Claquete 09 de setembro de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Furacão na Louisiana, tufão no Japão, políticos no Brasil. Cada um com os seus karmas… Enquanto isto, nos cinemas natalenses, estréia “Penetras Bons de Bico”, com Owen Wilson, e, “Vôo Noturno”, de Wes Craven, o criador da série “Pânico”. Nas continuações, “Gaijin – Ama-me Como Sou”, a seqüência de “Gaijin”, da diretora Tizuka Yamazaki, o ótimo “Hotel Ruanda”, com Don Cheadle, “Deu Zebra”, um filme família, sobre uma zebra que pensava ser um cavalo de corridas, as comédias românticas “Amor em Jogo”, com Drew Barrymore, e, “Procura-se um Amor Que Goste de Cachorros”, com Diane Lane e John Cusack, o terror “A Chave Mestra”, “2 Filhos de Francisco”, cine-biografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, e, a comédia “A Sogra”, com Jennifer Lopez e Jane Fonda. No filme de arte, a produção americana “Contra Corrente”.
Estréia 1: “Penetras Bons de Bico”
John (Owen Wilson) e Jeremy (Vince Vaughn) são amigos de longa data, trabalhando juntos, como mediadores de divórcios. A dupla tem como hobby ir a festas de casamento nos fins de semana, sem serem convidados, com o objetivo de seduzir mulheres que se entusiasmam com a simples idéia de se casar. Um dia, John se apaixona por uma noiva, e, as coisas se complicam, quando ele descobre que sua nova paixão é filha do Secretário do Tesouro Americano (Christopher Walken de “Prenda-me se For Capaz”). No papel da noiva por quem o personagem de Owen Wilson se apaixona, está Rachel McAdams de “Meninas Malvadas” e “Diário de Uma Paixão”. Owen Wilson (“Sou Espião”, “Bater ou Correr”) e Vince Vaughn (“Psicose”, “Be Cool – O Outro Nome do Jogo”), que trabalharam juntos em “Starsky & Hutch”, voltam a dividir a cena nesta comédia. A direção é de David Dobkin, que já havia dirigido Wilson em “Bater ou Correr em Londres”. “Penetras Bons de Bico” estréia, para valer, no Cine 6 do Moviecom, e, no Cine Natal 1. Para maiores de 12 anos.
Estréia 2: “Vôo Noturno”
Lisa Reisert (Rachel McAdams) detesta voar, mas, precisa realizar uma viagem. O temor que ela possui se torna insignificante, perante a situação que passa a vivenciar, dentro do avião. Logo após a decolagem, o homem que está na poltrona ao seu lado, Jackson (Cillian Murphy), diz a Lisa o motivo de estar naquele vôo. Ele pretende matar um poderoso homem de negócios, que também está no avião. Jackson exige a ajuda de Lisa em seu plano, pois, caso contrário, um assassino contratado por ele irá matar o pai dela, o que depende apenas de uma ligação telefônica. A direção é de Wes Craven (“Pânico”), que aparece em uma ponta, como um dos passageiros do avião. “Vôo Noturno” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Filme de Arte: “Contra Corrente”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, apresenta a produção americana “Contra Corrente”. Chris (Jamie Bell) e Tim (Devon Alan) são dois irmãos, que moram com o pai (Dermot Mulroney), em uma pequena cidade do Alabama, no sul dos Estados Unidos. A chegada de Deel (Josh Lucas), tio deles, e, ex-presidiário, muda completamente a vida de todos. Ao tentar se apossar de uma coleção de velhas moedas mexicanas, Deel mata, a sangue frio, seu próprio irmão. Após testemunharem o assassinato do pai, Chris e Tim fogem com as moedas, mas, esquecem a arma do crime. Eles passam, então, a fugir da polícia, e, também, de Deel, que quer matá-los a todo custo. A direção é de David Gordon Green. Jamie Bell, agora, adolescente, é o menino que encantou o mundo em “Billy Elliot”. A Sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 13, em sessão única, às 21h. Para maiores de 12 anos.
“A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, em DVD
Mal saiu de cartaz dos cinemas, e, já está sendo lançado, em DVD, o excelente “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”. Pena, que, confirmando o ditado, a pressa não leva à perfeição. O DVD traz o filme com formato de tela letterbox (4×3), legendas em inglês, português e alemão, e, áudio em Alemão (Dolby Digital 2.0) e português (Dolby Digital 2.0). Na noite de novembro de 1942, quando Traudl Junge (Alexandra Maria Lara) foi selecionada para trabalhar como secretária pessoal de Hitler, a sua felicidade na poderia ser maior, já que serviria um dos homens mais poderosos do mundo. Três anos depois, em abril de 1945, o cenário era outro. Uma Alemanha dizimada resistia, como podia, ao avanço dos Aliados. Berlim sucumbia ante as tropas russas. Em meio a tudo isso, Hitler mantinha a sua pose e arrogância, ainda acreditando em uma hipotética vitória. O filme narra as últimas horas do ditador, do ponto de vista da jovem Traudl, que sobreviveu, para contar o que viu. A direção é de Oliver Hirschbiegel. Nas locadoras.
“Constantine”, em DVD
Baseado nos quadrinhos Hellblazer da DC/Vertigo, “Constantine”, a história do irreverente detetive sobrenatural John Constantine, que, literalmente, foi ao inferno e voltou, chega, agora, no formato digital. John Constantine (Keanu Reeves) é um experiente ocultista e exorcista, que, juntamente com Angela Dodson (Rachel Weisz), uma policial cética, investiga o misterioso assassinato da irmã gêmea dela, Isabel. As investigações levam a dupla a um mundo sombrio, paralelo à Los Angeles moderna, em que precisam lidar com demônios e anjos malvados. Constantine cruza as ruas da cidade, atrás de qualquer coisa que comprometa o equilíbrio das duas “superpotências originais”, o Céu e o Inferno. Desde o início da humanidade, Deus e o Diabo mantêm um pacto: podem influenciar o livre-arbítrio das pessoas, tentando levar suas almas para um dos dois planos. A direção é de Francis Lawrence. Além do filme, o DVD, em edição dupla, traz, como extras, “Passive” – Video Musical de “A Perfect Circle”; Trailers de cinema; os documentários “Conjurado Constantine”, “Uma Produção dos Infernos”, “Making Of – Imaginando o Inferno”, “A Cosmologia de Constantine”, “Previsão: o Poder da Pré Visualização”, e, comentários em áudio de Francis Lowrence. Nas locadoras.
“Quando Explode a Vingança”, em DVD
Um dos mais belos filmes do diretor Sergio Leone, chega, após três décadas de atraso, aos telespectadores, graças ao DVD. O filme, de 1971, é “Quando Explode a Vingança”, cujo tema musical, ficava na memória de todos, fruto do genial Enio Morricone. Juan Miranda (Rod Steiger) é um camponês rude, com coração de Robin Hood, que lidera um bando, repleto de filhos seus. Sean Mallory (James Coburn) é um revolucionário irlandês, é especialista em explosivos, que vive, agora, no México, fugindo de um passado doloroso. Após um início complicado, eles passam a atuar juntos, e, se envolvem em um ousado plano de fuga para libertar prisioneiros políticos, e, na defesa de seus compatriotas, contra a milícia de um sádico oficial. As magníficas imagens, realizadas nos desertos da Espanha, foram preservadas, no formato de tela widescreen anamórfico, assim como o áudio, remasterizado em Dolby Digital 5.1. Foram mantidas, em mono, as trilhas em portugues, espanhol e italiano. Como extras, comentários de Sir Christopher Frayling, o maior estudioso da obra de Leone. Nas locadoras e hipermercados, a preços promocionais.
Cineclube de Natal sem espaço
Sabia que Natal tem um Cineclube? Pois é, muita gente boa, amante da Sétima Arte, fundou, em março deste ano, o Cineclube Natal, com a proposta de exibir e discutir as produções feitas dentro e fora do estado. O maior problema do pessoal é achar um local para as exibições, que, não estão restritas aos membros do clube, mas, a quem se interessar. Quem souber, ou, dispuser de meios para disponibilizar um espaço, favor entrar em contato com o clube, através do email cineclubenatal@grupos.com.br. Vamos dar uma força para o pessoal! A cultura agradece.
Filme recomendado: “Hotel Ruanda”
Ruanda é aqui
Diz a cultura popular que “herói é aquele que não teve tempo de correr”. Muitas vezes, os heróis não têm, nem ao menos, a possibilidade de correr, e, são capazes de enfrentar situações extremamente adversas, para proteger a si e aos outros. Esta situação foi vivida por Paul Rusesabagina, um gerente de hotel em Ruanda, que fez o possível, e, o impossível, para salvar mais de 1200 pessoas, em meio a uma alucinante guerra civil. O feito foi mostrado através do filme “Hotel Ruanda”, que estreou na semana passada, em nossos cinemas.
Antes de explodir a guerra civil em Ruanda, em 1994, Paul Rusesabagina usava os seus conhecimentos para ajudar a dirigir um hotel de luxo, mesmo que os métodos não primassem pela ética. Certamente, se vivesse no Brasil de hoje, seria um dos empresários habituados a mimar os políticos. Era assim que conduzia os negócios, soltando uma propina aqui, presenteando oficiais do exército com uísque importado, comprando mercadorias no contrabando, etc..
Em meio aos crescentes rumores de uma guerra civil, ele continuava sua vida, sem dar muito crédito aos boatos. Desde tempos imemoriais, a região era dividida entre as etnias hutu e tutsi. Quando os conquistadores belgas invadiram e colonizaram o país, colocaram os tutsi no poder. Ruanda tinha, como principal fonte de exportação, o café. Em 1989, o preço mundial do café reduziu-se em 50%, e, Ruanda perdeu 40% de sua renda com exportação. Nesta época, o país enfrentou sua maior crise alimentícia dos últimos cinqüenta anos, e, ao mesmo tempo, aumentava os gastos militares, em detrimento a investimentos em infra-estrutura e serviços públicos.
Em outubro de 1990, a Frente Patriótica Ruandesa, composta por exilados tutsis expulsos do país por hutus com o apoio do exército, invade Ruanda, pela fronteira com Uganda. Durante uma negociação de paz, o presidente do país, Habyarimana, foi assassinado. Este foi o estopim para o movimento de caça as bruxas, que levou ao aniquilamento de homens, mulheres e crianças indefesas, a maioria morta a golpes de facão, pelo único crime de serem tutsi.
Pego de surpresa, Paul conseguiu abrigar-se no hotel, juntamente com a família e vários vizinhos, escapando da execução sumária a custa de uma gorda propina aos soldados do exército. Como era o ponto de hospedagem da maioria dos estrangeiros, tanto turistas, como jornalistas, o hotel recebeu uma certa proteção, reforçada pelo apoio do dono da cadeia internacional ao qual o hotel pertencia.
Essa relativa tranqüilidade, em meio ao inferno de violência que explodia no país, não duraria muito tempo. Logo, os estrangeiros foram retirados, protegidos por soldados belgas e franceses, e, todos os outros, Paul, inclusive, foram entregues à sua própria sorte.
Tendo que administrar a sobrevivência de mais de 1200 pessoas, entre refugiados e funcionários, Paul utilizou todos os recursos de que dispunha, até a intriga, para castigar um funcionário hutu que se aproveitava da situação.
A situação foi ficando cada vez mais insustentável, pois o próprio exército, fustigado pelos rebeldes, não conseguia controlar a milícia paramilitar, incitada por mensagens de rádio, e, dando vazão a séculos de revolta.
Nos minutos desesperadores, quando a milícia invadiu o hotel, Paul ainda consegue utilizar as suas manhas de negociador, para salvar seus amigos e familiares. Os soldados da ONU, que nada podiam fazer para ajudá-los, conseguem permissão para levar o grupo para a fronteira com a Uganda, território sob domínio dos rebeldes.
Embora tudo o que aconteceu no hotel fosse reflexo da guerra, pouco foi mostrado, do genocídio indiscriminado que aconteceu, de fato. Como os próprios personagens do filme admitem, o hotel era um oásis, em meio ao horror da guerra.
Apesar de Paul e seus amigos terem se salvado, a situação de Ruanda está longe de estar normalizada. Milhares de refugiados encontram-se espalhados, em condições extremamente ruins, nos países vizinhos a Ruanda, como Burundi, Tanzânia, Uganda e Zaire. Embora os rebeldes tutsi tenham voltado ao poder, membros do exército e da milícia hutu estão entre os refugiados, criando um impasse em como repatriar todos os ruandenses.
O que fica evidente no filme, entretanto, é a indiferença dos países ocidentais, os donos do poder mundial. Reduzidos a meros observadores, os soldados da força de paz da ONU eram proibidos de atirar, mesmo que testemunhassem os mais bárbaros assassinatos. Ruanda não tem petróleo ou outras riquezas, de modo que ninguém tinha interesse de arriscar prestígio político para ajuda-los.
Um outro ponto interessante, que diz respeito a nós, brasileiros, é quanto ao uso de armas. Embora muitos milicianos, rebeldes e soldados do exército ruandense usassem armas de fogo, a maioria das execuções foi feita com facões, com pessoas completamente indefesas.
Nos próximos meses, estaremos votando em um plesbicito, que discute, não sobre desarmamento, que fique bem claro, mas, sobre a venda de armas para cidadãos de bem. O uso e o porte de armas foi extremamente reprimido, devido ao Estatuto do Desarmamento, em vigor desde 2003. Mesmo assim, a violência aumenta cada vez mais, em todos os cantos do Brasil.
Será que o problema é a arma, ou, a impunidade? Nenhum bandido entregou suas armas, em função do Estatuto, nem os apadrinhados dos poderosos, que sempre terão quem os livre do rigor da lei. Além disso, como bem se viu em Ruanda, não foi preciso arma de fogo para matar meio milhão de pessoas.
Existe solução para a violência? Certamente. Mas, não será uma lei inóqua, feita para agradar a torcida, que vai resolver o problema. Educação, melhorias sociais, uma melhor distribuição de renda, emprego digno, menos corrupção, menos corrupção, menos corrupção…
Enquanto não se criar coragem para tomar atitudes, que só terão reflexos décadas à frente, continuaremos caminhando em direção a um destino imprevisível, não por revoluções, mas, pelo sufocamento, cada vez maior, dos verdadeiros cidadãos que sustentam este país.