Claquete – 04/08/2006

Newton Ramalho – claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

Com a garotada de volta às suas ocupações, começam a chegar filmes mais variados. Nas estréias da semana, de longe, ninguém deve deixar de conferir “Zuzu Angel”, com Patrícia Pillar e Daniel de Oliveira, baseado em personagens reais, vítimas da ditadura militar. Também estréiam “O Sentinela”, ação, com Michael Douglas, Kim Basinger e Kiefer Sutherland, e, “Assombração, produção chinesa de suspense. Nas continuações, “Bandidas”, faroeste puxado para comédia, estrelado pelas belas latinas Salma Hayek e Penélope Cruz, “Sorte no Amor”, comédia romântica estrelada por Lindsay Lohan e Chris Pine (ambos no Moviecom), a aventura “Piratas do Caribe – O Baú da Morte”, com Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley, “Superman – O Retorno”, as animações “Os Sem-Floresta”, a mais recente produção da Dreamworks, “Carros”, da Pixar, e, o drama “Separados Pelo Casamento”, com Jennifer Anniston.

Estréia 1: “Zuzu Angel

Brasil, anos 60. A ditadura militar faz o país mergulhar em um dos momentos mais negros de sua história. Alheia a tudo isto, Zuzu Angel (Patrícia Pillar), uma estilista de modas, fica cada vez mais famosa no Brasil, e, no exterior. O desfile da sua coleção, em Nova York, consolidou sua carreira, que já estava em ascensão. Paralelamente, seu filho, Stuart (Daniel de Oliveira), ingressa na luta armada, combatendo os militares, no poder, após o Golpe de 64. Por conta disso, as diferenças ideológicas entre mãe e filho eram profundas. Ela, empresária, ele, lutando pela revolução socialista, ao lado de Sônia (Leandra Leal), sua mulher, que partilhava das mesmas idéias. Uma noite, Zuzu recebe uma ligação, dizendo que “Paulo caiu”, ou seja, Stuart tinha sido preso. Os militares negam o fato, e, Zuzu chega a visitar uma prisão militar, mas, só viu celas bem arrumadas, chegando à conclusão de que aquilo era uma encenação, orquestrada pela ditadura. Pouco tempo depois, ela recebe uma carta dizendo que Stuart havia sido torturado até a morte, nas dependências da Aeronáutica. Ela, então, inicia uma batalha que se mostraria infinda, localizar o corpo do filho, e, enterrá-lo. Zuzu vai se tornando uma figura cada vez mais incômoda, para a ditadura, e, ela escreve que não descarta, de forma nenhuma, a chance de ser morta em um “acidente” ou “assalto”. Com a direção de Sérgio Rezende, “Zuzu Angel” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom, e, na Sala 2 do Cinemark. Para maiores de 14 anos.

Estréia 2: “O Sentinela”

Pete Garrison (Michael Douglas) é um agente do serviço secreto que, vinte anos antes, salvara a vida do presidente americano, ao se jogar na frente das balas. Agora, Garrison é um agente respeitado e admirado, sendo o responsável pela segurança da primeira-dama Sarah Ballentine (Kim Basinger). Sua vida muda, quando seu amigo, e, também agente, Charlie Merriweather (Clark Johnson) lhe diz que deseja compartilhar informações importantes e confidenciais. Porém, antes que possa dizer algo Merriweather é morto, em um crime forjado de forma a parecer que foi um assalto mal-sucedido em sua casa. A investigação da morte fica a cargo de David Breckinridge (Kiefer Sutherland), protegido de Garrison e um de seus melhores amigos. Breckinridge tenta seguir as provas usando apenas a razão, deixando de lado a emoção. Ao seu lado ele conta com Jill Marin (Eva Longoria), uma jovem agente ambiciosa que está em seu primeiro trabalho de campo, além do próprio Garrison. “O Sentinela” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom, e, na Sala 6 do Cinemark. Para maiores de 14 anos.

Estréia 3: “Assombração”

O romance de estréia de Ting-Yin (Angelica Lee Sinje), que usa o codinome Chu Xun, torna-se um best-seller no sudeste asiático. Lawrence (Lawrence Chou), seu agente, anuncia, em uma noite de autógrafos, o próximo livro da escritora, que terá como tema as forças sobrenaturais. Entretanto, Ting-Yin enfrenta dificuldades para escrever o novo livro. Após escrever o rascunho de um capítulo, ela o apaga do seu computador, deixando-o na lixeira. A partir de então, Ting-Yin passa a ter visões, que fazem com que ela acredite que o que escreve acontece no mundo real. Mais um exemplar do cinema de Hong Kong. “Asssombração” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom, e, na Sala 5 do Cinemark. Para maiores de 14 anos.

Cineclube Natal exibe “Domingo Sangrento”

O Cineclube Natal, no próximo domingo, dia 6, exibirá o filme “Domingo Sangrento”, do diretor Paul Greengrass. O filme baseia-se em um trágico momento da história da Irlanda do Norte, quando, em 30 de janeiro de 1972, na cidade de Derry, católicos marchavam a favor dos direitos civis e foram de encontro às tropas britânicas, resultando em 13 manifestantes mortos e 14 feridos. O episódio, conhecido como “Domingo Sangrento”, marcou o início do confronto entre o IRA (Exército Republicano Irlandês) e o exército britânico. Também será apresentado o curta-metragem “Brevíssima história das gentes de santos”, de André Klotzel. A sessão começa às 19h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto. Após os filmes, haverá debate com a platéia e sorteio de um DVD. Os ingressos custam R$ 2,00. Para maiores de 16 anos.

Abertas inscrições para festival de filmes para celular

Estão abertas, até 6 de setembro, as inscrições para o Telemig Celular arte.mov – Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis, a ser realizado de 4 a 7 de outubro em Belo Horizonte. Podem participar trabalhos audiovisuais com duração entre 30 segundos e dois minutos, concluídos em 2005/2006 e realizados em qualquer tipo de mídia ou suporte na captação das imagens, porém considerando que o canal de exibição são celulares, handhelds ou computadores de mão. As inscrições podem ser feitas no site www.telemigcelular.com.br/artemov, onde estão disponíveis o regulamento e a ficha de inscrição. Os dez melhores trabalhos receberão celulares Nokia, e, os finalistas concorrerão também aos seguintes prêmios em dinheiro. Além disso, o público pode votar no seu trabalho favorito, que receberá o valor de R$ 1 mil.

“Farenheit 451”, em DVD

Um dos melhores filmes do genial escritor de ficção científica Ray Bradbury foi transformado em filme pelas mãos de um outro gênio, François Truffaut. O resultado não poderia ser melhor. Em um tempo futuro, Montag (Oskar Werner) trabalha como bombeiro. Mas, ao invés de apagar incêndios, a sua especialidade é encontrar livros e queimá-los, já que se tornaram objetos proibidos. Um dia, ele conhece uma revolucionária professora (Julie Christie), que, não apenas se atreve a lê-los, como ainda o estimula a desafiar o sistema. De repente, ele se vê como um fugitivo caçado, forçado a escolher, não apenas entre duas mulheres, mas, entre sua segurança pessoal e a liberdade intelectual. Primeira produção de Truffaut em língua inglesa, o filme é uma fábula extraordinária em que a própria raça humana se transforma no terror mais assustador. Nas locadoras.

“V de Vingança”, em DVD

Na paisagem futurista de uma Inglaterra totalitária, “V de Vingança” conta a história de uma pacata jovem chamada Evey (Natalie Portman) que é resgatada de uma situação de morte por um homem mascarado (Hugo Weaving, que nunca mostra o rosto), conhecido apenas como “V”. Incomparavelmente carismático, e, extremamente habilidoso, na arte do combate e destruição, V inicia com uma revelação, quando convoca seus compatriotas a erguerem-se contra a tirania e opressão. Enquanto Evey descobre a verdade sobre o misterioso passado de V, ela também decobre a verdade sobre si mesma – emerge como uma improvável aliada na preparação do plano V, para trazer liberdade e justiça de volta à sociedade repleta de crueldade e corrupção. Nas locadoras.

Filme da Semana: “Zuzu Angel”

Anjos torturados

É engraçado como as pessoas se sentem mais à vontade para falar de fatos ocorridos séculos, ou, milênios, atrás, do que dos acontecimentos mais recentes. Controvérsias, testemunhos e opiniões são, muitas vezes, atropelados pelas emoções, pelo “lado” de quem conta a história. A história tratada pelo filme “Zuzu Angel”, contudo, deixa poucas margens a dúvidas, pela própria personalidade e atitude da personagem-título.

No início da década de 60, após o meteórico governo de Juscelino Kubitschek, que construiu Brasília e trouxe um boom industrial ao Brasil, foram eleitos, para presidente, Jânio Quadros, da UDN, e, João Goulart, o Jango, do PSD/PTB (é, na época, isso era possível). Um belo dia, Jânio renuncia, e, depois de muita confusão, Jango assume a presidência. Contudo, é uma época conturbada, com muitas greves, passeatas, e, insatisfações.

O chefe da 4ª Região Militar, em Minas Gerais, general Olímpio Mourão Filho, divulga uma proclamação contra João Goulart, e, põe-se em marcha com suas tropas, em direção ao Rio de Janeiro, sendo apoiado pela maioria dos comandos militares, além de muitos setores civis, partidos políticos e governadores, como Carlos Lacerda, da Guanabara, e, Adhemar de Barros, de São Paulo. A revolução, batizada de 31 de março, foi antecipada algumas horas, já que ficaria difícil acreditar em um movimento “1º de abril”…

O primeiro presidente militar foi o general Humberto de Alencar Castelo Branco, que governa através de uma legislação baseada em atos institucionais. Em 1968, já sob a presidência do general Costa e Silva, começam a pipocar manifestações e greves, reprimidas duramente pela polícia. Embora os números da nossa repressão sejam inferiores aos dos regimes da Argentina e do Chile, mesmo assim, muita gente da minha geração sabe de algum parente ou amigo que sofreu algum tipo de prisão, tortura ou desaparecimento durante o regime. Em contrapartida, surgem movimentos de luta armada contra o regime, o que acirra mais a repressão. O endurecimento dos militares atingiria o seu pico durante o governo do general Garrastazu Médici.

A história retratada no filme “Zuzu Angel” passa-se neste período negro do nosso passado. A mineira Zuleika Angel Jones, conhecida internacionalmente como Zuzu Angel, era mãe do militante Stuart Angel Jones, desaparecido político, preso em 14 de maio de 1971 pelos agentes do Centro de Informações da Aeronáutica – CISA, onde foi torturado até a morte.

Através de carta de um outro preso político, Alex Polari de Alverga, ela soube das torturas sofridas por seu filho, e, do momento de sua morte. Zuzu Angel, incansavelmente, denunciou as torturas, a morte, e, a ocultação do cadáver de Stuart. Em muitos desfiles, no exterior, denunciou a morte do filho para a imprensa estrangeira e a deputados norte-americanos, pois seu filho também tinha a cidadania americana, mas, sem êxito.

Usando como arma a moda, Zuzu passou, então, a usar estampas com silhuetas bélicas, pássaros engaiolados e balas de canhão disparadas contra anjos. O anjo tornou-se o símbolo de Tuti, o filho desaparecido. Durante cinco anos, buscou reaver o corpo de Stuart, cuja morte e prisão jamais foram admitidos pelos órgãos de segurança, que chegaram a absolve-lo das acusações que pesavam sobre ele.

Zuzu morreu em 15 de abril de 1976, em um acidente automobilístico até hoje não explicado, no túnel que hoje leva o seu nome. O corpo de Stuart nunca foi encontrado.

Nos dias atuais, muitos dos personagens reais daqueles tempos, circulam, lado a lado, na promiscuidade palaciana, igualados pelas benesses do poder. É importante que as novas gerações tomem conhecimento de uma verdadeira heroína, armada apenas com o amor ao filho, capaz de enfrentar forças infinitamente superiores.