Claquete 08 de abril de 2006
Newton Ramalho – claquete@pop.com.br
O que está em cartaz
Quem não tem cão, caça com gato. A estréia do belo filme de Zhang Yimou, “O Clã das Adagas Voadoras”, talvez sirva de consolo, para os desesperados fãs de “Herói”, que não conseguem entender porque o filme demora tanto para chegar em Natal, duas semanas após a sua estréia nacional. Aliás, com a quantidade de estrangeiros circulando em Natal, dá pra pensar que estamos mesmo fora do Brasil… Nas continuações, o premiado “Ray”, biografia do cantor Ray Charles, que levou o Oscar de Melhor Ator, para Jamie Foxx, a comédia “Miss Simpatia 2”, com Sandra Bullock vivendo uma atrapalhada agente do FBI, a ótima animação, “Os Robôs”, dos mesmos autores do excelente “A Era do Gelo”, a comédia romântica, bem brasileira, “O Casamento de Romeu e Julieta”, e, os suspenses “Constantine”, com Keanu Reeves, “Reencarnação”, com a talentosa Nicole Kidman, e, “O Chamado 2”, com Naomi Watts, e, Sissy Spacek, às voltas com a misteriosa fita assassina. No sábado, acontece a pré-estréia de “O Lenhador”, com Kevin Bacon. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção espanhola “Minha Mãe Gosta de Mulher”.
Estréia: “O Clã das Adagas Voadoras”
Neste final de semana, estréia, para valer, mais um belo filme do diretor Zhang Yimou, “O Clã das Adagas Voadoras”, que concorreu ao Oscar de Melhor Fotografia. No ano de 859, a China passa por terríveis conflitos. A dinastia Tang, antes próspera, está decadente. Corrupto, o governo é incapaz de lutar contra os grupos rebeldes, que se prooliferam. O mais poderoso, e, prestigiado deles, é o Clã das Adagas Voadoras. Leo (Andy Lau) e Jin (Takeshi Kaneshiro), dois soldados do exército oficial, recebem a missão de capturar o misterioso líder do grupo rebelde, e, para tanto, elaboram um plano: Jin se disfarça como um combatente solitário, ganha a confiança da bela revolucionária cega Mei (Zhang Ziyi), e, assim, infiltra-se no grupo. Mas, a dupla não contava com a paixão que Mei despertaria nos dois. Para quem tiver alguma dúvida sobre o talento do diretor Yimou, é só lembrar que são dele os belos filmes “Lanternas Vermelhas”, e, “Caminho Para Casa”. “O Clã das Adagas Voadoras” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Pré-Estréia: “O Lenhador”
Depois de 12 anos na prisão, por pedofilia, Walter (Kevin Bacon) retorna à sua cidade natal, para tentar uma nova vida. Após arrumar um emprego numa serraria, ele conhece Vickie (Kyra Sedgwick), com quem inicia um romance. Seu cunhado (Benjamin Bratt) o recebe de braços abertos, e, ajuda Walter a se instalar no novo apartamento. Mas, ainda que Walter tente deixar seu passado para trás, ele é observado, com suspeita, por Mary-Kay (Eve), funcionária da serraria, e, pelo detetive Lucas (Mos Def). Qualquer movimento em falso pode custar-lhe muito caro. Filme de estréia da diretora Nicole Kassell, recebeu quatro indicações ao Independent Spirit Awards, em Melhor Filme de Estréia, Melhor Ator (Kevin Bacon), Melhor Atriz (Kyra Sedgwick), e, Melhor Ator Estreante (Hannah Pilkes), e, ganhou o Prêmio Especial do Júri, no Festival de Deauville. A pré-estréia acontece neste sábado, no Cine 2 do Moviecom, na sessão de 23h10.
Festival de Cinema Gay de Miami
Se antes o assunto ficava restrito aos “armários”, hoje, o homossexualismo já encontra seus canais de comunicação com o mundo. O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Miami (MGLFF, na sigla em inglês), chega à sua sétima edição, desta vez, com 84 filmes, de 12 países, abordando a questão do ressurgimento da AIDS. Entre os concorrentes, a produção alemã “Summer Storm”, sobre dois jovens remadores, o curta-metragem mexicano “Nalguita”, de Beto Gómez, no qual dois policiais encontram mais do que procuram, quando se infiltram, disfarçados, num bar gay da fronteira do México com os EUA, e, até da longínqua Taiwan, com “Fórmula 17”. O festival acontece de 22 de abril a 1º de maio. O site oficial é www.mglff.com.
Fãs de “Star Wars” fazem fila no cinema errado
Isso, sim, é que é ser fã. Sete semanas antes da estréia de “Star Wars: Episódio 3 – A Vingança dos Sith”, que acontecerá no dia 19 de maio, já tem gente plantada na frente do cinema. O problema é que, a fila está se formando na frente do Grauman’s Chinese Theater, em Los Angeles, mas, os produtores do filme já informaram os ansiosos fãs de que, a estréia, na verdade, ocorrerá no complexo de salas ArcLight, a cerca de dois quilômetros dali. Apesar do aviso do local correto, os fãs estão relutando em deixar o Chinese Theater, acreditando tratar-se de um boato. Como muitos fãs fazem questão de assistir estas estréias vestidos de Darth Vader, a explicação maldosa é de que eles tem medo de ser reconhecidos…
Filme de Arte: “Minha Mãe Gosta de Mulher”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz esta semana a produção espanhola “Minha Mãe Gosta de Mulher”. Elvira (Leonor Watling) é uma jovem de 22 anos, tão bonita quanto insegura. Ela se encontra com suas irmãs, Jimena (Maria Pujalte), e, Sol (Silvia Abascal), na casa de sua mãe, Sofia (Rosa Maria Sardà), uma famosa pianista, que, há muitos anos, está separada do pai de suas filhas. Sofia aproveita a ocasião de seu aniversário para anunciar que está novamente apaixonada. Suas filhas a parabenizam. A mãe explica que o seu novo amor tem menos idade que ela, nasceu na República Tcheca, e, também toca piano. E, é uma mulher. A expansiva Sol, a responsável Jimena, e, a neurótica Elvira, tentam agir como mulheres compreensivas, e, tolerantes, mas, isso é só fachada, pois, as três irmãs logo se juntam, para sabotar o novo relacionamento da mãe. Escrito e dirigido por Daniela Fejerman, e, Inés Paris, o filme recebeu três indicações ao Goya, o Oscar espanhol, nas categorias Melhor Atriz (Leonor Watling), Melhor Diretor Novato, e, Melhor Trilha Sonora. Ganhou o Prêmio do Público, e, o de Melhor Atriz (Leonor Watling), no Festival Hispânico de Miami. “Minha Mãe Gosta de Mulher” terá sessão única, às 21h do dia 12, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 14 anos.
“Ran”, em DVD
Uma das mais belas obras de Akira Kurosawa, “Ran”, chega, agora, em DVD. O genial diretor transportou a obra “Rei Lear”, de Shakespeare, numa adaptação livre, para o universo medieval japonês. Japão, século XVI. Hidetora (Tatsuya Nakadai), o poderoso chefe do clã dos Ichimonjis, decide dividir, em vida, seus bens, entre seus três filhos: Taro Takatora (Akira Terao), Jiro Masatora (Jinpachi Nezu), e, Saburu Naotora (Daisuke Ryu). Com o primeiro, fica a chefia do feudo, as terras, e, a cavalaria. Os outros dois ficam com alguns castelos, terras, e, o dever de ajudar, e, obedecer Taro. No entanto, Hidetora exige viver no castelo de alguns deles, manter seus trinta homens, seu título, e, a condição de grão-senhor, mas, Saburu, o predileto, prevendo as desgraças que viriam com tal decisão, mostra-se contrário à decisão paterna. Assim, é expulso do feudo, e, acaba sendo acolhido por Nobuhiro Fujimaki (Hitoshi Ueki), que se mostra impressionado com sua decisão de contrariar o pai, casando-o com a sua filha. Hidetora vai ao seu castelo, que agora é de Taro, e, não é bem recebido, pois seu primogênito é encorajado por Kaede (Mieko Harada), sua mulher, para ter liberdade para tomar decisões, e, chefiar o feudo. Kaede quer vingar a morte dos pais, que foram mortos por Hidetora, em um incêndio, e, guarda muito rancor do velho suserano. Hidetora sente isso quando vai ao castelo de Jiro, e, assim se vê isolado em seu ex-império, muito próximo da insanidade. O DVD, embora não traga nenhum extra, oferece a trilha sonora original, em japonês, em Dolby Digital 5.1, e, em português, 2.0. O formato de tela, que evidencia as paisagens estonteantes do filme, foi mantido em widescreen anamórfico. “Ran” ganhou o Oscar de Melhor Figurino, além de ter sido indicado nas categorias Melhor Diretor, Melhor Direção de Arte e Melhor Fotografia.
Filme recomendado: “O Mistério da Libélula”
Mensagem de amor, do além…
Histórias de fantasmas não são nenhuma novidade no mundo do cinema. De “O Morro dos Ventos Uivantes” a “Ghost”, passando por “Gasparzinho”, e, “Além da Eternidade”, muitos sustos e risadas já foram provocados pelos espíritos, explícitos, ou, subtendidos. Mas, o que acontece quando um falecido tenta se comunicar com seus entes queridos através de terceiros? E, quando os intermediários não são médiuns, como o garotinho de “Sexto Sentido”, mas, pessoas à beira da morte? Essa é a situação apresentada por “O Mistério da Libélula”, curioso filme estrelado por Kevin Costner.
O personagem de Costner é Joe Darrow, um médico, cuja esposa morreu em um acidente na selva sulamericana, sem que seu corpo jamais tenha sido encontrado. Em meio à dor, e, à confusão da perda, ele começa a perceber que fatos estranhos estão ocorrendo ao seu redor, principalmente com os pacientes terminais. A trama combina elementos de mistério, suspense, e, amor, com um toque de horror, prendendo a atenção do espectador para o final surpresa. Além de diversão, “O mistério da libélula” traz uma mensagem para quem possa entender a dor da perda de um ente querido, preocupa-se com a própria mortalidade ou com o que possa existir após a morte.
O roteiro brinca com a desconfiança do espectador, fazendo-o enxergar os fatos sempre através da ótica de Joe, ora, confuso, pelos acontecimentos estranhos, ora, descobrindo “evidências” de que estes acontecimentos seriam armações. Esses eventos misteriosos – objetos que se movem, sinais de pacientes que sobreviveram a experiências quase fatais, e, vozes estranhas, terminam convencendo-o de que sua mulher está tentando entrar em contato com ele. Mas, o filme prossegue, num crescente de situações cada vez mais emocionantes, culminando em uma jornada ao interior da selva amazônica, em busca do espírito da mulher amada.
Apesar das limitações de Costner, este parece ser o papel perfeito para ele. Confuso, e, atormentado, o personagem vaga pela vida, em busca de respostas às suas perguntas. É o personagem ideal, para um ator que não muda de expressão, quaisquer que sejam os filmes. Infelizmente, a ótima atriz Kathy Bates, ganhadora do merecido Oscar de Melhor Atriz, em 1991, por “Louca Obsessão”, fica restrita a um papel secundário. Uma curiosidade, sobre este filme, é que o ator cogitado era Harrison Ford, que o recusou porque queria ficar um ano afastado das telas. Além disso, Ford já teve a sua cota com o sobrenatural em “Revelação”, com Michele Pffeifer.
“O Mistério da Libélula” foi produzido com um orçamento de 60 milhões de dólares, logo depois que Costner participou de “Os Treze Dias Que Abalaram o Mundo”, sobre a crise dos mísseis de Cuba, embora só agora tenha chegado aos cinemas brasileiros. O filme arrecadou 30 milhões de dólares só nos Estados Unidos, e, curiosamente, atraiu um público maior aqui no Brasil, com 472 mil pagantes, e, um milhão e meio na Espanha!
Pena que o DVD nacional, lançado pela Buena Vista, não tenha trazido um extra nem para remédio. Contudo, foi mantido o formato de tela widescreen anamórfico original, e, a trilha sonora remasterizada em Dolby Digital 5.1, tanto em inglês, como em português. Enquanto isto, o pessoal da matriz, região 1, teve direito a trilha adicional DTS, cenas deletadas, Making Of, e, um documentário com a escritora Betty Eadie, sobre sua experiência no limiar da morte. Esperemos que, algum dia, saia uma versão um pouco melhor deste filme.