Claquete 23 de setembro de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Entra furacão, sai furacão, mas, nada de dar uma passada em Brasília. Enquanto isso, os americanos atacam de todo lado. Não, não é uma invasão dos gringos. Neste final de semana, estréiam “Ameaça Invisível – Stealth”, sobre um moderníssimo caça que cria inteligência própria – e, enlouquece, e, “Os Gatões – Uma Nova Balada”, comédia de ação, baseada em um famoso seriado dos anos 70. Nas continuações, temos “Água Negra”, suspense dirigido pelo brasileiro Walter Salles, “A Pessoa é Para o Que Nasce”, documentário sobre três cegas nordestinas, “Vôo Noturno”, de Wes Craven, “Gaijin – Ama-me Como Sou”, a seqüência de “Gaijin”, da diretora Tizuka Yamazaki, “Deu Zebra”, um filme família, sobre uma zebra que pensava ser um cavalo de corridas, as comédias românticas “Penetras Bons de Bico”, com Owen Wilson, e, “Amor em Jogo”, com Drew Barrymore, o terror “A Chave Mestra”, e, “2 Filhos de Francisco”, cine-biografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. No filme de arte, a produção européia “A Janela da Frente”.

Estréia 1: “Ameaça Invisível – Stealth”

Os tenentes Ben Gannon (Josh Lucas), Kara Wade (Jessica Biel), e, Henry Purcell (Jamie Foxx) são pilotos de uma divisão de elite da marinha americana, que testa jatos ultra-secretos. O mais recente jato fabricado conta com uma inteligência artificial, apelidada de EDI, que faz com que o ele não precise ser tripulado. Apesar da reticência de Ben em ter, na frota, um jato que não conta com o fator humano, o capitão George Cummings (Sam Shepard) autoriza sua utilização. Para a surpresa de todos, EDI demonstra ser um excelente aviador, e, cumpre, com exatidão, as missões a ele delegadas. Entretanto, em uma viagem de volta a um cargueiro, EDI é atingido por um raio, o que faz com que o cérebro do robô se expanda de uma forma que seus criadores jamais poderiam ter previsto. EDI é autorizado a retornar à ativa, mas, os problemas provocados pelo raio pioram em meio a uma missão. Ele ataca o alvo, mesmo com a ordem de Ben, para que não fizesse isto. A situação piora, ainda mais, quando EDI, por conta própria, decide realizar uma missão secreta que, caso tenha êxito, pode gerar uma guerra nuclear. A direção é de Rob Cohen (“Velozes e Furiosos”). “Ameaça Invisível – Stealth” estréia nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Estréia 2: “Os Gatões – Uma Nova Balada”

Chega, ao mercado, mais um filme baseado em um seriado de tv. A bola da vez é “Os Gatões – Uma Nova Balada”, baseada na série “Os Gatões”, que foi ao ar no final dos anos 70. O negócio da família Duke é bebida ilegal, que é fabricada pelo tio Jesse (Willie Nelson). Luke (Johnny Knoxville), e, Bo (Seann William Scott), que são primos, são também os responsáveis pela entrega das bebidas. Para isso, eles contam com um Dodge Charger laranja 1969, apelidado de “General Lee”. Luke e Bo, volta e meia, enfrentam problemas com a polícia, o que faz com que tenham que andar sempre em alta velocidade. A dupla também se mete em confusão no Boar’s Nest, onde sua prima Daisy (Jessica Simpson) trabalha, como garçonete. Após descobrirem que as terras de seus vizinhos estão sendo tomadas irregularmente pelo chefe Hogg (Burt Reynolds), Luke e Bo decidem preparar um plano para salvar o local em que moram. Para filmar todas as estrepolias dos personagens, foram utilizados 26 Dodge Charger, que, aqui no Brasil eram apelidados de “Dojão”. A direção é de Jay Chandrasekhar. “Os Gatões – Uma Nova Balada” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Filme de Arte: “A Janela da Frente”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, apresenta a produção européia “A Janela da Frente”. Giovanna (Giovana Mazzogiorno) é a jovem mãe de duas crianças, que tem uma vida infeliz no casamento. Um dia, Filippo (Filippo Nigro), seu marido, acolhe, em casa, um velho que perdeu a memória, e, que guarda segredos da 2ª Guerra Mundial. Tentando ajudar o homem a recuperar sua identidade, Giovanna pede ajuda a Lorenzo (Raoul Bova), um jovem que mora do outro lado da rua. Aos poucos, Giovanna se sente atraída por Lorenzo, mas, a partida dele da cidade, em breve faz com que ela comece a questionar a sua própria vida. A direção é de Ferzan Ozpetek. A Sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 27, em sessão única, às 21h. Para maiores de 14 anos.

Doc TV na TV Cultura

Já ouviu falar no Doc TV? Este é um programa de fomento para produções independentes, mantido por vários organismos públicos, entre os quais, o Ministério da Cultura. Em 2005, foram selecionados, entre 810 inscritos, 35 documentários, que estão sendo exibidos na TV Cultura, sempre aos domingos. O documentário desta semana é “Paulo Companheiro João”, do diretor Iur Gomez, sobre Paulo Stuart Wright. Deputado eleito em 1962, em Santa Catarina, foi cassado pelo AI-1, em maio de 1964. Na condição de clandestinidade, desde a sua cassação, foi visto, pela última vez, em setembro de 1973, durante um encontro furtivo num trecho ferroviário no Estado de São Paulo. Doc Tv vai ao ar nos domingos, sempre às 23h.

FOX lança filmes de Robert Wise em DVD

Numa homenagem póstuma ao grande diretor, morto em 14 de setembro, a distribuidora FOX lançará, no Brasil, em março, a edição especial de 40 anos de “A Noviça Rebelde”. Na nova edição, em DVD, serão inclusos, entre outros extras, comentários de Wise. Serão, também, disponibilizados em DVD, filmes clássicos, como “Amor, Sublime Amor”, “O Dia em Que a Terra Parou”, e, “O Canhoneiro de Yang-Tsé”. Em Outubro, os lançamentos da Fox Classics serão “A Estrela” e “Ratos do Deserto”.

“A Feiticeira”, em DVD

Antes que meus leitores perguntem, explico que o título mencionado não se refere ao recente filme estrelado por Nicole Kidman, que, nem ao menos estreou em nossos cinemas, mas, à série televisiva original, dos anos 60. O box, com quatro discos, traz os 16 primeiros episódios da série, com as aventuras e desventuras da jovem e atraente bruxa Samantha (Elizabeth Montgomery), que resolve abandonar o mundo mágico, e, viver uma vida normal de dona de casa, ao casar-se com Darrin (Dick York). Só que, para atrapalhar, volta e meia, a mãe de Samantha, Endora (Agnes Moorehead), que não aceita a decisão da filha, dá alguma “ajuda” para que o casamento fracasse. A série esteve no ar entre 1964 até 1972, num total de 248 episódios. O box traz ainda, como extras, os documentários “A Mágica Revelada” e “Mágica e Acidentes”, além de Trailers do seriado.

“Os Deuses Devem Estar Loucos”, em DVD

Recentemente, encontrei, em um balcão de promoções, o DVD de “Os Deuses Devem Estar Loucos”. Este filme, de 1980, é uma ingênua, mas, divertida comédia sul-africana, onde o ator principal (N!xau), assim como Xi, o personagem que vive, jamais havia entrado em contato com a civilização. Os primeiros quinze minutos do filme são fantásticos, mostrando a diferença entre o mundo “civilizado” e o da pequena comunidade de Xi. A paz do mundo di Xi é alterada, quando uma garrafa de Coca-Cola vazia é atirada de um avião. Acreditando ser um presente dos deuses, o objeto apresenta muitas utilidades. Contudo, começa a gerar brigas e ciúmes, o que leva Xi a querer devolvê-la aos deuses. Nessa jornada, encontra Andrew Steyn (Marius Weyers), um atrapalhado pesquisador, Kate Thompson (Sandra Prinsloo), uma professora desiludida com o mundo moderno, além de terroristas, policiais, e, todas as dificuldades do mundo civilizado. Como extras, um documentário que mostra a trajetória de N!xau, dez e vinte e cinco anos após o filme. Apesar da simplicidade do filme, é um excelente tema de reflexão, sobre o que chamamos de “civilização”.

Filme recomendado: “Água Negra”

Água me leva, água me traz

Deve ser difícil para um diretor latino-americano penetrar no fechado clube do cinema de Hollywood, e, ainda mais, fazendo cinema de gênero, no caso, suspense. Mas, Walter Salles saiu-se bem, com “Água Negra”, filme falado em inglês, filmado em Nova York, e, com atores americanos. É difícil comparar com “Central do Brasil”, mas, certamente, está acima da média do mercado.

Numa tendência do mercado hollywoodiano, esta é mais uma refilmagem de uma produção japonesa. “Água Negra” é baseado no primeiro “Dark Water”, de Hideo Nakata, e, em um conto de Koji Suzuki, ambos famosos por terem dirigido, e, escrito “O Chamado”. Contudo, a contextualização não poderia ser mais ocidental.

A personagem central, Dahlia (Jennifer Connely) é uma pessoa complicada, que vive uma situação complicada. Ela está saindo de um casamento, através de um processo de separação traumática, onde as desavenças com o marido concentram-se em torno da filha única, do casal. Kyle (Dougray Scott), o ex-marido, quer morar em Jersey, cidade vizinha a Nova York, mas, Dahlia insiste em morar perto de Manhattan, onde tenta retornar ao mercado de trabalho. Como as leis americanas são severas, com relação a espaço para filhos, ela precisa alugar um apartamento de dois quartos, o que não dá muitas opções, considerando a sua situação financeira.

A solução ideal parece estar na Roosevelt Island, que, como o nome indica, é uma ilha fluvial, entre Manhattan e Queens. Na ilha, um conjunto maciço de prédios decadentes propicia moradia mais barata, para quem está disposto a enfrentar as condições do local. Este torna-se o principal ponto de conflito entre Dahlia e Kyle, já que este fixou-se em Jersey, do outro lado de Manhattan, e, reclama que a ex-mulher está colocando obstáculos para que ele fique perto da filha.

No centro desta disputa está Ceci (Ariel Gade), uma encantadora criança de cinco anos, ainda sem entender o que acontece entre os seus pais. A princípio, reclamando do novo bairro, do novo apartamento, e, da nova escola, Ceci, subitamente, muda de opinião, pedindo insistentemente à mãe para que se mudem para a ilha.

O divórcio e a nova casa não são os únicos problemas de Dahlia. Desde criança, ela sofria a rejeição da mãe, alcoolatra e viciada em drogas, que não escondia que Dahlia era um fardo para ela. A lembrança mais recorrente da infância de Dahlia era que a mãe sempre a deixava esperando após a aula.

A princípio, tudo parece correr bem. O apartamento, recém pintado, parece ser o ninho agradável para quem quer recomeçar a vida. Logo, Dahlia consegue um emprego, que, embora não seja maravilhoso, fornece as condições de que ela precisa, para se manter.

O primeiro problema acontece com um estranho vazamento, no teto do quarto da menina. Irritada, Dahlia aciona Murray (John C. Reilly), o corretor responsável pelo apartamento. Após muitas discussões, ele faz com que Veeck (Pete Postlethwaite), o zelador, conserte o vazamento. Este reclama de jovens vândalos, que invadem o apartamento acima do de Dahlia, e, deixam as torneiras abertas.

Os eventos se repetem, com sons de passos e móveis arrastados, e, para complicar, Ceci conversa e brinca com uma amiga imaginária, o que atrapalha a sua vida no colégio. Dahlia fica assustada, quando Ceci diz que o nome desta amiga é Natasha, o mesmo nome encontrado em uma mochila que pertencia a uma menina que morava no apartamento acima do delas, e, que fora embora, com o pai.

O vazamento volta, sempre com uma água negra, perturbando a paz de Dahlia, que, tanto suspeita que o ex-marido contratou os delinquentes do prédio, quanto começa a preocupar-se com a própria saúde mental, já que tem pesadelos recorrentes, e, chegou a dormir um dia inteiro.

Tendo que administrar ex-marido, vazamentos, corretor malandro, porteiro mal-humorado, a coisa termina estourando sobre o lado mais fraco. Dahlia obriga a menina a ignorar a sua amiga imaginária. A solução termina sendo pior, já que a garota se descontrola, em plena aula, no que é considerado um ataque histérico. Sem conseguir contato com Dahlia, o colégio chama o pai, que a leva consigo.

Sem saber da filha, Dahlia fica desesperada, pois parece que todos os problemas estouram de uma vez só, inclusive o vazamento. Desta vez, as visões de Dahlia a conduzem ao que parece ser a origem de todos os fatos estranhos. Ponto. Para saber mais, assista ao filme.

Embora o filme seja fortemente centrado em sua personagem central, um coadjuvante importante é a água. É a água do rio, que cerca e aprisiona os habitantes da ilha, é a água da chuva que cai incessantemente, é a água da banheira, onde acontecem momentos importantes, e, é a água negra do título, que invade o apartamento.

Walter Salles conseguiu um equilíbrio importante, entre o suspense psicológico, e, o terror das aparições fantasmagóricas. Existe sempre uma dúvida, no espectador, se as coisas que estão acontecendo são reais, ou, frutos da imaginação da mente perturbada de Dahlia. Essa, aliás, é a maior reclamação das pessoas que saem insatisfeitas, geralmente, adolescentes, acostumados ao “mata-mata”, do gênero terror.

Destaque para Jennifer Connely, ganhadora de um merecido Oscar, por “Uma Mente Brilhante”, que, em “Água Negra”, praticamente leva o filme sozinha.