Claquete 20 de janeiro de 2006

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Verão, férias, calor, praia, veraneio, gringos, este é o típico janeiro de Natal. Fazendo a sua parte, o cinema oferece nada menos do que sete títulos infantis, e, alguns estréiam agora. “O Senhor dos Ladrões”, produção alemã baseada em livro de grande sucesso, “Nanny McPhee, Uma Babá Encantada”, a última loucura de Emma Thompson, e, “As Loucuras de Dick & Jane”, com o careteiro Jim Carrey em um dos seus melhores papéis, chegam para reforçar as bilheterias. Nas continuações, “Zathura, Uma Aventura no Espaço”, aventura nos moldes de “Jumanji”, a comédia romântica “Tudo em Família”, estrelada por Diane Keaton e Sarah Jessica Parker, as comédias “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires, “Doze é Demais 2”, com Steve Martin, “Didi – O Caçador de Tesouros”, com Renato Aragão, “As Crônicas de Nárnia”, com batalhas épicas entre personagens lendários, os desenhos animados “Xuxinha e Guto Contra os Monstros do Espaço”, e, “Valiant”, da Disney, o suspense “Escuridão”, “A Passagem”, drama estrelado por Ewan McGregor e Naomi Watts, e, “King Kong”, de Peter Jackson, também com Naomi Watts.

Estréia 1: “As Loucuras de Dick e Jane”

Refilmagem de “Adivinhe Quem Vem Para o Jantar”, comédia de 1977, estrelada por George Segal e Jane Fonda. Nesta nova versão, dirigida por Dean Parisot (“Heróis Fora de Órbita”), o careteiro Jim Carrey (“Todo Poderoso”), e, Téa Leoni (“Impacto Profundo”) assumem os papéis do divertido casal de assaltantes. O filme conta a história de um casal, Dick (Carrey), e, Jane (Leoni) Harper, que se vê endividado quando Dick é despedido. Desesperados para arrumar uma forma de pagar suas contas, os dois decidem dar uma de Bonnie e Clyde, e, passam a fazer assaltos. Mas, seus planos nem sempre correm como eles esperam. Uma evolução do tipo de comédia, principalmente as de Carrey, é que se valoriza mais o humorismo visual do que o verbal, com uma forte crítica ao relacionamento indiferente das corporações, que só almejam o lucro. “As Loucuras de Dick & Jane” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “O Senhor dos Ladrões”

A mãe de Bo e Próspero acaba de morrer, deixando para os garotos apenas as belas histórias de fantasia, e, magia, sobre Veneza. Órfãos, eles são separados pelos tios, que querem adotar apenas Bo. Mas, os dois garotos fogem, e, conseguem chegar em Veneza. Lá, juntam -se a uma gangue de jovens ladrões comandados por Scipio, o Senhor dos Ladrões. Ele é um garoto de 15 anos, com uma mascara de nariz pontudo, e, botas, que o fazem parecer mais alto. O Senhor dos Ladrões percorre as vielas da “cidade da lua” e faz visitas noturnas a casas e palácios em busca de jóias e antiguidades de valor. Seus seguidores são a gentil Vespa, o atrapalhado Riccio, e, o sonhador Mosca, que vivem no Stella, um cinema abandonado. O bando sobrevive com o dinheiro arrecadado com a venda dos artigos roubados. Os tios dos garotos contratam um detetive particular, para encontrar Bo. Quando ele descobre os dilemas dos garotos, acaba decidindo ajudá-los, e, protegê-los, ao invés de separá-los. Produção alemã, baseada no best seller da escritora Cornélia Funke. A direção é de Richard Claus. “O Senhor dos Ladrões” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de dez anos. Atenção: cópia dublada.

Estréia 3: “Nanny McPhee, Uma Babá Encantada”

Os sete filhos do dedicado sr. Brown (Colin Firth) podem ser as crianças mais malcriadas do mundo. A mãe deles morreu há apenas um ano, e, a imperiosa Tia Adelaide (Angela Lansbury), ameaça cortar a pensão à família se o sr. Brown não se casar dentro de um mês. Suas dívidas o levariam à prisão, e, o destino das crianças seria inimaginável. O pai opta por não lhes contar a verdade, mas, quando as crianças descobrem, acham que seu pai não gosta o bastante delas para contar que logo terão uma madrasta. Como resultado, seus comportamentos pioram e elas conseguem pôr a 17a babá para correr. O sr. Brown vive ouvindo que a pessoa que seus filhos precisam é alguém chamada babá McPhee (Emma Thompson), mas, ele não tem idéia de quem ela seja, nem de como achá-la. Certa noite, aparece a lendária babá McPhee (Emma Thompson), uma pequena mulher comicamente feia e austera. Mas, uma batida da bengala mágica da babá McPhee muda tudo, e, as crianças percebem que toda a “arte” que fizerem será usada contra elas. “Nanny McPhee, Uma Babá Encantada” estréia nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Censura livre. Atenção: cópia dublada.

“O Jardineiro Fiel” é indicado para dez premiações do BAFTA

Mal terminou a entrega do Globo de Ouro, que rendeu uma estatueta para Rachel Weisz, e, “O Jardineiro Fiel”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, já está na expectativa de novos prêmios. O Oscar Britânico, o BAFTA, anunciou os finalistas, e, o filme do brasileiro está indicado em dez categorias (Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Melhor Ator, Melhor Atriz, Cinematografia, Edição, Som, Filme Britânico de Destaque do Ano, Conquistas em Direção e Conquistas em Trilha Sonora). A entrega dos prêmios acontecerá no dia 19 de fevereiro, em Londres.

Faça o seu filme na internet

O portal “AnyFilms.net”, mantido pela Sansung, permite, ao usuário, criar o seu próprio filme, a partir de pequenas produções de diretores de Hollywood. Esses filmes podem ser assistidos on-line, ou, em celulares da marca, que possuam o recurso vídeo player, via download. Mas, a atração do site é a possibilidade de criar um filme interativo, ao escolher a opção “Interactive Films”. Através desta plataforma, os usuários podem se tornar produtores, ao montar, e, adaptar o conteúdo, por meio de diversas combinações de enredo, estilo e humor. Para saber mais, consulte o site www.anyfilms.net.

CURTAS

Muita gente nem percebeu, mas, a trilha sonora de “Se Eu Fosse Você” tem a participação da cantora Marina Elali, com as canções “Mulheres Gostam” e “Hipnotizar Vocês”. # Na mesma trilha sonora, duas deliciosas interpretações da 9ª Sinfonia de Beethoven, pelas Jovens Princesas de Petrópolis. # O cineasta Breno Silveira recebeu, nos Estados Unidos, o prêmio John Schleisinger, no Festival de Palm Springs, pelo trabalho em “2 Filhos de Francisco”. O prêmio é dirigido para diretores estreantes, com filmes de ficção, ou, documentário, que demonstrem potencial, e, promessa de grande carreira, e, estilo marcante. # Acabou o Ano Novo, já é Carnaval. O site oficial do Carnaval 2006 da Rede Globo traz informações sobre desfiles, escolas de samba e história dos carnavais paulista e carioca. Estão disponíveis as fichas técnicas das escolas, letras dos sambas, notícias sobre os eventos, como participar dos ensaios, e, até mesmo, desfilar. www.globo.com/carnaval2006.

Comédia faz bem ao coração

Que a alegria faz bem ao coração, já se desconfiava. Agora, uma pesquisa aplicada por uma equipe da universidade americana de Maryland, comprovou que, assistir comédias faz aumentar o fluxo sanguíneo, pois o ato de rir tem o efeito de expandir as artérias. Por outro lado, os filmes tristes ou tensos, provocam o efeito contrário. Segundo o chefe da equipe, Michael Miller, o impacto de assistir a um filme engraçado foi equivalente a uma sessão de exercícios aeróbicos, ou, do início de um tratamento com estatina, droga utilizada para reduzir o colesterol. Obviamente, não se pode generalizar, pois cada um tem o seu tipo de comédia favorito, seja com Jim Carrey, Casseta & Planeta, ou, “Todo Mundo em Pânico”. O que importa mesmo, é dar boas risadas.

Filme Recomendado: “FormiguinhaZ”

Formiguinha quase perfeita

Dizem que, para ser considerado bom, um filme infantil deve manter as crianças rindo, ao mesmo tempo em que mantém Papai e Mamãe acordados. Acrescentaria a isso, “entediado”, que é a maior reclamação de quem assiste esses desenhos repletos de cantorias. Neste momento, estão em cartaz nada menos do que sete títulos infantis, e, alguns não passariam na prova acima. Seria interessante, então, revisitar um filme que passaria, com louvor, “FormiguinhaZ”, da Dreamworks.

A história é curiosa. Uma formiga operária, Z, vive incomodada com o fato de ser uma parcela insignificante da sociedade coletiva formada pelo formigueiro. Por um acaso, conhece a princesa Bala, a herdeira do trono, no bar do formigueiro. Apaixonado, convence o seu melhor amigo, o soldado Weaver, a trocar de lugar com ele, para que possa rever a princesa. Para seu azar, o grupo de soldados em que se encontra é mandado para uma guerra suicida contra os terríveis cupins.

Após uma batalha sangrenta, apenas Z consegue sobreviver, voltando para o formigueiro como herói. Ao ser desmascarado, ele, acidentalmente, seqüestra a princesa, e, inicia com ela a jornada para um mítico lugar conhecido como Insetopia, onde a comida nunca falta. Enquanto isso, o malévolo General Mandíbula leva adiante o seu plano de eliminar todo o formigueiro, ficando só com os soldados “puros”.

Correndo contra o tempo, Z busca uma maneira de salvar o formigueiro, e, a sua amada Bala, destinados a uma horrível morte por afogamento. Para saber o desfecho, assista o desenho.

“FormiguinhaZ” é desenho animado, tem uma história clássica do tipo menino-pobre-que-vence-os-bandidos-e-casa-com-a-princesa, tem muitas situações cômicas, ou, de ação incessante, mas, ao mesmo tempo, é uma festa para os olhos, em especial, para o apreciador de cinema. Isso se deve a um notável trabalho de seleção, e, criação dos personagens, que os transformou num alter ego dos dubladores originais. Deixe-me explicar melhor.

O personagem principal, a formiguinha operária Z, é a cópia fiel de Woody Allen, e, seus personagens autobiográficos, a ponto de muitas pessoas pensarem que ele teve participação na produção, direção ou roteiro de “FormiguinhaZ”. Na verdade, Z foi elaborado para assemelhar-se ao famoso ator e diretor, não só na verborragia incessante, repleta de neuroses, como também no físico miúdo. Só faltaram mesmo os onipresentes óculos de Allen.

Os outros personagens também estão perfeitos: o fortão Weaver é a cara de Stallone no melhor estilo Rambo, Gene Hackman encarna o general Mandíbula, Christopher Walken faz o coronel Cutter, braço direito do general, e, Danny Glover dá vida ao veterano soldado Barbatus. As presenças femininas ficam por conta de Anne Bancroft, como a Rainha-Mãe, Jennifer Lopez, como Azteca, e, Sharon Stone, como princesa Bala. Ou seja, só pessoal da pesada. Mas, a criação de cada personagem não se resumiu à semelhança física. A atuação de cada figurinha lembra, de imediato, o seu inspirador, pois a forma de atuar foi copiada tal e qual. As porradas de Stallone, o jeito ácido de Walken, a tranqüilidade de Glover, a sensualidade de Sharon Stone, tudo isso está muito transparente, no filme.

Mas, “FormiguinhaZ” não se resumiu a um elenco de primeira, diálogos inteligentes e um roteiro bem amarrado. O trabalho de computação gráfica foi perfeito, e, só no documentário adicional é que se tem idéia de quantos meses foram gastos, apenas para definir a forma inicial dos personagens. Que não se dirá então de todo o filme! Talvez esse seja o aspecto que empatou com o concorrente “Vida de inseto”, produzido, pela Disney, na mesma época.

Mas, enquanto a computação gráfica faz a festa para os olhos e ouvidos, é muito interessante perceber a mensagem antimilitarista do filme, e, a crítica à padronização da moda, da música, da dança… Com muito humor, é mostrada uma rave que parece mais uma parada militar, com todos dançando com movimentos iguais. As cenas de batalha, por outro lado, conseguem trazer uma sensação da crueldade da guerra, que dificilmente se imaginaria em um filme infantil.

A edição, em DVD, traz o formato de tela Widescreen, e, o áudio em inglês, português, e, espanhol, todos em Dolby Digital 5.1. As legendas trazem essas mesmas opções mais o cantonês. Como extras, comentários em áudio do diretor Tim Johnson e Eric Darnell, documentários “Behind-the-scenes Featurette”, “Basic of Computer Animation”, “Facial Animation”, e, “Early design process”, além de trailer de cinema. Tudo isso detalhadamente explicado… em inglês, sem nenhuma legenda, nem para remédio. Se você não tiver alguma fluência na língua madrasta, vai ficar só vendo as figurinhas. Outro gol contra da Dreamworks.

Apesar deste (péssimo) aspecto do disco, “FormiguinhaZ” é um filme excelente, divertido, e, envolvente, que, certamente, garantirá mais do que os oitenta minutos regulamentares de entretenimento. Conforme disse no início, é um filme que traz diversão para todos, dos pequerruchos aos grandalhões da casa. Prepare a pipoca e o refrigerante e bom filme!