Claquete 04 de novembro de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Palmas para a Polícia Federal, que prendeu os modernos piratas “lavadores de dinheiro”, em Natal. É procurar, que irão encontrar muitos mais… Enquanto isso, nos cinemas, estréiam, neste final de semana, o suspense “Jogos Mortais 2”, “Cão de Briga”, drama de ação, com Jet Li e Morgan Freeman, e, “Tudo Acontece em Elizabethtown”, com Orlando Bloom e Kirsten Dunst. Nas continuações, a aventura capa-e-espada “A Lenda do Zorro”, com Antonio Banderas e Catherine Zeta-Jones, o elogiado drama “Crash – No Limite”, a comédia besteirol “O Virgem de 40 Anos”, a ótima animação “A Noiva Cadáver”, do diretor Tim Burton, “O Jardineiro Fiel”, primeiro filme internacional do brasileiro Fernando Meirelles, “O Coronel e o Lobisomem”, com Diogo Vilela e Selton Mello, e, “Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais”, excelente animação, dos mesmos criadores de “A Fuga das Galinhas”. Só na sexta-feira e sábado, acontece a pré-estréia do drama “Marcas da Violência”.

Estréia 1: “Jogos Mortais 2”

A tradição do cinema diz que uma continuação nunca é melhor que o filme original. Pelo jeito, os números dizem outra coisa, já que, no mercado americano, “Jogos Mortais 2” está na liderança, em sua primeira semana, batendo até “A Lenda do Zorro”. O filme é a seqüência do violento “Jogos Mortais”, de 2004, com mesmo serial killer, Jigsaw. Enquanto investigam os resultados sangrentos de um terrível assassinato, o Detetive Eric Mason tem a intuição de que se trata de outro crime de Jigsaw, o notório assassino em série, que desapareceu, deixando um rastro de corpos — e membros — para trás. E, Mason está certo. Jigsaw está agindo novamente. Mas, ao invés de duas pessoas, trancadas numa sala, com apenas uma impensável saída, há muito mais. Oito estranhos — desavisados de sua ligação uns com os outros — são forçados a entrar no jogo, que desafia sua inteligência, e, coloca suas vidas em perigo. “Jogos Mortais 2” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 16 anos, que não tenham estômagos fracos.

Estréia 2: “Cão de Briga”

“Cão de Briga” é um interessante filme, misto de ação e drama, escrito por Luc Besson especialmente para Jet Li. Desde que Bart (Bob Hoskins) retirou Danny (Jet Li) das ruas, quando tinha apenas quatro anos, sempre o tratou como um cão, tendo treinado-o para sempre atacar. Danny, hoje, é uma arma mortal, sendo capaz de partir para cima de qualquer pessoa após uma simples ordem, sem lhe dar qualquer chance de vitória. Isolado do mundo, Danny não tem outra escolha senão aceitar o destino escolhido por Bart. Um dia, por acaso, ele encontra Sam (Morgan Freeman), um cego que ganha a vida como afinador de pianos. Sam e Victoria (Kerry Condon), sua nora, fazem com que Danny descubra uma humanidade que ele jamais acreditou que possuísse. A partir de então, sua percepção da vida muda radicalmente, o que faz com que Bart e seus asseclas decidam eliminá-lo. “Cão de Briga” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Estréia 3: “Tudo Acontece em Elizabethtown”

Após fazer com que a empresa em que trabalha perca milhões de dólares, Drew Baylor (Orlando Bloom) é demitido por justa causa. Logo em seguida, ele leva uma fora de Ellen (Jessica Biel), sua namorada, e, chega a pensar em suicídio. Para completar a maré de azar, o pai dele morre, obrigando Drew a retornar à sua cidade-natal, Elizabethtown. Acreditando que não há mais motivos para viver, ele conhece, durante a viagem, Claire (Kirsten Dunst), uma aeromoça, que faz com que ele, novamente, acredite na vida. Dirigido por Cameron Crowe (“Quase Famosos”), o elenco conta, ainda, com Susan Sarandon e Alec Baldwin. “Tudo Acontece em Elizabethtown” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Censura livre.

Pré-Estréia: “Marcas da Violência”

Tom Stall (Viggo Mortensen) leva uma vida tranqüila, e, feliz, na pequena cidade de Millbrook, no estado de Indiana, ao lado de sua esposa, Edie (Maria Bello), e, seus dois filhos. Um dia, esta rotina de calmaria é interrompida, quando Tom consegue impedir um assalto, em seu restaurante. Percebendo o perigo, Tom se antecipa, e, consegue salvar seus clientes e amigos, matando dois criminosos em legítima defesa. Considerado um herói, Tom tem sua vida inteiramente transformada, a partir de então. A mídia passa a segui-lo, o que o obriga a falar com ela regularmente, e, faz com que ele deseje que sua vida retorne à calma anterior. Para piorar as coisas, surge, então, em sua vida, Carl Fogarty (Ed Harris), um misterioso homem, que acredita que Tom lhe fez mal no passado. Suspense dirigido por David Cronenberg (“A Mosca”), baseado em graphic novel de John Wagner e Vince Locke. “Marcas da Violência” terá pré-estréia somente na sexta-feira e sábado, na sessão de 21h30, do Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Chega o DVD de “Star Wars III”

O último filme da série “Guerra nas Estrelas”, que faz a ligação entre os filmes dos anos 70 e os atuais, chega, agora, em DVD, numa edição dupla, recheada de extras. E, para quem quer completar a coleção, uma loja de departamentos de Natal está oferecendo o filme novo, e, a trilogia antiga, por módicos R$ 150. “Star Wars III: A Vingança dos Sith”, embora seja considerado o filme mais fraco da nova trilogia, fez a alegria dos fãs, nos poucos segundos em que o vilão Darth Vader retorna à vida. São mais de seis horas de material extra, incluindo o interessante documentário “Em Um Minuto”, onde é mostrado, com detalhes, o processo de filmagem de uma cena do filme, onde se examina tudo, e, todos, que estiveram envolvidos na realização de meros sessenta segundos do Episódio III.

“O Expresso Polar”, em DVD

Já está disponível, em DVD, a curiosa animação “O Expresso Polar”. Baseado no livro de Chris Van Allsburg (o mesmo autor de “Jumanji”), o filme conta a história de um garoto, que acredita em Papai Noel, e, na noite de Natal embarca num trem rumo ao Pólo Norte, para conhecer o bom velhinho. Prodigioso trabalho de animação, “O Expresso Polar” usa a técnica “motion-capture”, capturando os movimentos de um ator real, e, transportando-os para o mundo digital. No filme, Tom Hanks interpreta vários personagens, entre eles, o menino, o condutor do trem, um robô, e, o Papai Noel. Usando uma roupa especial com sensores que captavam seus movimentos, Tom Hanks teve seus movimentos e suas expressões registrados por computador, criando os diferentes personagens. Lamentavelmente, o disco traz apenas o filme, à exceção do trailer de cinema, e, formato de tela cheia. Um gol contra da Warner.

“Neste Mundo”, em DVD

Para quem gosta de produções fora de Hollywood, uma opção interessante chegou nas locadoras. O filme é “Neste Mundo”, produção inglesa, de Michael Winterbotton, o mesmo diretor de “Bem-vindo a Sarajevo”. Jamal (Jamal Udin Torabi) e Enayat (Enayatullah) são dois primos, que vivem na cidade de Peshawar, na fronteira do Paquistão, e, que são enviados à Inglaterra, para ter uma vida melhor. O roteiro da viagem é feito por traficantes de ópio, cigarros, e, peças de carro roubadas, sendo longo e perigoso. Eles entram no Irã, escondidos em caminhões, e, vão a pé, pelas montanhas do Curdistão, até chegarem à Turquia. Em Istambul, a dupla consegue emprego, com o objetivo de conseguir dinheiro para pagar a próxima etapa da viagem: uma viagem de navio até a Itália. Nas locadoras.

“Jogos Mortais”, em DVD

Quem quiser dar uma conferida no filme original, antes de ir assistir a continuação nos cinemas, basta dar uma passada na locadora. “Jogos Mortais” conta a história de Jigsaw, um assassino que possui uma marca registrada: ele deixa, em suas vítimas, uma cicatriz em forma de quebra-cabeças, que faz com que elas cometam atos extremados, para se salvar. O detetive David Tapp (Danny Glover) é designado para investigar os assassinatos, bem como, capturar seu autor. Porém, o caminho evasivo, seguido por Jigsaw, leva o detetive a desenvolver uma obsessão por capturá-lo. O disco traz formato de tela widescreen, som Dolby Digital 5.1, e, como extras, “Making of”, Galeria de pôsteres, Trailer do filme, Videoclipe da banda Fear Factory “Bite the hand that bleeds” (versão normal, e, sem censura), e, comentários em áudio, do diretor James Wan, e, do escritor/ator Leigh Whannel. Nas locadoras.

Filme recomendado: “Irmão Urso”

As dores do crescimento

Na indústria do cinema, o fato de um filme ser lançado por um grande estúdio, nem sempre é certeza de boas bilheterias. Isso pode acontecer devido a inúmeras causas, mas, uma delas, é quando a temática do filme não é apropriada para o público ao qual foi direcionado. Este parece ter sido o maior problema de “Irmão Urso”, uma bela peça dos Estúdios Disney, lançada em 2003.

A história passa-se há muito tempo atrás, quando a humanidade emergia da última Era Glacial, e, os Inuits (esquimós) viviam nas terras do Círculo Polar, em harmonia com a Natureza.

Entre eles, viviam três irmãos, Sitka, o mais velho, que fazia às vezes de pai, para os outros, Denahi, o segundo, e, Kenai, o caçula, que tinha uma habilidade especial para se meter em encrencas. Ora repreendido, ora mimado, Kenai estava muito feliz, pois, finalmente, iria receber o seu totem, uma relíquia sagrada, presenteada pela xamã Tanana, a feiticeira da tribo. O totem, que podia ser a imagem de uma águia, alce, peixe, etc, tinha um significado simbólico, que tinha a ver com a personalidade da pessoa que estava sendo iniciada no mundo adulto.

Para surpresa de Kenai, o seu totem foi o de um urso, animal que na mitologia inuit está ligado ao amor. Irritado, pois esperava algo mais heróico e agressivo, Kenai tem outra surpresa desagradável, ao perceber que um urso real roubara a cesta de peixes que ele e os irmãos haviam pescado. Num impulso, pega a lança e sai, em perseguição ao animal.

Os irmãos, preocupados, resolvem segui-lo, e, logo o encontram encurralado por um urso. Para salvar a vida dos irmãos mais novos, Sitka provoca a quebra da geleira em que se encontram, e, ele e o animal caem no mar gelado.

Percebendo que o irmão morrera, Kenai fica cego, pelo desejo de vingança, e, persegue o urso, incansavelmente. No alto de uma montanha, encurrala o animal, e, mata-o, num golpe fatal. Neste instante, as luzes boreais, que os inuits acreditam serem os espíritos de seus ancestrais, descem ao redor de Kenai, transformando-o em um urso! Para piorar as coisas, o outro irmão, Denahi, pensa que Kenai foi morto pelo urso que vê à sua frente, e, parte em perseguição dele.

Conseguindo fugir, Kenai, em sua nova forma, encontra com a feiticeira Tanana. Ela lhe diz que, para voltar à sua forma humana, ele terá que seguir até o lugar em que a terra e as luzes se encontram, para poder entender porque o espírito de Sitka o castigou daquela maneira.

Sem saber o que fazer, Kenai vaga pela floresta, até encontrar Koda, um pequeno filhote de urso que fala feito uma matraca, mas, que diz saber onde fica o lugar que o outro procura. No caminho, encontram dois alces malucos, Rutt e Tuke, que, ora ajudam, ora atrapalham, mas permanecem ao lado dos dois ursos.

Aos poucos, enquanto vai crescendo a amizade com o pequeno Koda, e, vai percebendo como é a vida pela ótica dos ursos, Kenai vai mudando os seus conceitos, percebendo que o egoísmo e a vaidade, inerentes à juventude, eram valores que não tinham mais sentido. A amizade, altruísmo e o amor, serão os verdadeiros valores que irão ajudá-lo a alcançar os seus objetivos. O problema é que, além de todas as dificuldades da jornada, ainda terá que confrontar o próprio irmão, que apenas o vê como um urso assassino.

O recado de “Irmão Urso” é simples e direto. O amadurecimento pessoal, nas relações com os outros, passa por nos colocarmos na posição do outro. Parece fácil, mas, não é. A maior parte de nossas vidas, estamos julgando, e, criticando os outros, com a expressão “se fosse eu faria assim…”, sempre presente.

Na maioria das vezes, estamos tão “armados”, que, simplesmente, não conseguimos ouvir o que o outro tem a dizer, filtrando só aquilo que nos interessa, ou, pior ainda, colocando palavras inexistentes nos lábios do interlocutor.

Para Kenai, a dura lição de ser transformado, foi necessária, pois ele percebeu que não era o único a ter perdido um ente querido, mas, que, ele próprio, causara esta perda para alguém. A sua redenção estará no reconhecimento disto, e, de assumir as suas responsabilidades.

Apesar da mensagem séria, “Irmão Urso” é um filme muito divertido. Seguindo o padrão Disney, com muito colorido, bichinhos falantes engraçados, e, muita cantoria, o filme é apropriado para crianças dos oito aos oitenta (acima, e, abaixo, também…).

Tecnicamente, a imagem é primorosa, com um nível de detalhes impressionante, mantendo um equilíbrio entre o excesso de computação gráfica e a tradição dos desenhos feitos à mão, dos primeiros trabalhos, hoje clássicos, de Walt Disney.

A dublagem, tanto a original, como a brasileira, estão fantásticas. Na versão americana, também presente no DVD, os papéis principais são dublados por Joaquin Phoenix (“Gladiador”) e Rick Moranis (“Querida, Encolhi as Crianças”). Na versão nacional, Selton Mello dubla Kenai, enquanto Luiz Fernando Guimarães e Marcos Nanini dão vida ao par de alces malucos.

A trilha sonora, toda assinada e interpretada por Phil Collins, é um show à parte. Como acontece na maioria dos filmes da Disney, na versão dublada em português, as músicas são traduzidas, e, obviamente, interpretadas por músicos brasileiros, como Juliano Cortuah. Para ouvir a voz de Phil Collins, será necessário optar pelo áudio original, em inglês. A exceção, é a música “Transformation”, cuja letra, no idioma inuit, foi interpretada por um coral de cantoras búlgaras!

O DVD, além de manter o formato de tela original em widescreen anamórfico, oferece as trilhas sonoras em português e inglês, em Dolby Digital 5.1. No bônus, um farto material, pequenos documentários, jogos e videoclipes, com uma linguagem direcionada para as crianças, mas, interessante, também, para os adultos. Os extras são “Tomadas adicionais do Koda”, Comentários de Rutt e Tuke (com legendas em português), Videoclipe “Look Through My Eyes”, com Phil Collins, Jogos do Irmão Urso, Lendas de ursos, “Fazendo barulho”, documentário sobre os efeitos sonoros, Revisão de arte, Cenas inéditas, “Fishing Song”, canção inédita, videoclipe “Transformation”, canção com a letra de Phil Collins, interpretada pelas cantoras búlgaras, e, dicas de DVD, com o Selton Mello.

O defeito, que poderíamos observar, na edição brasileira de “Irmão Urso”, é, exatamente, a total ausência de informação, sobre qualquer um dos músicos ou dubladores nacionais. Um ponto a melhorar, Irmão Disney!