Claquete 03 de fevereiro de 2006
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Já na expectativa para a premiação do Oscar, estréia, nesta sexta-feira, o badalado “O Segredo de Brokeback Mountain”, do diretor Ang Lee, que teve oito indicações. Estréiam, também, o policial “Edison – Poder e Corrupção”, com Morgan Freeman, Kevin Spacey e o cantor Justin Timberlake, e, a comédia “Vovó…Zona 2”, com Martin Lawrence. Nas continuações, o drama “Munique”, do diretor Steven Spielberg (veja em Filme Recomendado), o drama mexicano “A Mulher do Meu Irmão”, de Ricardo de Montreuil, a comédia romântica “Dizem Por Aí”, com Kevin Costner, e, Jennifer Aniston, “Nanny McPhee, Uma Babá Encantada”, comédia infantil com Emma Thompson, “As Loucuras de Dick & Jane”, com o careteiro Jim Carrey, a ótima comédia nacional “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires, e, “Didi – O Caçador de Tesouros”, com Renato Aragão.
Estréia 1: “O Segredo de Brokeback Mountain”
Nos belos campos do interior dos Estados Unidos, Ang Lee apresenta uma história de amor épica sobre dois homens, um fazendeiro e um vaqueiro, que se encontram no verão de 1963, e, logo se vêem incrivelmente unidos. Mas, suas tragédias, e, complicações, trarão provações ao seu relacionamento, ao mesmo tempo em que terão que lidar com o preconceito da sociedade. Curiosa fábula moderna, baseada em um conto da escritora Annie Proulx, que usa um dos mais fortes símbolos do machismo, o caubói americano. A ousadia foi do diretor twaianês Ang Lee, que já havia surpreendido o mundo com o magnífico “O Tigre e o Dragão”. “O Segredo de Brokeback Mountain” ganhou quatro Globos de Ouro (melhor filme, diretor, roteiro e canção), melhor filme no Festival de Veneza 2005, e, recebeu oito indicações para o Oscar, incluindo a de melhor filme e diretor. A estréia será nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Estréia 2: “Edíson – Poder e Corrupção”
Morgan Freeman e Kevin Spacey contracenam com LL Cool J e o cantor Justin Timberlake, namorado de Cameron Diaz, em “Edison”, primeiro trabalho de David J. Burke para o cinema, depois de vários seriados de TV, como “La Femme Nikita” e “Lei e Ordem”. “Edison” conta a história de um jornalista recém-formado, que descobre um esquema de policiais corruptos policiais corruptos dentro de uma unidade de elite da polícia. Ele decide, então, fazer uma aliança com um velho e cansado repórter investigativo (Freeman), e, com o procurador de distrito (Spacey) para denunciar esta teia de corrupção. “Edison – Poder e Corrupção” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.
Estréia 3: “Vovó…Zona 2”
O agente do FBI Malcolm Turner (Martin Lawrence) recebe uma nova missão, e, terá que se disfarçar, novamente, como a exagerada vovó do filme original. Agora, ele trabalhará como babá de uma mulher infeliz, suspeita de assassinato. Sherry (Nia Long) e Malcolm (Martin Lawrence) estão casados, e, felizes. Mas, ele deve apanhar uma assassina conhecida como Viúva Negra, uma mulher perto dos 60 anos, que se casa com homens ricos, e, os mata. Ela vive em uma comunidade simples em Miami. Para descobrir o paradeiro da suspeita, o policial volta a se vestir como a avó de Sherry, Hattie Mae Pierce, a Vovozona. Repetição da fórmula de sucesso de “Vovó…Zona”, com direito a todas as gags e clichês do gênero. A direção é de John P. Whitesell. “Vovó…Zona 2” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Censura livre. Atenção: cópia dublada.
“Os Irmãos Grimm”, em DVD
Do aclamado diretor Terry Gilliam, chega, agora, em DVD, a fantasia com as aventuras dos lendários escritores de contos de fada Will (Matt Damon), e, Jake Grimm (Heath Ledger). Os Grimm são dois irmãos, que viajam através da Europa dominada pelas tropas de Napoleão, enfrentando monstros, e, demônios, de mentirinha, em troca de dinheiro dos crédulos aldeões. Mas, quando as autoridades francesas descobrem seu esquema, os trapaceiros são forçados a enfrentar uma maldição real, em uma floresta encantada, onde jovens donzelas desaparecem, sob circunstâncias misteriosas. A bela fotografia do filme será prejudicada pelo formato de tela fullscreen, mas, ao menos, o áudio vem em inglês e português, Dolby Digital 5.1. A partir do dia 8, nas locadoras.
Filme Recomendado: “Munique”
Fúria dos homens
Dois aspectos são comuns na indústria do cinema. O primeiro é que, ao referir-se a um acontecimento histórico, a visão nunca consegue ser só documental ou ficcional. Afinal de contas, cinema é entretenimento, e, os investidores querem retorno pelo dinheiro empregado no filme. O segundo aspecto é que, dificilmente os lados envolvidos concordarão com o que foi retratado. Essa façanha, desagradar gregos e troianos, foi conseguida pelo diretor Steven Spielberg, com “Munique”, embora, injusta, pois o filme tem uma mensagem interessante.
O fato gerador da história, o atentado aos atletas israelenses na Olimpíada de Munique, em 1972, não ocupa nem cinco minutos, dos 167 do total, e, mesmo assim, é mostrado em esparsos flashbacks, ao longo do filme. O grupo terrorista autodenominado Setembro Negro invade a Vila Olímpica, e, seqüestra onze atletas israelenses. O ato vira tragédia, quando, numa tentativa de resgate, pela polícia alemã, todos os reféns são mortos, pelos seqüestradores.
É a partir deste ponto que inicia a história de “Munique”. O governo israelense decide partir para uma retaliação contra os terroristas palestinos, executando-os, onde estiverem. Avner Kauffman (Eric Bana), um agente do Mossad, o Serviço Secreto israelense, recebe a missão de montar um grupo, que terá o codinome “Fúria de Deus”, composto de cinco homens, para eliminar os alvos da Europa.
Ao longo dos meses seguintes, Avner e o seu grupo percorrem a sua via crucis, cercando os alvos, preparando os atentados, e, tendo que lutar para preservar as próprias vidas, já que, em pouco tempo, eles mesmos são procurados por agentes palestinos, assassinos profissionais, e, por todas as polícias européias.
À medida que o tempo passa, Avner começa a questionar-se se o que estão fazendo é correto, pois, nem sempre fica muito claro se aquele alvo, especificamente, participou da tragédia de Munique. Há, até mesmo, um diálogo entre ele e um agente palestino, onde discutem as razões de cada lado, e, as motivações para fazer o que estão fazendo. Quando Avner pergunta ao palestino porque quer uma terra seca e pobre, o outro responde que é aquilo que mais deseja na vida.
Quando Avner decide largar tudo, e, cuidar da sua própria vida, descobre que o seu grupo era apenas um, entre vários, que participava das retaliações aos terroristas. No diálogo final do filme, onde ele, mais uma vez, reafirma a sua incredulidade da violência como meio de resolver as coisas, aparece, ao fundo, as torres gêmeas do World Trade Center, recriadas digitalmente, num símbolo da mensagem pacifista do filme.
Quando o filme foi lançado, houve gritaria de todos os lados. Os palestinos e árabes, de um modo geral, reclamaram da maneira como foram retratados no filme. Os israelenses afirmam que a história é totalmente diferente do que aconteceu na verdade. Os fãs de Spielberg, acostumados com suas produções cheias de cenas de ação, e, efeitos especiais, estranharam um filme mais discreto, provocativo, e, distante dos ideais do seu povo.
Não é que não aconteçam as cenas de ação, mas, devidamente integradas à história, sem as fantasias mirabolantes de “Jurassic Park”, ou, “Minority Report – A Nova Lei”. “Munique” mostra a história sempre pela ótica de Avner, com um pessimismo crescente em relação à sua missão, que é refletida nos tons escuros do filme.
Se há um pecado em “Munique”, ele está exatamente em explorar pouco o seqüestro dos atletas, que, se é um fato bem conhecido pelas pessoas mais velhas, tem pouca ou nenhuma repercussão para as gerações pré-balzaquianas, aquelas que nem eram nascidas em 1972, e, não por acaso, constituem a maior parte da legião de fãs de Spielberg.
Por outro lado, o diretor procurou não exacerbar a relação, sempre delicada, entre judeus e palestinos, presente nas manchetes diárias dos jornais. A organização Setembro Negro era uma facção armada da OLP, Organização para Libertação da Palestina, do líder Yasser Arafat, que ainda era pouco conhecida no resto do mundo, até os eventos de 1972. Quatro décadas depois, os palestinos conseguiram alguma acomodação territorial, o Arafat morreu, e, a facção mais radical, Hamas, conseguiu eleger a maioria dos deputados, o que já provoca uma nova onda de ameaças, e, avisos, de Israel, Estados Unidos, e, outros países. Ou seja, entra ano, sai ano, mas, pouco progresso aconteceu, em termos de uma convivência pacífica.
Essa, aliás, é a mensagem que fica implícita em “Munique”. Pouco, ou, nada, se conseguiu, através da violência, seja na história da Humanidade, seja no Oriente Médio. O grande mérito do filme, mais do que reviver feridas ainda mal curadas, é o de promover discussões sobre a violência, do indivíduo, de organizações, ou, do Estado. Não é preciso muito esforço para perceber a lógica perfeita de Ghandi, para quem, viver segundo a idéia de “olho por olho, e, o mundo acabará cego”. Palavras de um homem que foi corajoso o suficiente para responder a violência com a não-violência.
O que foi Munique, 1972
As Olimpíadas de Munique, em 1972, foram um dos primeiros jogos com transmissão pela TV em larga escala para todo o mundo. Porém, o evento ficou marcado por uma tragédia. Em 5 de setembro, a quatro dias do encerramento dos jogos, um grupo de terroristas palestinos, do grupo Setembro Negro, braço armado da OLP, invadiu os alojamentos da delegação israelense. Dois atletas foram mortos durante o ataque, e, outros oito israelenses também ficaram nas mãos dos palestinos.
O grupo exigia a libertação de 234 palestinos, detidos em prisões israelenses. Golda Meir, a primeira-ministra de Israel, negou o pedido. O governo alemão, por conta do Holocausto, queria tudo, menos ver judeus sendo assassinados novamente em seu território.
Dois dos terroristas libertados foram supostamente mortos por agentes israelenses, tema do filme “Munique”, e, um deles ainda está vivo.