Claquete – 29/09/2006

Newton Ramalho – claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

“Grandes poderes exigem grandes responsabilidades”, diz a filosofia do Homem-Aranha. A dois dias das eleições, esse chavão nunca foi tão verdadeiro. E, enquanto a hora da urna não chega, vamos conferir as estréias. De novo, temos o romance “A Casa do Lago”, com Keanu Reeves e Sandra Bullock, o drama “As Torres Gêmeas”, com Nicolas Cage, o terror “Maldição” (os dois últimos apenas no Cinemark), e, a comédia “Minha Super Ex-Namorada”, com Uma Thurman (só no Moviecom). Nas continuações, “O Pequenino”, comédia, com os irmãos Wayans, os dramas “O Diabo Veste Prada”, com Meryl Streep e Anne Hathaway, e, “Obrigado Por Fumar” (só no Moviecom), o policial “Xeque-Mate”, com Bruce Willis, Morgan Freeman e Josh Hartnett, “O Maior Amor do Mundo”, drama, com José Wilker, as animações “Lucas, um Intruso no Formigueiro” e “A Casa-Monstro”, e, as comédias “Seus Problemas Acabaram”, com a trupe do Casseta e Planeta, “Trair e Coçar, é só Começar”, com Adriana Esteves e grande elenco, e, “Click”, com Adam Sandler e Kate Beckinsale.

Estréia 1: “A Casa do Lago”

Kate Forster (Sandra Bullock) é uma médica solitária, que morava em uma casa à beira de um lago. Atualmente, esta casa é ocupada por Alex Wyler (Keanu Reeves), um arquiteto frustrado. À medida que Kate e Alex se correspondem, eles confirmam que, apesar de isso ser inacreditável, estão vivendo em anos diferentes. Unidos por este estranho fato, a cada semana se abrem mais um com o outro – dividem segredos, dúvidas e sonhos, e acabam se apaixonando. Determinados a superar a distância que os separa, e, finalmente, desvendar o mistério por trás dessa relação extraordinária, desafiam o destino, marcando um encontro. Mas, ao tentarem unir seus mundos distintos, podem correr o risco de se perderem para sempre. “A Casa do Lago” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom, e, na Sala 7 do Cinemark. Censura livre.

Estréia 2: “As Torres Gêmeas”

Ainda traumatizados pelo ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, os americanos são avessos a filmes sobre o tema. Por isso, o diretor Oliver Stone teve de amadurecer bastante o projeto de “As Torres Gêmeas”, que mostra o ataque sob a ótica de Will Jimeno (Michael Pena), e, do sargento John McLoughlin (Nicolas Cage), integrantes do Departamento da Polícia Portuária. Os dois ficaram soterrados entre os escombros do World Trade Center, durante doze horas, só sobrevivendo graças aos esforços das equipes de salvamento. “As Torres Gêmeas” estréia, nesta sexta-feira, na Sala 6 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

Estréia 3: “Maldição”

Red River, Tennessee. Entre os anos 1818 e 1820 a família Bell foi visitada regularmente por uma presença desconhecida. No início eram apenas pequenos barulhos pela fazenda em que viviam, e, a visão de um estranho lobo negro de olhos amarelos. Logo, este ser manteve contato físico com os integrantes da família, trazendo a eles sofrimento físico e psicológico. Aos poucos, os ataques foram ganhando cada vez mais intensidade, com uma predileção especial pela caçula da família. Com Donald Sutherland e Sissy Spacek “Maldição” estréia, nesta sexta-feira, na Sala 1 do Cinemark. Para maiores de 16 anos.

Estréia 4: “Minha Super Ex-namorada”

Jenny Johnson (Uma Thurman) é uma mulher aparentemente normal, mas, que possui superpoderes, usando o nome G-Girl. Ela começa a namorar com Matt Saunders (Luke Wilson), que, inicialmente, não sabe de sua dupla identidade. Após saber que Jenny é também a G-Girl, Matt acredita que é o homem mais sortudo do mundo, mas, as atividades da namorada como super-heroína sempre atrapalham seus encontros. Ele decide, então, acabar o namoro, mas, logo descobre que uma ex-namorada vingativa e com superpoderes pode ser bastante perigosa. “Minha Super Ex-namorada” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

1ª Mostra de Curtas Digitais do Globo Online

Atenção, cineastas de plantão! O site O Globo Online, em comemoração aos dez anos de existência, está promovendo uma mostra de curtas digitais sobre o tema “DEZ”, com vídeos com até três minutos de duração. Qualquer gênero vale, ficção, documentário, videoarte, etc.. Para participar, o candidato deve baixar a ficha de inscrição do site oglobo.globo.com/cultura/mostra10, e, envia-la, preenchida, junto com o vídeo, em DVD ou mini-dv, para a redação de O Globo Online, até 18 de outubro. Regulamento e instruções no site.

“Testemunha de Acusação” no projeto Cinema e Literatura

O Cineclube Natal, em parceria com a Livraria Bortolai, apresenta neste sábado, dia 30, mais uma edição do Projeto “Cinema e Literatura”. Em cartaz, o clássico de suspense “Testemunha de Acusação”, do diretor Billy Wilder, adaptação da peça homônima de Agatha Christie. A trama começa quando um advogado (Charles Laughton) aceita, contra determinação médica, defender o jovem Leonard Vale (Tyrone Power) da acusação de assassinato de uma viúva rica. A programação começa às 19h, no auditório da livraria, na Avenida Afonso Pena, 805, Tirol. Ao término da sessão haverá debate com a platéia. O acesso é gratuito. Para maiores de 14 anos.

Filmes da Semana: “O Diabo Veste Prada” e “Obrigado Por Fumar”

Valores, escolhas, e, resultados

Nas últimas semanas, o natalense tem sido brindado com algumas estréias interessantes, seja pelo conteúdo cinematográfico, seja pelas discussões que suscitam. Os candidatos da semana são “O Diabo Veste Prada” e “Obrigado Por Fumar”. Meus leitores, certamente, hão de perguntar como consigo sempre achar conexão entre filmes tão díspares. Não há segredo, caros amigos, um filme é um universo tão rico, que não é difícil encontrar uma ótica adequada ao que se quer falar.

“O Diabo Veste Prada” consegue quebrar a máxima de que “o livro era melhor”. Embora siga, com certa fidelidade, o livro homônimo de Lauren Weisberger, foram tomadas algumas liberdades poéticas que não comprometem o curso da história, e, deixam o filme fluir num ritmo mais interessante. Baseada nas experiências da autora, o livro e o filme contam as aventuras e desventuras de Andrea Sachs (Anne Hathaway), uma jovem aspirante a jornalista, que consegue emprego na Runuway Magazine, a mais importante revista de moda de Nova York.

Sua vida, então, vira um verdadeiro calvário, sob os calcanhares impiedosos de Miranda Priestly (Meryl Streep, sempre roubando a cena), principal editora da revista. A personagem de Meryl Streep é inspirada na famosa editora da revista Vogue americana, Anna Wintour. Laura Weisberger, autora do livro “O Diabo Veste Prada”, trabalhou como assistente de Anna, na revista. Quando soube que seria produzido um filme sobre o livro, Anna Wintour começou uma campanha para abafar a produção. De acordo com a revista americana Radar, ela pediu que nenhum estilista participasse do longa-metragem. A editora teria dado a entender que eles entrariam na “geladeira” de sua revista.

Além da chefe diabólica, Andrea também é motivo de piadas para o resto da equipe, cheio de pessoas glamurosas, mas, vazias (“mais uma diarréia, e, estarei no peso ideal”, diz Emily Blunt, na voz de sua personagem). A única ajuda vem de Nigel (Stanley Tucci), que, fazendo às vezes de fada-madrinha, consegue extrair o cisne do patinho feio, com a ajuda de vestidos e sapatos caríssimos, e, banhos de salão, é claro.

O curioso é que, o sucesso de Andrea, à medida que vai superando as barreiras, faz com que ela se afaste da família, dos amigos, e, até mesmo do seu namorado Nate (Adrian Garnier). O ápice da carreira de Andrea chega com a obrigação de comunicar à colega Emily que ela, Andrea, irá substitui-la na Semana da Moda em Paris, evento com o qual a outra sonhara a vida toda. É quando Andrea tem que decidir sobre qual é o seu verdadeiro objetivo na vida.

Enquanto “O Diabo Veste Prada” fala de uma carreira em ascensão, “Obrigado Por Fumar” traz o personagem principal no auge do sucesso. Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o vice-presidente de uma organização financiada pela indústria de cigarros, e, conseqüentemente, o seu principal porta-voz. Extremamente habilidoso com a televisão, ele consegue reverter situações aparentemente desfavoráveis, principalmente na televisão, sempre desmontando os argumentos dos críticos da indústria do fumo.

O grande desafio, agora, é o de um senador oportunista Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar rótulos de veneno nas embalagens de cigarros. Nick embarca numa ofensiva de relações públicas, manipulando informações e diminuindo os riscos do uso do cigarro em programas de entrevistas de TV e buscando a ajuda de um superagente de Hollywood (Rob Lowe) para promover o fumo nos filmes. Dois fatores novos podem desestabilizar o que parecia ser uma carreira brilhante. A primeira é Heather Holloway (Katie Holmes), uma jornalista oportunista, que mantém um caso amoroso com Nick para obter informações privilegiadas. O outro é o seu próprio filho, Joey (Cameron Bright), que fica cada vez mais encantado com o trabalho do pai.

Num ritmo de sátira corrosiva, o filme expõe a manipulação das informações para a obtenção dos fins desejados, não importando qual seja o lado, ou, os interesses envolvidos. Os pontos altos do filme são as reuniões dos “mercadores da morte”, os porta-vozes das indústrias de cigarros, bebidas e armamentos, o ataque terrorista a Nick, e, obviamente, os embates verbais, seja com o senador Finistirre, seja com Lorne Lutch (Sam Elliot), o ex-garoto propaganda da Marlboro, hoje com câncer de pulmão.

E então, caro Newton, dirão os meus pacientes leitores, onde está o ponto em comum dos dois filmes? O ponto de interseção, meus caros, está na tomada de decisão dos personagens principais, sobre o que é o seu real objetivo de vida. Dúvidas? Vejamos.

A jovem Andrea sonhava com a prosaica carreira de jornalista (pobre garota), e, tem que enfrentar um mundo repleto de falsidades, aparências e ilusões, mas, onde rola muito, muito dinheiro. Ela foi à luta, na velha fábula da Gata Borralheira, vira uma bela princesa, com a possibilidade de fincar o pé no mundo da fama sem perder o sapatinho de cristal. Só quando ela percebe o quanto estava ficando parecida com aquela que mais criticava, é que toma consciência de que o caminho que estava seguindo era muito diverso do que pretendia, se não, pelo que fazia, mas, principalmente, por seguir uma ética e valores que nada tinham a ver com os seus.

Nick não tinha ilusões sobre o peixe que vendia. Ele tinha plena consciência de que defendia uma indústria que causava um mal imenso, e, apenas seguia fazendo o seu trabalho – ótimo, por sinal – para manter status, dinheiro e poder. Quando a sua carreira sofreu uma reviravolta, foi que percebeu que tinha que separar a suas habilidades pessoais dos produtos que vendia. Ele sabia o alcance da sua capacidade de comunicação, e, os benefícios e malefícios que isso podia trazer, mas, decidiu por continuar fazendo o que melhor sabia fazer.

Os dois filmes tratam de valores, pessoais, sociais e empresariais, e, da capacidade de decisão pessoal, para alcançá-los. É muito fácil se dizer “não posso fazer nada para mudar isso”, “se eu não fizer, outro vem e faz”, e, continuar agindo de uma forma antiética, danosa, ou, desonesta. O que diferencia um ser humano de valor de um outro vivente é, exatamente, a capacidade de decidir o que quer ser quando crescer, e, encarar os desafios e sacrifícios decorrentes da decisão.

Considerando que estamos a dois dias de uma eleição para os mais importantes cargos deste país, que tal começarmos a pensar nestes termos? Boas escolhas!