que luta para exterminar os guerrilheiros da localidade. Solitária, a menina logo descobre a amizade de Mercedes (Maribel Verdú), jovem cozinheira da casa, que serve de contato secreto com os rebeldes. Sob a rígida vigilância do padrasto, Ofélia refugia-se em um mundo de imaginação e sonho. A menina descobre um labirinto abandonado, próximo à casa, e, ao percorrê-lo, conhece um ser fantástico, que a guiará por uma jornada em busca da liberdade. A direção é de Guillermo del Toro. “O Labirinto do Fauno” estréia nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom, e, na Sala 3 do Cinemark. Para maiores de 16 anos.

Estréia 3: “O Segredo dos Animais”

O fazendeiro considera-se o responsável pela segurança de todos os animais. Mas, mal ele dá as costas, os animais ficam sobre duas patas, andam, conversam, assistem à TV e se divertem, pregando peças uns nos outros, principalmente Otis, o boi. Ele e seus melhores amigos, Pip, o rato, Fred, o furão, Pedro, o galo, e Porco, estão sempre dispostos a uma boa traquinagem. O pai de Otis, Ben, é o boi responsável pelo bem-estar dos animais. Ao contrário de seus pais, Otis não está preocupado em esconder dos humanos os talentos que os animais da fazenda possuem. E, enquanto o fazendeiro começa a desconfiar qual é o segredo dos animais, os terríveis coiotes começam a achar que podem invadir a fazenda. “O Segredo dos Animais” estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom, e, na Sala 1 do Cinemark. Censura livre. Cópias dubladas.

O adeus ao cafajeste

Morreu esta semana Jece Valadão, ator, produtor, diretor e roteirista, cuja biografia se confunde com a própria história do cinema brasileiro. Atuou em mais de 70 filmes, inclusive alguns marcos do cinema, como o famosíssimo “Rio 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos. A imagem que ficou associada ao ator foi a do machão cafajeste, em filmes como “Memórias de um Gigolô”, onde ele atuou ao lado de Cláudio Cavalcanti e Rossana Ghessa.

Inscrições abertas para I Mostra Cineclubista de Curtas Potiguares

O Cineclube Natal, em parceria com o Teatro de Cultura Popular (TCP), abre inscrições para a sua I Mostra Cineclubista de Curtas Potiguares. Os participantes poderão inscrever seus trabalhos gratuitamente até o dia 17 de dezembro. A ficha de inscrição, e, o regulamento, estão disponíveis no site www.cineclubenatal.blogspot.com . A inscrição preenchida e o curta-metragem devem ser entregues à Diretoria de Programação do Cineclube Natal, durante as sessões regulares da instituição. A mostra não é competitiva e podem participar vídeos com até 30 minutos de duração. A seleção ficará a cargo da direção do Cineclube Natal. Todos os diretores dos curtas-metragens exibidos receberão certificado de participação. O evento será realizado no TCP, em fevereiro de 2007.

Filme da Semana: “Duna”

Dunas ao vento

Um certo dia, um escritor, com muita imaginação, criou uma história extremamente rica, com inúmeros personagens, lugares estranhos, guerreiros corajosos, bruxas poderosas, e, uma saga que se estenderia por muitos anos. Não estou me referindo à obra de Tolkien, ou J. K. Rowlings, mas, à de um fantástico escritor chamado Frank Herbert. Se não tem a erudição de “O Senhor dos Anéis”, ou, o marketing de Harry Potter, a saga iniciada com o livro “Duna” não fica atrás, seja na complexidade da criação, ou, em prender a atenção do leitor. O livro inspirou um longa-metragem para o cinema, e, uma minissérie para a tv. Para quem não estiver a fim de se espremer no Carnatal, qualquer das três opções irá preencher o final de semana muito bem.

A saga iniciada com “Duna” foi a obra da vida de Herbert, que morreu antes de concluir o sétimo livro da série. Iniciada em 1965, quando ficção-científica era assunto exclusivo de nerds, “Duna” criou uma legião de fiéis aficionados, que cultivam, até hoje, a admiração pela obra.

A história inicia no ano 10.191, quando a Humanidade já se espalhou por boa parte do universo, tendo colonizado mundos a incríveis distâncias de nosso planeta natal, graças a poderosas naves de transporte que conseguem mover-se “sem sair do lugar”, utilizando dobras no espaço. Só quem consegue esta façanha são os Pilotos da Liga Espacial, misteriosos seres, outrora humanos, que alcançaram um estágio de evolução impensável, graças ao uso de uma substância especial, a melange. Embora se mantenham fiéis ao seu papel de transportadores, nada é feito contra a sua vontade, nem mesmo os desejos do imperador.

O universo humano tem um soberano, o Imperador Shaddam IV, que vive, com sua filha, a princesa Irulan, e, muitas legiões de assassinos Sardaukar, em Kaitain, na sede do Império. Apesar do título pomposo, a autoridade do imperador é pouco além de simbólica, já que, os dirigentes das Casas Nobres é que tem o poder real sobre os seus respectivos domínios, nos moldes do feudalismo medieval. As duas casas mais poderosas são a dos Atreides, no planeta Caladan, comandados pelo Duque Leto, e, a dos Harkonnen, de Giedi Prime, chefiados pelo malévolo Barão Vladimir.

Completando o quarto pilar do poder está a Irmandade Bene Gesserit, uma sociedade formada por mulheres, chamadas de bruxas, por possuírem poderes telepáticos e dominarem qualquer um, através do uso da Voz, a sua mais poderosa arma. Secretamente, as Bene Gesserit elaboram um plano milenar de seleção genética, para produzir o Kwisatz Haderach, que terá habilidades de presciência e acesso a toda sua memória genética, aquele que, segundo as profecias, seria o ser mais perfeito e poderoso do universo.

Unindo todos esses elementos está a melange, substância que prolonga a vida, amplia a consciência, ajuda o treinamento das Bene Gesserit, e, é vital para a Liga Espacial, que, sem a especiaria, não seria capaz de transpor o universo, transformando a Humanidade em um sem-número de mundos isolados. A melange, porém, só é encontrada em um único lugar no universo, o desértico planeta Arrakis, também chamado de Duna.

Receoso da crescente popularidade do Duque Leto, o Imperador, secretamente, trama um plano para destruí-lo, aproveitando-se de uma secular disputa entre os Atreides e os Harkonnen. Shaddam IV obriga o Barão Harkonnen a ceder Arrakis, então sob seu domínio, para os Atreides, em troca do viçoso planeta Caladan. Por trás disso está uma secreta associação com o Barão, para destruir a Casa dos Atreides.

A mudança no comando de Arrakis cria outro pretexto para um conflito entre os Harkonnens e os Atreides. Os Atreides sofrem um ataque devastador movido pelos Harkonnen, auxiliados por soldados Sardaukar, do Imperador, e, ajudados por um traidor dentro da própria Casa Atreides. O Duque Leto é assassinado, mas, Paul e sua mãe, Lady Jéssica, escapam para o interior do deserto. Com as habilidades Bene Gesserit de Jéssica, e, as habilidades de luta de Paul, eles se juntam a um bando nativo de Fremem, ferozes guerreiros do deserto, que vivem ocultos nas condições mais inóspitas que se possa imaginar. Eles são capazes, até mesmo, de cavalgar os gigantescos Vermes de Areia que dominam o planeta deserto.

Paul surge, então, como o Kwisatz Haderach, e, o conhecimento secreto de Jessica dos mitos religiosos dos Fremen plantado por uma missionária Bene Gesserit habilitam Paul a se tornar Muad’Dib, um líder político e religioso que une os milhões de Fremen em uma força militar incomparável, para libertar o planeta do jugo dos Harkonnen.

Curiosamente, ao contrário da maioria das fábulas de ficção-científica, não há máquinas ou computadores. Para os cálculos científicos e elaborações estratégicas, existiam os Mentats, homens com mentes excepcionalmente treinadas. É bem verdade que, em 1965, os computadores existentes fossem movidos (literalmente) a válvulas, totalmente fora da realidade das pessoas comuns. Mas, mais que isso, Herbert imaginou um universo onde o Homem é mais importante.

Como haviam sido desenvolvidos escudos de força, capazes de resistir até a raios laser, a maioria dos combates era feito no corpo-a-corpo, com o uso de armas brancas.

Como transportar este riquíssimo universo, descrito em mais de 600 páginas, só no primeiro volume, para as telas de cinema, numa sessão de pouco mais de duas horas? Bem, a primeira tentativa foi em 1983, com a direção do aclamado diretor David Lynch (de “Veludo Azul” e “Coração Selvagem”). Apesar do elenco estelar, com Max Von Sidow, Sean Young, Jürgen Prochnow, José Ferrer, e, até o popstar Sting, o filme não obteve muito sucesso. Ruben Ewald Filho chegou a classifica-lo como “cinqüenta milhões de dólares jogados fora”.

Na verdade, ao rever o filme em DVD, vê-se que Lynch tentou manter fidelidade ao livro, embora fosse difícil condensar tudo num tempo tão curto. Os efeitos especiais, na época inovadores, hoje parecem primários, principalmente quando se assiste a partir de uma mídia digital. Posteriormente, foi lançada uma versão estendida, com 50 minutos a mais, que Lynch renegou, recusando-se a ter o seu nome associado a ela.

Em 2000, uma rede de TV americana fez uma minissérie baseada no livro. Com uma duração de quase cinco horas, foi possível detalhar muito mais a história original, e, com os recursos de efeitos especiais muito mais aperfeiçoados, ficou muito mais palatável, para os padrões de exigência dos espectadores atuais. Se melhorou nesse aspecto, piorou um pouco no elenco, já que, o único nome conhecido, nessa versão, é o do ator William Hurt.

Todas as versões estão disponíveis em DVD, a original de Lynch, a versão estendida do filme de 1983, e, a minissérie. O filme de Lynch é o que tem a pior apresentação, com imagem em tela cheia, e, nenhum extra. Já a minissérie vem em edição dupla, com formato de tela widescreen anamórfico, som Dolby Digital, trailers de cinema e dois Making Of (sem legendas, infelizmente). Posteriormente, foi feita uma outra minissérie, correspondendo aos segundo e terceiro livros da série.

Além de “Duna”, Herbert escreveu “O Messias de Duna”, “Os Hereges de Duna”, “Os Filhos de Duna”, “O Imperador-Deus de Duna”, e, “As Herdeiras de Duna”.