Claquete – 29 de dezembro de 2006

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Desejando a todos um ótimo 2007, Claquete se despede, com a confiança do dever cumprido. Neste final de semana, nenhuma estréia, já que é difícil competir com as festividades de Ano Novo. Nas continuações, “Eragon”, mistura de “Star Wars” com “Senhor dos Anéis”, a comédia nacional “O Cavaleiro Didi e a Princesa Lili”, com Renato Aragão, “O Amor Não Tira Férias”, romance, com Cameron Diaz, Jude Law e Kate Winslet, “007 – Cassino Royale”, ação, com o novo James Bond, “Xuxa Gêmeas”, as animações “Por Água Abaixo” e “Happy Feet – O Pinguim”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, “O Ilusionista”, drama com tons de mistério.

Retrospectiva 2006

Chegamos, mais uma vez, ao término de um ano. Embora a vida seja contínua (“o trem da chegada é mesmo trem da partida…” já diz a música), é interessante que exista um momento para avaliar o que aconteceu, e, planejar o que fazer para frente. Tantas coisas aconteceram em 2006, no mundo, no Brasil, e, certamente, na vida de cada um de nós. No cinema, não poderia ser diferente.

Começamos 2006 ainda abalados pela tragédia asiática do tsunami, que matou milhares de pessoas. Nos cinemas, estava em cartaz a última loucura de Peter Jackson, a refilmagem de “King Kong”. Este seria um dos blockbusters que iria imperar durante o ano, embora nem todos tenham conseguido o retorno dos milhões de dólares investidos na produção.

Entre os mais badalados, estiveram “Munique”, drama do diretor Steven Spielberg sobre a reação dos israelenses ao massacre dos atletas na Olimpíada de 1972; “O Segredo de Brokeback Mountain”, de Ang Lee, que desafiou o conservadorismo, ao mostrar o romance homossexual entre dois caubóis americanos; “Missão Impossível III”, onde Tom Cruise encarnou, mais uma vez, o agente secreto Ethan Hunt; “Código da Vinci”, filmagem do polêmico livro de Dan Brown; “X-Men: O Confronto Final” (quando estes três filmes estavam em cartaz, as 14 salas de Natal estavam dedicadas a eles). No segundo semestre, foi a vez de “Superman – O Retorno”, estrelado por um quase clone de Christopher Reeve; “Piratas do Caribe – O Baú da Morte”, e, para fechar o ano, “007 – Cassino Royale”, com o ator Daniel Craig assumindo a pele de James Bond.

Outros filmes, com orçamentos não tão espetaculares, conseguiram alcançar o público. Alguns, como “O Diabo Veste Prada”, já vinha precedido pela boa aceitação do livro de Lauren Weisberger, e, com a atuação espetacular de Meryl Streep, apenas consolidou sua aura de campeão. Outros, porém, surpreenderam, como as comédias “Click”, com Adam Sandler, e, a nacional “Se Eu Fosse Você”, de Daniel Filho, que mantiveram-se com longas filas durante semanas a fio.

Entre os filmes medianos, que fizeram sucesso, podemos citar “O Plano Perfeito”, “Os Infiltrados”, de Martin Scorcese; “O Grande Truque” de Christopher Nolan; “Vôo United 93”; “Orgulho e Preconceito”; “Johnny & June”, sobre o cantor Johnny Cash; “Match Point – Ponto Final”, de Woody Allen; “V de Vingança”; “Anjos da Noite – A Evolução”; “O Plano Perfeito”; “A Casa do Lago”; “Xeque-Mate” e “Volver”, de Almodóvar.

Alguns bons filmes foram solenemente esquecidos, pelo público e exibidores. O divertido “Pequena Miss Sunshine”, sucesso do Festival de Sundance e candidato ao Oscar de Roteiro Original, passou apenas duas semanas em cartaz, em Natal. Foi o caso dos ótimos “Boa Noite e Boa Sorte”, de George Clooney, “Obrigado Por Fumar”, de Jason Reitman, “Anjos do Sol”, campeão do Festival de Gramado, e, o excelente documentário “Vinícius”.

O cinema brasileiro marcou presença em 2006, e, além dos já citados “Se Eu Fosse Você”, “Anjos do Sol” e “Vinícius”, teve, também, “Zuzu Angel”; “Mulheres do Brasil”; “Irma Vap – O Retorno”; “Trair e Coçar, é só Começar”; “Muito Gelo e Dois Dedos D’Água”; “Fica Comigo Esta Noite”; “Gatão de Meia Idade”; “Seus Problemas Acabaram”, da trupe Casseta & Planeta; “O Maior Amor do Mundo”, além das tradicionais produções de Xuxa e Renato Aragão. Falando-se em cinema nacional, vale registrar mais uma edição do FESTNATAL, entre trancos e barrancos, sujeito a críticas e trovoadas.

Um gênero que faz sucesso entre o público adolescente, o de terror e suspense, teve muitas produções disponíveis, sendo o mais destacado “Jogos Mortais 3”. Observou-se uma maior presença de produções chinesas, tailandesas e japonesas, fugindo ao padrão “banho de sangue”, comum nas produções de Hollywood. Podemos citar “Os Espíritos: A Morte Está ao Seu Lado”, da Tailândia; a chinesa “Assombração”; “Almas Reencarnadas” e “O Grito 2”, do diretor japonês Takashi Shimizu. E, pela última vez, “O Labirinto do Fauno” não é terror ou suspense, mas, realismo fantástico.

As refilmagens e continuações não fizeram muito sucesso, o que mostra que o público cansa da mesmice sem inteligência. “A Pantera Cor de Rosa”, com Steve Martin; “A Profecia”; “Poseidon”; “Premonição 3”; “Efeito Borboleta 2” não conseguiram repetir o sucesso de seus predecessores.

Entre os infantis, as animações imperaram. De longe, “A Era do Gelo 2”, dirigida pela brasileiro Carlos Saldanha, foi a de melhor performance; o sucesso “Carros”, da Pixar, comprada pela Disney; “Os Sem-Floresta”; “A Casa-Monstro”; “Lucas – Um Intruso no Formigueiro”; “O Bicho Vai Pegar”, primeira animação da Sony; “Deu a Louca na Chapeuzinho”; “Happy Feet – O Pingüim” (que conseguiu roubar de “Cassino Royale” o primeiro lugar das bilheterias americanas); “O Segredo dos Animais” e “Por Água Abaixo”. Entre os injustiçados, está a animação alemã “A Terra Encantada de Gaya”, que também ficou pouquíssimo tempo em cartaz.

Um evento significativo para Natal foi a abertura das salas da rede Cinemark, já que a praça começara o ano órfã, com o fechamento dos cinemas do Natal Shopping. A característica de filmes idênticos, em ambas as redes, foi se modificando ao longo do ano, com lançamentos diferentes para a rede Moviecom e Cinemark. Esta última vem promovendo exibições de curtas-metragens, com entrada franca, enquanto que a rede Moviecom tem sido hospedeira de mostras estrangeiras, além do tradicional FESTNATAL.

Merece atenção o Cineclube Natal, um grupo de abnegados cinéfilos, que conseguiram promover dezenas de exibições de títulos fora do circuito, com discussões e trocas de idéias sobre cinema e literatura. Palmas para eles.

Para 2007, o que se pode esperar? A esperada televisão digital só deverá estrear no final do próximo ano, e, mesmo assim, no Rio e em São Paulo. O cinema tradicional tem sofrido a redução do público, principalmente pela questão do preço. Seus antigos concorrentes, as locadoras, agora são vítimas dos piratas, que vendem DVDs a preços menores do que os de uma locação. Enquanto o mercado de conteúdo luta pela sobrevivência, nunca se comprou televisores e DVD-players a preços tão reduzidos. As novas gerações tecnológicas, do plasma e cristal líquido, podem ser adquiridas por menos da metade do preço de um ano atrás, com a facilidade do parcelamento sem juros.

De resto, agradeço a atenção e o carinho dos leitores e do Jornal de Hoje, permitindo que, pelo quarto ano seguido, esta coluna possa cumprir a sua missão, de informar, sugerir, criticar, mas, principalmente, manter acesa a chama do amor à Sétima Arte. Feliz Ano Novo para todos.