Claquete 29 de julho de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Em meio ao festival de denúncias que ameaça o país, o brasileiro, antes de tudo, um forte, vai sobrevivendo. De novidade, a estréia de “Amaldiçoados”, última novidade de Wes Craven, desta vez, arriscando-se com os lobisomens. Tem também, só no final de semana, a pré-estréia de “A Sogra”, com Jane Fonda e Jennifer Lopez. Nas continuações, “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, dirigida por Tim Burton, e, estrelada por Johnny Depp, “As Aventuras de SharkBoy e LavaGirl em 3D”, fantasia de Robert Rodriguez, “O Castelo Animado”, mais uma animação do criador de “A Viagem de Chihiro”, Hayao Miyazaki, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, narrando os momentos finais do ditador, “Batman Begins”, a nova versão do Homem-Morcego, com Christian Bale, no papel-título, “Guerra dos Mundos”, refilmagem de uma história de H.G.Wells, da dobradinha Spielberg/Tom Cruise, ”Quarteto Fantástico”, novo filme de ação baseado em personagens de quadrinhos, e, “Em Boa Companhia”, com Dennis Quaid. Para a criançada, “Herbie Meu Fusca Turbinado”, o ótimo desenho animado “Madagascar”, da Dreamworks, e, “Pokemón 4 – Viajantes do Tempo”. No filme de arte, a produção franco-libanesa “Sob o Céu do Líbano”.

Pré-Estréia: “A Sogra”

Após anos procurando seu príncipe encantado, Charlotte Cantilini (Jennifer Lopez) se apaixona por Kevin Fields (Michael Vartan). O problema é a mãe dele, Viola (Jane Fonda), que foi recentemente demitida do cargo de âncora de um jornal de rede nacional. Após perder o emprego, Viola teme perder também o filho, e, para evitar isso, decide, então, espantar a futura nora, tornando-se a pior sogra do mundo. Para isso, conta com a ajuda de sua assistente de longa data, Ruby (Wanda Sykes), que faz de tudo para que Viola leve adiante seus planos malucos. Acontece que Charlotte resolve revidar, e, as duas vão ter de disputar, para ver quem é que manda, afinal. Este filme marca o retorno de Jane Fonda às telas de cinema, após quinze anos de afastamento. Jennifer Lopez, loiríssima, foge ao habitual papel de latina. A pré-estréia de “A Sogra” será neste final de semana, no Cine 3 do Moviecom, na sessão de 21h. Para maiores de 12 anos.

Estréia: “Amaldiçoados”

O diretor Wes Craven, autor de filmes de terror famosos, como “A Hora do Pesadelo” e “Pânico”, está de volta à sua seara, desta vez com os lobisomens. A jovem produtora de TV, Ellie (Christina Ricci), vive com o irmão caçula Jimmy (Jesse Eisenberg), e, ainda administra a insegurança de seu namorado Jake (Josua Jackson). Uma noite, ao se envolverem num acidente na estrada, são atacados por um estranho animal. Da pior maneira, descobrem que há um lobisomem à solta, em Los Angeles, e, eles foram contaminados pela maldição, que só será quebrada quando a criatura for morta. O filme teve problemas na produção, chegando a sofrer atraso de mais de um ano no lançamento nos cinemas. “Amaldiçoados” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.


Filme de Arte: “Sob o Céu do Líbano”

Uma visão estranha, da realidade do Oriente Médio, chega aos nossos cinemas, através do olhar do diretor Randa Chahal Sabag. Uma cidade libanesa é dividida pelo exército de Israel, o que obriga parentes e amigos a se comunicarem por meio de alto-falantes e lenços vermelhos e brancos. Mas, a vida continua, e, Lamia, uma bela jovem de 16 anos, é autorizada a casar-se com um primo, que vive no outro lado da barreira. Após muitas negociações, o passe é acertado, e, Lamia pode atravessar as barreiras. Após despedir-se da família, e, dos amigos, numa cerimônia simples, em silêncio, ela parte para a nova vida. O véu branco enrosca no arame farpado, sob a vista ansiosa de um jovem soldado, que acompanha o trajeto com as lentes de seu binóculo. Lamia, porém, recusa-se a assumir sua nova vida, decidindo, então, voltar para casa. “Sob o Céu do Líbano” ganhou o Prêmio Especial do Júri, no Festival de Veneza. O filme de arte será exibido no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 2, em sessão única, às 21h. Para maiores de 14 anos.

“Alexandre”, em DVD

Um dos filmes mais polêmicos do ano, “Alexandre”, do diretor Oliver Stone, chega, agora, em DVD. Oliver Stone recria a poderosa e verdadeira história de Alexandre o Grande (Colin Farrell), que no quarto século antes de Cristo havia conquistado a Grécia, a Pérsia, o Afeganistão e a Índia – ou seja, 90% do “Mundo Conhecido” até então. Mesmo tendo enfrentado os maiores exércitos de sua época, ele nunca perdeu uma batalha. Visionário, explorador e sonhador, ele era também um filho carinhoso, ferido pelo amor e pela ambição de sua mãe (Angelina Jolie) e pela eterna necessidade de agradar a seu pai (Val Kilmer). Seu sonho moldou o mundo como o conhecemos hoje. O filme causou certa comoção por exibir comportamento bissexual do conquistador. O DVD vem em edição dupla, com formato de tela widescreen anamórfico, e, som Dolby Digital 5.1, em inglês e português. Como extras, os documentários “Ressuscitando Alexandre”, “O bom e o perfeito são inimigos” e “A morte de Alexandre”, além de comentários do diretor Oliver Stone e do historiador Robin Lane Fox. Já nas locadoras.

“Machuca”, em DVD

Chile, 1973. Gonzalo Infante (Matías Quer) é um garoto que estuda no Colégio Saint Patrick, o mais conceituado de Santiago. Gonzalo é de uma família de classe alta, morando em um bairro na área nobre da cidade com seus pais e sua irmã. O padre McEnroe (Ernesto Malbran), o diretor do colégio, inspirado no governo de Salvador Allende decide implementar uma política que faça com que alunos pobres também estudem no Saint Patrick. Um deles é Pedro Machuca (Ariel Mateluna) que, assim como os demais, fica deslocado em meio aos antigos alunos da escola. Provocado, Pedro é seguro por trás e um deles manda que Gonzalo o bata, que se recusa a fazer isto e ainda o ajuda a fugir. A partir de então nasce uma amizade entre os dois garotos, apesar do abismo de classe existente entre eles. Do diretor Andrés Wood, recebeu uma indicação ao Goya de Melhor Filme Estrangeiro em Língua Espanhola.

“Desde Que Otar Partiu”, em DVD

Três mulheres de diferentes gerações vivem em um mesmo apartamento, em Tbilissi, capital da Geórgia. A primeira é a matriarca Eka (Esther Gorintin), que anseia que seu filho Otar, médico, que saiu do país para trabalhar como operário em Paris, volte para casa. A segunda é sua filha Marina (Nino Khomasuridze), que se ressente do amor de sua mãe pelo filho. A terceira é Ada (Dinara Drukarova), filha de Marina, uma jovem rebelde, que deseja uma vida mais agitada. Quando um amigo de Otar surge com uma notícia, Marina e Ada precisam decidir se dão esta notícia a Eka. Primeiro filme de ficção da diretora Julie Bertucelli, ganhou o Cesar de Melhor Filme de Estréia, o Prêmio da Semana da Crítica, no Festival de Cannes, e, o prêmio de Melhor Roteiro – Filme Francês, no Festival de Deauville.

“O Operário”, em DVD

A última vez em que Trevor Reznik (Christian Bale) dormiu foi há um ano, sendo que, desde então, o cansaço vem destruindo progressivamente sua saúde física e mental. Ele trabalha numa fábrica, operando maquinário pesado, e, faz de tudo para manter seu emprego. Envergonhado por causa de seu problema, Trevor isola-se cada vez mais, tornando-se paranóico. Depois de se envolver em um acidente no trabalho em que um homem perde um braço, Trevor começa a crer que seus colegas estão conspirando para demiti-lo. Ele precisará lutar não apenas para se manter no cargo, mas também para manter a sanidade. Christian Bale perdeu 28 quilos para interpretar seu personagem em O Operário. A dieta feita pelo ator consistia apenas em uma lata de atum e uma maçã por dia. Poucos acreditaram que ele conseguiria o papel de Batman, em “Batman Begins”, mas, o ator não apenas recuperou, como exibiu um corpo atlético como o homem-morcego. O DVD traz o formato de tela widescreen anamórfico, som DD 5.1, e, como extras, comentários do Diretor; “The Machinist: Quebrando As Regras”, Versão Alternativa da cena na prisão, cenas inéditas, e, trailer de cinema.

Petrobras abre inscrições para programa cultural

Estão abertas as inscrições do Programa Petrobras Cultural, para a seleção pública de difusão de filmes de longa-metragem, que apóia o lançamento de longas brasileiros em circuito comercial. O valor máximo para o patrocínio é de R$ 300 mil por projeto. Os formulários para as inscrições podem ser obtidos no site www.petrobras.com.br até 30 de agosto, onde podem ser obtidas maiores informações sobre o programa.

Filme recomendado: “Menino do Rio”

Retorno à califórnia carioca


É bem verdade que, apesar de possuirmos mais de sete mil quilômetros das mais belas praias do planeta, muitos brasileiros nascem e morrem sem jamais ter visto o mar. Isso não impede que sonhem com ele, com o ideal de liberdade a ele associado, pois, liberdade, além da calça azul e desbotada, está na capacidade de sonhar. Este sonho ficou muito bem representado numa modesta produção nacional, que representou as fantasias de toda uma geração: “Menino do Rio”.

É curioso como um filme com uma história para lá de simples, com atores desconhecidos, cenários abertos, e, mostrando até uso de drogas, tenha feito tanto sucesso. É possível que o “algo mais” estivesse entre a poltrona e a tela, pois o filme mexia com o menino de praia escondido dentro de todo espectador.

O enredo é de uma simplicidade de causar inveja para novelista mexicano. Valente (André de Biase) é um jovem independente, que, apesar de ser filho de um empresário bem sucedido, prefere viver sozinho, na beira da praia, fabricando e vendendo pranchas de surfe. Na hora que quer, sai para surfar ou voar de asa delta, sempre acompanhado pelo amigo Zeca (Sérgio Mallandro).

Numa dessas vezes, literalmente esbarram com Pepeu (Ricardo Graça Mello), um jovem órfão, que caminha pelo mundo, acompanhado pela cadela Kika. Logo, Pepeu vai morar com Valente, ajudando-o na oficina de pranchas.

Num lual, na beira da praia de Saquarema, Valente conhece uma misteriosa jovem, que parece ser bem diferente de todas as garotas que está acostumado. A jovem é Patrícia (Cláudia Magno), patricinha, filha de família rica, noiva do enjoado Adolfinho (Ricardo Zambelli).

Como acontece em toda boa trama folhetinesca, o acaso não tarda em colocar Valente e Patrícia frente a frente. Aos poucos, os dois vão se envolvendo, enquanto a moça foge do assédio de Adolfinho, e, esquece de sua atração platônica por um homem mais velho, que, por coincidência, é o próprio pai de Valente…

Enquanto as tramas românticas se acendem, Pepeu sente na carne os ardores dos hormônios a mil, mas, é recompensado com o surgimento da bela Soninha (Cláudia Ohana), tornando-o o mais invejado de toda a sua geração.

Mas, tanto Adolfinho, quanto o pai de Patrícia, não desistem fácil, e, o ex-noivo da moça tenta de tudo, de emboscada a roubar cartas pessoais da moça, para acabar com o romance com Valente.

Não é preciso dizer que o final é legal, como o filme todo, embora o “felizes para a sempre”, da geração surfista fossem efêmeros como a areia da praia, mais ao estilo “que seja eterno enquanto dure”.

Na época, a crítica foi dura com o filme, já que os produtores optaram por colocar breves cenas de nudez e uso de drogas, numa época em que a censura ainda dava os últimos estertores. Bem, se isso foi politicamente incorreto, o que não se pode dizer do conteúdo das nossas novelas atuais, ou, até mesmo dos noticiários dos mensalões…

“Menino do Rio” foi uma produção ousada, não pelas cenas mencionadas acima, mas, pelo uso de atores iniciantes, um roteiro frouxo, e, poucos recursos. Contudo, a aposta nas belas cenas de esportes radicais, a vida vista pela ótica de jovens, e, uma trilha sonora repleta de belas músicas, transformou o filme num hit de verão, no início dos anos 80, e, em uma valiosa peça de recordação, com o lançamento em DVD.

É muito divertido, ver André de Biase, hoje gordinho e careca, exibindo os músculos e uma basta cabeleira a la Príncipe Valente (daí o nome do personagem, que ganha até uma revista do herói), Evandro Mesquita, em pleno auge da banda Blitz, que só não era mais magro do que este cronista (na época, é claro…), Cissa Guimarães exibindo o melhor estilo hiponga, Nina de Pádua, e, Cláudia Ohana, na beleza primaveril de seus dezoito anos.

Todos estes atores viriam a desenvolver carreiras no cinema e na televisão, principalmente na Globo. André de Biase desenvolveria um personagem semelhante, ao lado de Kadu Moliterno e Andréa Beltrão, mas, a fórmula desgastou-se, ao longo dos anos, assim como a cabeleira do ator.

Cláudia Magno, que estreara no cinema neste filme, prosseguiu trabalhando, principalmente em novelas, mas, viria a falecer precocemente, em 1995, aos 35 anos de idade. Ricardo Graça Mello, que é filho de Marília Pêra, ainda atuaria em mais dois filmes, mas enveredaria, na música, seu habitat natural.

O DVD não é tão elaborado quanto se gostaria, mas, ao menos, foi mantido o formato de tela original, mesmo sem ser anamórfico. O áudio é em português mono, e, como extras, somente trailer de cinema, notas sobre filmografia, e, galeria de fotos.

Talvez o leitor estranhe que eu recomende um filme com tantos defeitos, e, numa edição de DVD tão pobre. Contudo, este é um dos casos em que o conteúdo emocional é mais importante do que a forma. Mesmo mono, é delicioso escutar músicas como “De Repente Califórnia”, “Menino do Rio”, “Corpos de Verão”, “Para Sempre Amantes”, “Tesouro da Juventude”, e, “Perdidos na Selva”, de Nelson Motta, Guilherme Arantes e Lulu “dos” Santos, como ainda se chamava. O diretor Antonio Calmon nos brinda com belíssimas cenas, de um Rio anos-luz da violência atual, de um tempo onde a camisinha era apenas para evitar gravidez, e, a AIDS ainda uma mera suposição para os cientistas.

Para quem duvidar, assista os primeiros cinco minutos do filme, mergulhando com o herói num vôo onírico, ao som de “Garota, eu vou pra Califórnia / Viver a vida sobre as ondas / Vou ser artista de cinema / O meu destino é ser star…”. Esse filme é para os que nunca desistiram deste sonho.