Claquete
Newton Ramalho – claquete@interjato.com.br
O que está em cartaz
Novembro vai chegando ao fim, melancolicamente, sem novidades nos cinemas, a não ser a animação “Happy Feet – O Pinguim”, que conseguiu a proeza de esnobar o novo 007, no mercado americano. A outra estréia, só no Moviecom, é a animação nacional “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’Roll”, com os personagens de Angeli. Nas continuações, o drama da Primeira Guerra Mundial, “Flyboys” (veja em Filme da Semana), a comédia “Pequena Miss Sunshine”, o policial “Os Infiltrados”, de Martin Scorsese, “Terror em Silent Hill”, o ótimo “O Grande Truque”, misto de drama e suspense, do diretor Christopher Nolan, o suspense “Efeito Borboleta 2”, o terror “Jogos Mortais 3”, e, a divertida animação “Deu a Louca na Chapeuzinho”. Nas programações exclusivas, no Cinemark, a comédia “Fica Comigo Esta Noite”, e, no Moviecom, a comédia nacional “Muito Gelo e Dois Dedos de Água” (esta, com preços promocionais).
Estréia 1: “Happy Feet – O Pingüim”
A vida do pingüim Imperador se resume basicamente a coisa: ter uma canção do coração. A partir desta canção é que o pingüim será respeitado entre os de sua espécie, e, conquistará o amor de uma fêmea. Todo pingüim já nasce com sua canção do coração, exceto um: Mano. Diferente de todos os pingüins, Mano não sabe cantar, e, sim, sapatear, para o espanto de todos, inclusive de seu pai, Memphis, que diz que “isso não é coisa de pingüim”. Apaixonado por Glória, mas, sem ter como conquistá-la, uma vez que os pingüins fazem isso através da música, Mano se afasta de seu bando, e, acaba conhecendo outra espécie de pingüins, os Adelie. Entre eles, Mano é idolatrado, por seus passos de dança maneiros, e, logo forma um forte laço de amizade com alguns pingüins, em especial Ramon. Mas, Mano não desistiu de viver entre os seus, e, tentará mostrar que a dança pode mover montanhas. “Happy Feet – O Pingüim” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom, e, nas Salas 2 e 6 do Cinemark. Censura livre. Cópias dubladas.
Estréia 2: “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock´n´Roll”
Em uma festa, na virada para 1972, na casa de Cosmo, os jovens Wood, Stock, Lady Jane, Rê Bordosa, Rampal, Nanico e Meiaoito, vivem intensamente o barato do flower power, ao explodir dos fogos de Ano Novo. Trinta anos se passam, e, nossos heróis, agora, carecas e barrigudos, enfrentam as dificuldades de um mundo cada vez mais individual e consumista. Família, filhos, trabalho, contas a pagar e solidão, são conceitos que não combinam com o universo inconseqüente desses “bichos-grilos”, perdidos no tempo. O jeito é dar ouvidos à voz sábia de Raulzito, e, ressuscitar a velha banda de rock’n’roll. Animação nacional, baseada nos personagens do cartunista Angeli, com as vozes de Rita Lee, Sepé Tiaraju, Zé Vítor Castiel, Felipe Monaco e Tom Zé. “Wood & Stock – Sexo, Orégano e Rock’n’Roll” estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
“Velozes e Furiosos – Desafio em Tóquio”, em DVD
Sean Boswell (Lucas Black) é um adolescente superficial e infeliz, que usa as corridas de rua como válvula de escape. Após bater com o carro, e, para evitar a prisão, Sean é enviado para Tóquio, par morar com o pai. Em sua nova cidade, Sean fica inteiramente deslocado, até conhecer Twinkie (Bow Wow), que lhe apresenta as corridas de drift, uma mistura de derrapagem e velocidade. Sean logo se empolga com a novidade, o que faz com que se envolva em novas confusões. O disco traz formato de tela widescreen e som Dolby Digital 5.1. Os extras só deverão vir na edição definitiva.
“O Enigma de Andrômeda”, em DVD
“O Enigma de Andrômeda”, um dos filmes mais intrigantes de ficção-científica dos anos 70, finalmente, foi lançado em DVD. O filme foi escrito e dirigido por Michael Crichton, o autor de “Jurassic Park”. Quando um satélite espacial cai, em uma pequena cidade do Oeste americano, uma misteriosa bactéria mata todos os habitantes, à exceção de um bebê, e, um velho bêbado. Agora, um grupo de cientistas precisa correr contra o tempo, para evitar o extermínio de toda a Humanidade. Nas locadoras.
“O Beijo da Mulher-Aranha” no Projeto Cinema e Literatura
O Cineclube Natal e a Livraria Bortolai exibirão “O Beijo da Mulher-Aranha”, de Hector Babenco, no Projeto “Cinema e Literatura”. Dois presos, um por motivos políticos e outro por comportamento imoral, dividem a mesma cela, e, com o passar do tempo, aprendem a respeitar um ao outro, e, descobrem uma forma de enfrentar a opressão da cadeia. Com Raul Julia, William Hurt e Sônia Braga. Hurt ganhou os prêmios de Cannes e o Oscar de Melhor Ator, por este filme. A exibição começa às 18h, no auditório da própria livraria, na Avenida Afonso Pena, 805, Tirol. Ao término da sessão haverá debate com a platéia. O acesso é gratuito. Para maiores de 16 anos.
Adeus a Altman e Noiret
Esta semana foi muito ruim para o cinema mundial. Além da morte do diretor Robert Altman, autor de “Short Cuts – Cenas da Vida”, e, da genial comédia “M*A*S*H*”, o mundo perdeu, ontem, o ator francês Philippe Noiret. Dono de uma carreira invejável, com mais de 150 filmes, Noiret alcançou fama mundial com duas belíssimas produções, “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore, e, “O Carteiro e o Poeta”, onde interpretava Pablo Neruda.
Filme da Semana: “Flyboys”
Batismo de fogo
Embora existam mais de quinhentos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, não há muitas produções sobre o conflito de 1914 a 1918, que, embora numa escala menor, foi mais sangrento e fratricida, mudando fortemente o balanço das forças políticas mundiais. Uma pequena parte desta história, ligada ao uso do avião como arma militar, é apresentada no filme “Flyboys”, atualmente em cartaz nos nossos cinemas.
No final do século 19, o mundo passava por grandes transformações. A incipiente indústria do petróleo encontrara uma utilização nobre, como combustível para veículos, o que revolucionou a indústria de transportes, até então, dependente de navios à vela e carvão, trens, e, cavalos. Com a industrialização maciça, a necessidade de matérias-primas, e, a disputa por mercados, acirrou o imperialismo das poderosas nações européias.
A Inglaterra dominava boa parte do mundo, seguida por outras nações, como a França, Bélgica, e, até mesmo a Rússia, nos estertores do regime tzarista. A Alemanha, formada por antigos estados independentes, fora unificada em 1871, surgindo como uma nova força, não apenas no âmbito econômico, mas, também, militar. A corrida armamentista levou os países a adotar o serviço militar obrigatório, criar novas armas, e, produzir armamento e munição em quantidades cada vez maiores. Ironicamente, era denominado “a paz armada”.
Cientes do poderio dos adversários, os jogadores se uniram em alianças, de modo que, em 1907, a Europa já se encontrava dividida em dois blocos político-militares: a Tríplice Aliança, com a Alemanha, Itália e Áustria-Hungria, e a Tríplice Entente, com a Inglaterra, França e Rússia. Nesse ambiente tenso, no dia 28 de junho de 1914, em Sarajevo, capital da Bósnia, o herdeiro do trono austríaco, Francisco Ferdinando, e, sua esposa, foram assassinados, a tiros, por um estudante da Bósnia. A Áustria declarou guerra a Sérvia, o que provocou a participação dos respectivos aliados, dando início à Primeira Guerra Mundial, duraria quatro anos, com a morte de mais de nove milhões de soldados.
Na maior parte do conflito, os combates foram marcados pela guerra de trincheiras, onde os exércitos defendiam suas posições utilizando-se de uma extensa rede de trincheiras que eles próprios cavavam. Novas armas, como o canhão de tiro rápido, o gás venenoso, o lança-chamas, armas automáticas e o submarino, faziam um número crescente de vítimas. Entre as novidades do conflito, foi utilizado o avião, que mal completara dez anos de existência.
Quando Santos Dumont fez o primeiro vôo num veículo mais pesado do que o ar, em 23 de outubro de 1906, certamente sonhou, para o seu invento, uma utilização nobre. Contudo, devido ao ambiente da época, sua invenção, que sempre deixou como domínio público, foi apropriada pelos militares para uso bélico.
Inicialmente, os aviões eram utilizados apenas para vôos de reconhecimento e verificação de movimentação de tropas. Mas, à medida que o conflito avançava, foi sendo aperfeiçoado para combate aéreo, e, para lançamento de bombas.
O filme “Flyboys” ilustra bem esse lado do conflito. Enquanto as tropas se arrastavam pelo lamaçal das trincheiras, as esquadrilhas de aviões, pilotadas por jovens pilotos de diversos países, travava batalhas nos céus da França, num conflito diferenciado, com regras próprias.
Enquanto o pau quebrava na Europa, os Estados Unidos mantinham-se fora do conflito, em parte por considerar a guerra um problema regional europeu, e, em parte, pela própria alienação do eleitor americano. Muitos jovens idealistas, entretanto, participaram do conflito, juntando-se ao exército canadense, atuando como motoristas voluntários de ambulância, ou, integrantes da Legião Estrangeira da França. As motivações eram as mais diversas, como fica bem caracterizado no filme.
Blaine Rawlings (James Franco), é um jovem texano, que foi expulso do rancho de sua família, e, que idealiza uma vida de herói, pilotando aviões. Ele se une a Higgins (Christien Anholt), um recruta da Legião Estrangeira, William Jensen (Philip Winchester), para seguir a tradição de heroísmo da família, Briggs Lowry (Tyler Labine), que se alistou devido à pressão do pai, Eddie Beagle (David Ellison), que deseja fugir de seu passado, e, um boxeador negro, Eugene Skinner (Abdul Salis), que deseja defender a França, que permitiu que se tornasse campeão.
Os jovens vão para um campo de treinamento de pilotos, onde, sob o comando do capitão Georges Thenault (Jean Reno), são submetidos a um rigoroso treinamento, de forma que eles possam integrar a Esquadrilha Lafayette, o primeiro esquadrão de pilotos americanos, liderados por Reed Cassidy (Martin Henderson), um piloto de guerra veterano. É mostrado o treinamento com maquetes de madeira, e, a explicação do porquê do famoso cachecol. Entre os equipamentos distribuídos, um revolver, para o caso do avião pegar fogo, e, um martelinho de madeira para quando a metralhadora engalhasse.
O batismo de fogo é cruel, quando se defrontam com experientes pilotos alemães, principalmente um que pilota um avião todo negro, conhecido como “Falcão Negro”. Este quebra o código de honra dos pilotos, quando mata um americano que tinha conseguido pousar, após ser abatido. Na vida real, até mesmo o lendário Barão Vermelho, o barão Manfred Albrecht von Richthofen, que abateu mais de oitenta aviões ingleses e franceses, recebeu funeral com honras militares, prestado por seus inimigos.
O filme mostra o amadurecimento dos pilotos ao longo do conflito, com seus dramas pessoais, e, a reação que os acontecimentos causavam, em cada um. No final, é mencionado destino de cada um dos sobreviventes, inclusive, quando mostram uma foto real dos participantes do esquadrão. Ao todo, 265 americanos serviram na esquadrilha, dos quais, 51 foram mortos em combate. Um piloto negro, Eugene Bullard, realmente existiu, embora, como seja dito no filme, não foi reconhecido por seu próprio país, ao entrar no conflito.
O filme é repleto de belas cenas de combates aéreos, onde fica difícil perceber onde termina a ação real e inicia a computação gráfica. Para os caçadores de curiosidades, a brasileira Anna Walker, dona de uma empresa de acrobacia aérea em Londres, participa de várias cenas de combates aéreos.
À exceção de Jean Reno, totalmente subtilizado, não há nomes conhecidos no elenco. Contudo, a direção segura do francês Jean Pierre Jeunet (conhecido no Brasil por “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”) certamente mantém o ritmo e a atenção do espectador até o final.
No ano em que comemoramos os cem anos do vôo do Pai da Aviação (sorry, irmãos Wright), certamente é um bom filme para assistir, e, refletir um pouco sobre os usos para os quais os homens destinam as idéias mais brilhantes. E, para os que quiserem ver outros filmes sobre a Primeira Guerra Mundial, sugiro “Nada de Novo no Front”, de Lewis Milestone, “Galipoli”, de Peter Weir, e, “Glória Feita de Sangue”, de Kubrick.