Claquete 19 de maio de 2006

Claquete

Newton Ramalho – claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

Pronto para criar celeuma, chega, em estréia mundial, o filme “O Código Da Vinci” (veja em Filme Comentado), com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany e Ian McKellen. A outra estréia é o nacional “Tapete Vermelho”, com Matheus Nachtergaele. Nas continuações, “Boa Noite e Boa Sorte”, elogiado drama dirigido por George Clooney, o terror “A Caverna”, “Ponto Final – Match Point”, de Woody Allen, “Crianças Invisíveis”, “Missão Impossível III”, com Tom Cruise, a comédia romântica “Terapia do Amor”, estrelada por Uma Thurman, e, a animação “A Era do Gelo 2”, do diretor brasileiro Carlos Saldanha. Já estão à venda os ingressos para “X-Men 3” (estréia 26/05).

Estréia 1: “O Código Da Vinci”

Após o curador do museu do Louvre ser morto, um simbologista é chamado para decifrar as misteriosas pistas deixadas. As investigações levam a mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que indicam a existência de uma sociedade secreta. Dirigido por Ron Howard (“Uma Mente Brilhante”) e com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany, Ian McKellen e Alfred Molina no elenco. “O Código Da Vinci” estréia, nesta sexta-feira, nos Cines 4, 6 e 7 do Moviecom, e, nas Salas 1, 2 e 6 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “Tapete Vermelho”

Quinzinho (Matheus Nachtergaele) mora em uma roça, bem distante de qualquer cidade grande. Decidido a cumprir uma promessa, ele leva seu filho, Neco (Vinícius Miranda), de nove anos, para assistir a um filme estrelado por Mazzaropi, em uma sala de cinema, assim como fizera o seu pai, quando ele era garoto. Desejando cumprir a promessa a qualquer custo, Quinzinho, sua esposa Zulmira (Gorete Milagres), Neco e o burro Policarpo viajam pelas cidades, em busca de um cinema que possa exibir o filme. A direção é de Luiz Alberto Pereira. “Tapete Vermelho” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

“A Noite Americana” no Cineclube Natal

Neste domingo, dia 21, o Cineclube Natal, comemorando o seu primeiro aniversário, exibirá o filme “A Noite Americana” (1973), do consagrado diretor François Truffaut. Na mesma programação, acontece a exibição do curta-metragem “O Dia Em Que Dorival Encarou o Guarda”, de Jorge Furtado e Pedro Goulart. A sessão começa às 19h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto. Após os filmes, haverá debate com a platéia e sorteio de um DVD. Os ingressos custam R$ 2,00. Sócios do Cineclube e servidores da Adurn não pagam. Para maiores de 12 anos.

“Trovão Azul”, em DVD

“Trovão Azul”, um dos filmes que mais empolgaram a garotada nos anos 80, chega, agora, em DVD, remasterizado em formato widescreen. Roy Scheider vive um corajoso piloto da polícia, que luta contra fanáticos do governo, que planejam usar inapropriadamente um helicóptero experimental de guerra. Escolhido para testar o Trovão Azul, Frank Murphy fica impressionado pelo helicóptero de alta velocidade e alta tecnologia. Ele é capaz de ver através das paredes, gravar um suspiro ou destruir um quarteirão de uma cidade. Desconfiando das intenções militares por trás do Trovão Azul, Murphy e seu parceiro Lymangood (Daniel Stern) logo descobrem que a extraordinária aeronave está destinada a ser usada como uma arma de vigilância e controle da população. Em risco depois de ser descoberto pelo sinistro coronel Cochrane (Malcolm McDowell), Murphy voa com o Trovão Azul contra as aeronaves militares em uma fascinante batalha sob os ares de Los Angeles. Além do filme, o disco traz, como extras, Comentário em áudio do diretor John Badham, Construindo o Trovão Azul, Making Of, Especial Promocional 1983 e Galeria de Storyboard.

“Sal de Prata”, em DVD

“Sal de prata” conta a história de Cátia (Maria Fernanda Cândido), uma bem-sucedida economista, que ganha a vida no mercado financeiro, e, que está apaixonada por Veronese (Marcos Breda), um mal-sucedido cineasta, que ganha a vida com uma pequena loja de revelações fotográficas, e, faz curtas, quando consegue. Apesar de tantas diferenças, estão namorando há alguns anos e se amam. Cátia gostaria de morar com Veronese, mas, este prefere deixar as coisas como estão. Assim como Veronese não se interessa pelas transações financeiras de Cátia, esta não faz muita questão de se relacionar com o universo cinematográfico. Um inesperado golpe do destino, contudo, força Cátia a penetrar no mundo do cinema, e, tentar conhecer melhor a obra de Veronese. O disco traz, como extras, Making Of, Erros de Filmagem, A Música de “Sal de Prata”, Filme de Mentira, Trailer e Teaser, Ensaio.

“Lili Marlene”, em DVD

Mais um mestre do cinema alemão, R. W. Fassbinder (1945-1982), chega ao mercado, no formato digital. Ao gravar a popular canção “Lili Marleen”, Wilkie (Hanna Schygulla) torna-se a cantora mais famosa da Alemanha de Hitler. Mesmo no auge da fama, não encontra a felicidade, pois vive um romance proibido com Robert (Giancarlo Giannini), um músico judeu que participa da resistência contra os nazistas. Será que o amor deles resistirá aos tempos de guerra? Baseado livremente na autobiografia da cantora Lale Andersen, Lili Marlene é um melodrama típico de Fassbinder, no qual o cineasta expõe sua visão irônica da sociedade nazista. O disco traz o filme com formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital. Como extras, entrevistas com Fassbinder, Hanna Shygulla e Jullia Lorenz, Making Of, Galeria de Pôsteres e Fotos, Vida e Obra de Fassbinder e Biografias.

Filme comentado: “O Código Da Vinci”

O código vazio

“Falem mal, mas, falem de mim!”. Esta frase, cuja autoria a lenda atribui a um famoso político baiano, parece ser o lema para os criadores de “O Código Da Vinci”, tanto o livro, como o filme. Embora seja um autor limitado, o escritor Dan Brown conseguiu criar polêmica ao criar uma nova interpretação para o mito do Graal, ligando Jesus Cristo e Maria Madalena.

Alguns leitores poderão perguntar porque menciono o “mistério” envolvido no filme logo no começo da crítica, mas, a menos que alguém tenha passado os últimos anos num mosteiro isolado do Tibete, certamente terá lido, ou, pelo menos, ouvido falar deste livro, e, seu audacioso tema, já que foram vendidas mais de 40 milhões de cópias, nas mais variadas línguas.

A história do filme não difere do livro, como é comum em outras obras, menos pela complexidade, e, mais porque o texto de Brown é quase um roteiro de filme. Enredo linear, capítulos curtos, personagens estereotipados, ação incessante, clímax no final, etc.. Mas, isso tudo torna o filme interessante, proporcionando duas horas e meia de diversão, desde que se excluam os questionamentos teológicos.

Durante uma visita à França, um professor universitário, Robert Langdon (Tom Hanks, com um topete de fazer inveja ao Itamar), é procurado pelo comissário de polícia Bezu Fache (Jean Reno) para ajudar na elucidação de um assassinato. O curador do museu do Louvre, antes de morrer, desenhara uma série de símbolos no próprio corpo, e, pedira a presença de Langdon, que era, também, simbologista (embora ninguém, no mundo real, saiba que profissão é esta).

As pistas parecem incriminar Langdon, que, com a ajuda da criptógrafa Sophie Neveu (Audrey Tautou, de “Amélie Poulain”), foge, espetacularmente, numa alucinante perseguição, pelas ruas de Paris. Eles buscam o auxílio de Sir Leigh Teabing (Ian McKellen), um estudioso que dedicou a vida à busca do Santo Graal. É quando se descobre que, além do estranhíssimo significado do Graal, existe, também, uma sociedade secreta, o Priorado de Sião, que remonta aos Templários, cuja missão é proteger o segredo de Madalena, e, a linhagem que dela descende.

Mas, não é só a polícia que persegue Langdon e Sophie. Enviado pela poderosa organização Opus Dei, o monge albino Silas (Paul Bettany, com uma maquiagem impressionante) mata, friamente, qualquer pessoa que atravessa o seu caminho. Com o mesmo fervor que cumpre as ordem impiedosas, pune-se, com o cilício na coxa, ou, flagelando-se com um chicote.

As sucessivas pistas levam os aventureiros das ruas de Paris para Londres, e, depois, um recanto da Escócia, sempre precisando desvendar enigmas intrincados, enquanto se desviam das balas e de outras agressões. Ponto. Para saber mais, assista ao filme.

O livro já vinha despertando o furor das organizações religiosas ao redor do mundo, pelo hipotético casamento de Cristo, pela satanização da prelazia Opus Dei, e, pela absoluta falta de fundamentos científicos. Para piorar as coisas, na primeira página do livro, o autor assegura que as descrições de obras de arte, da arquitetura, dos documentos e dos rituais secretos, ali apresentados, são verdadeiras. Mas, quem conhece o museu do Louvre, de cara, já condena o livro pela mudança na disposição das obras de arte mencionadas. Brown não se deu nem ao trabalho de checar os dados históricos, ao afirmar que o imperador Constantino tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Constantino concedeu a liberdade de culto, em 313, mas, foi seu filho, Teodósio, quem tornou o cristianismo a religião oficial do império, em 394.

Os argumentos dos personagens, também se baseiam em fontes especulativas, como os obscuros evangelhos apócrifos, manuscritos produzidos dois a três séculos após a morte de Cristo, e, obras como o livro “O Santo Graal e a Linhagem Sagrada”, dos historiadores Michael Baigent e Richard Leigh, que chegaram a processar Dan Brown por plágio.

O sucesso do livro “O Código Da Vinci” foi seguido por mais de uma dúzia de obras que contestam os argumentos de Brown, tanto pelo aspecto histórico, como pela interpretação filosófica. A maior queixa, entretanto, é a de que o autor, nem uma única vez, faz referência aos quatro evangelhos oficiais, em princípio, documentos baseados em testemunhas oculares.

Se o livro já causou tanta polêmica, a estréia do filme, um veículo que tem uma penetração infinitamente maior, já provoca ondas de choque por todo o mundo. O governo da Tailândia decidira censurar os últimos quinze minutos do filme, mas, terminou aceitando um recurso, por maioria apertada. Os cinemas das Ilhas Feroe, território autônomo pertencente a Dinamarca, com cerca de 50 mil habitantes, se negaram a exibir “O Código Da Vinci”. O ministro da Cultura do Vaticano, em entrevista, associou o sucesso do tema com a ignorância das pessoas sobre o assunto tratado. Alguns movimentos cristãos, católicos, ou, evangélicos, propuseram atos de protesto, boicote, ou, ações legais contra a exibição do filme, embora todos concordem que, quanto mais gritaria se fizer, mais irá contribuir para a propaganda do filme.

Outros filmes, como “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorcese, que mostra, em uma alucinação, Cristo vivendo uma vida de casado, “Stigmata”, que sugere uma nova abordagem para a Igreja, ou, “O Corpo”, onde é encontrada uma ossada que poderia ser de Jesus, o que iria contra o dogma da Ressurreição, foram igualmente polêmicos, mas, não despertaram nem uma fração do furor de “O Código”.

Se agüentou ler até aqui, certamente o leitor ainda está em dúvida se aconselho, ou, não, a assistir ao filme. Embora não tenha sido bem recebido no Festival de Cannes (talvez por causa da expectativa gerada), “O Código Da Vinci” não é mais do aquilo que se propõe: uma peça de entretenimento, baseada em um tema ficcional, tão fundamentado quanto os seres de “Alien – O 8º Passageiro”, ou, os dinossauros de “Jurassic Park”. Se gosta de filmes de suspense e ação, assista ao filme, afinal de contas, das 14 salas de cinema de Natal, seis estarão exibindo “O Código Da Vinci”. Apenas não esqueça de que esta, acima de tudo, é uma obra de ficção. É desligar o cérebro, e, curtir.