Claquete 06 de maio de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Que bom, estar de volta à terrinha. Nesta semana, estréiam dois filmes muito interessantes. O primeiro, “Cruzada”, do diretor Ridley Scott, mexe num tema até hoje polêmico, sobre as incursões dos exércitos cristãos na Oriente Médio. Quem vive o papel principal é Orlando Bloom, famoso por seu papel do elfo Legolas, em “O Senhor dos Anéis”. A outra estréia, “O Fantasma da Ópera”, é mais uma versão, para o cinema, da novela do escritor francês Gaston Leroux, escrita em 1908, sobre um misterioso personagem, que protege uma jovem cantora, vivendo nos subterrâneos de um teatro. Nas continuações, as comédias “Mais Uma Vez Amor”, com Juliana Paes, “A Família da Noiva”, refilmagem do premiado “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, e, “Be Cool – O Outro Nome do Jogo”, com John Travolta, Uma Thurman, Danny DeVito, Vince Vaughn, The Rock, Harvey Keitel e James Woods. Para quem gosta de filmes de ação, “Refém”, com Bruce Willys, de volta à sua seara, “xXx 2 – Estado de Emergência”, com Ice Cube, Samuel L. Jackson, e, Willem Dafoe, e, “Assalto à 13ª DP”, com Ethan Hawke, Laurence Fishburne, John Leguizamo e Brian Dennehy. Para a criançada, só, e, somente só, “O Filho do Máskara”. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção inglesa “Código 46”.

Estréia 1: “Cruzada”

A mais recente obra de Ridley Scott, “Cruzada”, estréia neste final de semana, bombardeado de críticas, acusado tanto de fazer louvação ao belicismo americano, como de exaltar a figura do líder mulçumano, Saladino. Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém, e, dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também a esta meta, mas, após a morte de Godfrey, ele herda terras, e, um título de nobreza, em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento, Balian decide permanecer no local, e, servir a um rei amaldiçoado, como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. Veja mais em Filme Recomendado. “Cruzada” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 4 e 6 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “O Fantasma da Ópera”

Mais um grande clássico do palco chega à telona, pela enésima versão. É “O Fantasma da Ópera”, baseado na obra de Gaston Leroux. La Carlotta (Minnie Driver) é a diva de uma conceituada companhia teatral, que é responsável pelas óperas realizadas em um imponente teatro. Temperamental, La Carlotta se irrita pela ausência de um solo na nova produção da companhia, e, decide abandonar os ensaios. Com a estréia marcada para o mesmo dia, os novos donos do teatro não têm outra alternativa, senão aceitar a sugestão de Madame Giry (Miranda Richardson), e, escalar, em seu lugar, a jovem Christine Daae (Emmy Rossum), que fazia parte do coral. Christine faz sucesso, em sua estréia, chamando a atenção do Visconde Raoul de Chagny (Patrick Wilson), o novo patrocinador da companhia. Raoul e Christine haviam se conhecido ainda crianças, mas, ele apenas a reconhece na encenação da ópera. Porém, o que, nem ele, nem ninguém da companhia, com exceção de Madame Giry, sabem, é que Christine tem um tutor misterioso, que acompanha, nas sombras, tudo o que acontece no teatro: o Fantasma da Ópera (Gérard Butler). Destaque para as conhecidas canções “The Phantom of The Opera”, e, “All I Ask of You”. “O Fantasma da Ópera” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Governo americano aprova a censura nos filmes

A ala conservadora conseguiu mais uma vitória, nos Estados Unidos. Uma nova lei, denominada Lei de Entretenimento Familiar e Direitos Autorais, prevê que produções de Hollywood, com cenas de violência excessiva, homossexualismo, e, relações extraconjugais, não sejam comercializadas em DVD. Essa lei decorre, na verdade, de um processo movido por algumas empresas, que alteravam filmes do mercado, censurando cenas e diálogos que achavam impróprios. Filmes como “O Furacão”, estrelado por Denzel Washington, teve excluídas algumas cenas com acusações racistas. Algumas curiosidades, nos filmes “satanizados”: enquanto “Bob Esponja” teve algumas cenas censuradas, por uma hipotética alusão ao homossexualismo, “Paixão de Cristo” não sofreu corte algum, embora seja um verdadeiro festival de sadismo… O pior é que esta lei desrespeita o filme como uma obra de arte, ao fazer tais cortes. É como se colocassem um sutiã na Vênus de Milos ou tapassem o sorriso da Mona Lisa.

“Quase Dois Irmãos” é atração do Cinema BR em Movimento

O maior circuito de exibição gratuita de filmes brasileiros, o Cinema BR em Movimento, – patrocinado pela Petrobras Distribuidora, dentro do projeto Petrobras Cultural – realiza, entre os dias 1º e 29 de maio, a sua primeira etapa de 2005, quando comunidades e universidades de todos os estados do país terão acesso gratuito ao melhor do cinema nacional atual. Em Natal, o projeto iniciou dia 3, com o filme “Quase Dois Irmãos”, da diretora Lucia Murat, sendo exibido na UFRN, FARN e UNP. A próxima sessão será no dia 11, às 9h da manhã, no auditório do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Informações adicionais podem ser obtidas com a coordenadora do programa, a jornalista Edileusa Martins (215-3465). Prestigiem!

Festival Curta Natal começa segunda, na Casa da Ribeira

O Festival Curta Natal de Cinema e Vídeo acontecerá na próxima semana, do dia 9 a 13, no Centro Cultural Casa da Ribeira, sempre às 20h30. A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados no local, a partir das 14h, em cada dia da mostra. Serão disponibilizados até dois ingressos por pessoa. Integrando a programação do Festival TIM Mada 2005, o Curta Natal terá quatro mostras, sendo uma competitiva. Dia 9, o festival inicia com a “Mostra Mix Brasil – Festival da Diversidade Sexual”. Na terça-feira, dia 10, “Animada”, com a programação do festival de animação Visorama Diversões Eletrônicas. Na quarta e quinta-feiras, serão exibidos os curtas da “Mostra Nordeste”, única competitiva do evento. Na sexta-feira, dia 13, tem a “Mostra Nacional”, com um panorama de curtas produzidos em todo o Brasil. Logo após haverá a entrega dos prêmios aos vencedores da Mostra Nordeste. No dia 19, o festival abre espaço para a mostra itinerante no bairro de Felipe Camarão, com uma seleção de curtas de todas as mostras. No dia 21, a mostra itinerante irá até o bairro de Mãe Luíza.

Filme de Arte: “Código 46”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz esta semana a produção inglesa “Código 46”. Num futuro não muito distante, as cidades são rigidamente controladas, e, o acesso só é possível através de pontos de checagem. As pessoas não são autorizadas a viajar, a não ser que possuam o salvo-conduto, um seguro especial de viagem. Fora das cidades, o deserto tomou conta de tudo, com os cidadãos sem seguro sendo segregados em bairros pobres. William (Tim Robbins) é um homem casado, que trabalha como investigador de seguros. Quando sua empresa o envia para uma outra cidade, para resolver um caso de salvo-condutos forjados, ele encontra Maria (Samantha Morton). Apesar de descobrir que Maria é a culpada pelas fraudes, ele se apaixona por ela. William volta para casa, sem denunciá-la, mas, não a esquece. Porém, quando um dos salvo-condutos forjado provoca uma morte, ele é obrigado a retornar à cidade para reencontrar Maria. O filme, dirigido por Michael Winterbottom, recebeu indicações ao European Film Awards, nas categorias Fotografia, Trilha Sonora, Diretor – Júri Popular, e, Melhor Atriz – Júri Popular (Samantha Morton). “Código 46” terá sessão única, às 21h10 do dia 10, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 16 anos.

Especial: Cinema nos ares

Durante uma longa viagem, nada melhor, para passar o tempo, do que um filme. Afinal de contas, passar oito, dez, ou sabe-se lá quantas horas, sem fazer nada, seria insuportável. As companhias de aviação sabem disto, e, tentam evoluir as ofertas, cada vez mais. Com o advento das mídias digitais, isso tem ficado mais fácil.

Até algum tempo atrás, era comum ter um projetor CRT, que produzia uma imagem esmaecida, numa tela no início do corredor, perto demais, para quem ia nas primeiras fileiras, e, longe demais, para os que ficavam no fundão. Além disso, cada vez que uma pessoa passava, lá se ia a continuidade do filme.

Com o avanço da tecnologia, tanto a dos aviões, como a das mídias de exibição, isso está mudando. No Boeing 777, um dos mais modernos, em uso nas linhas internacionais, existem telas individuais, de cristal líquido, embutidas na parte de trás do assento da frente. As telas, na verdade, monitores coloridos, de 10 polegadas, estão ligadas a uma central de entretenimento, que fornece diversas opções, aos passageiros.

Além dos canais de música, que precisam simplesmente dos fones de ouvido plugados no braço da poltrona, o sistema de vídeo oferece diversas opções, que vão da exibição de filmes, a localização do avião na rota, com informações de velocidade, tempo restante de vôo, etc.. Estão disponíveis, também, séries de televisão (sitcom), e, alguns jogos, como a velha paciência.

Na parte de cinema, são oferecidos dez títulos diferentes, que vão do desenho “Espanta Tubarões”, ao romântico drama “Antes do Pôr-do-Sol”. Como cada título pode ser exibido com dublagem em inglês, português e espanhol, são trinta opções, ao todo. E, o melhor de tudo: ao contrário dos pay-per-view, dos canais de assinatura, em que o usuário é obrigado a assistir no horário que a emissora impôe, no avião, cada um escolhe o momento de iniciar o filme. O passageiro é o dono do programa, podendo dar pause, voltar, adiantar, etc.. Prá tirar um dez, era pra poder escolher também a legenda, mas, é exigir demais. Em minha próxima viagem, que sabe…

E, para quem pensa que a telinha não é suficiente, é bom lembrar que ela fica a trinta centímetros do seu rosto. A impressão visual é a de se estar assistindo a uma tv grande, que estivesse a três ou quatro metros de distância. Bom mesmo, é que pode-se assistir o que quiser, sem estar incomodando o vizinho, ou, sendo atrapalhado por alguém que vá ao banheiro.

Filme recomendado: “Cruzada”

O nome de Deus, no reino dos homens

Chega aos cinemas natalenses, neste final de semana, mais um épico, com um orçamento de 125 milhões de dólares, dirigido pelo diretor Ridley Scott, que já brindou o mundo com “Blade Runner”, “Alien – O 8º Passageiro”, “Thelma & Louise”, e, “Gladiador”. O filme da vez é “Cruzada” (“Kingdon of Heaven”), que chega precedido de muitas críticas e discussões.

A história mostrada no filme acontece em 1186, época entre as Segunda e Terceira Cruzadas, tendo como personagem principal o ferreiro francês Balian, vivido por Orlando Bloom, o elfo Legolas, da saga Senhor dos Anéis. Após perder a mulher e o filho, Balian vem a conhecer o pai, que o abandonara quando criança, o nobre Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), barão do rei de Jerusalém. Godfrey segue em direção à Terra Santa, com um pequeno exército de cruzados, e, convida Balian para juntar-se à missão. Quando Godfrey é atacado e morto, Balian decide continuar a jornada, acreditando estar a sua missão espiritual em Jerusalém.

Lá chegando, Balian é aceito, não apenas por seu sangue nobre, mas, também, por sua habilidade nas armas. Apaixona-se pela princesa Sybilla (Eva Green, a incestuosa irmã de “Os Sonhadores”), irmã do rei cristão Balduíno IV, que sofre de lepra (Edward Norton, sempre de máscara). Balduíno opõe-se a uma guerra com os muçulmanos, liderados por Salah al-Din, conhecido no Ocidente como Saladino (o excelente ator sírio Ghassan Massoud), o sultão que viria a reconquistar a maioria das terras dominadas pelos cristãos, no Oriente Médio. Após a morte do rei, o embate torna-se inevitável, e, a força e a determinação do exército de Saladino fazem Balian entregar Jerusalém ao domínio dos muçulmanos.

As Cruzadas são um período extremado da história medieval, que são situados entre 1095, quando o Papa Urbano II lança um apelo para que os soldados partam para o Oriente, para ajudar os cristãos, e, 1291, quando a cidade de Acre, último baluarte cristão, na Síria, é dominado pelos mulçumanos.

Muitas motivações levaram às Cruzadas, e, poucas delas realmente em função de religião ou crenças. Mesmo sob o domínio árabe, os cristãos e judeus, em Jerusalém, sempre tiveram liberdade para praticar suas religiões. Quando os turcos seljúcidas chegaram à cidade Santa, em 1076, mostraram-se, então, intolerantes com os praticantes de outras religiões, que não o islamismo. Quando eles invadiram parte do território grego, o imperador bizantino Aleixo Comneno I pediu a ajuda ao papa Urbano II, para conter o avanço turco em direção a Constantinopla.

O pedido de Aleixo caiu como uma luva para Roma, que sonhava em acabar com o Cisma de 1054, que dividiu a Igreja Católica em Apostólica Romana, com sede em Roma, chefiada pelo Papa, e, a Ortodoxa Grega, liderada pelo Patriarca de Constantinopla. Os reis, por sua vez, viram a chance de reafirmar o seu próprio poder, enfraquecido com cidades-estado, cada vez mais autônomas e independentes do governo central. O maior isolamento das cidades contribuiu para a redução das freqüentes epidemias, o que, aliado ao fim das invasões, causou um aumento populacional sem precedentes, na Europa Medieval, passando de 18 milhões de indivíduos, para 26 milhões, em 1100.

A “guerra santa”, conclamada por Urbano II, causou forte impacto entre os nobres cavaleiros, que viram a sua oportunidade de glórias e conquistas, já que, muitos viviam na nobreza, mas tinham poucas propriedades. Por outro lado, os pobres, sem nenhuma perspectiva de vida, a não ser trabalhar para seus senhores até a morte, viram as cruzadas como uma válvula de escape. Assim sendo, os exércitos cruzados reuniam não apenas nobres guerreiros, mas, também, camponeses, mendigos, pequenos comerciantes, e, toda sorte de aventureiros, principalmente da França e da Alemanha. Não é preciso dizer que milhares destes peregrinos morreram pelos caminhos. Em 12 de julho de 1099, os doze mil cruzados conquistaram oficialmente Jerusalém. Foi a última grande vitória dos cristãos.

Vários outros movimentos, em direção à Terra Santa, aconteceram, nos anos seguintes, alguns deles que nem se aproximaram de Jerusalém, outros, que assolaram os povos que deveriam proteger. Houve até a Cruzada das Crianças, em 1210, quando milhares de jovens, menores de 13 anos, foram conduzidos por um padre francês, que acreditava conseguir o poder sem auxílio das armas. O resultado foi trágico: a maioria dos participantes morreu, e, os sobreviventes acabaram na mão de mercadores de escravos do norte da África.

Dizer que as Cruzadas foram um movimento de extermínio, de um lado, ou, de outro, seria um simplismo inconseqüente, do mesmo modo que condenar o filme de Ridley Scott. É preciso lembrar que, um filme, antes de tudo, é uma peça de entretenimento, e, por isso mesmo, liberdades poéticas são tomadas, datas e fatos são distorcidos, sem grandes prejuízos, para quem assiste. Detalhes como o verdadeiro Balduíno ter morrido um ano antes do que é retratado no filme, ou, a ausência do filho de Sybilla, nada disso afeta, realmente, o que é mostrado nas telas. Afinal de contas, o registro do fato histórico fica para os documentários, ou, melhor ainda, para os bons e velhos livros de História, estes sim, merecedores da atenção dos mais interessados.

“Cruzada”, antes de tudo, é um filme de ação, com cenas de batalha impressionantes, um roteiro razoavelmente costurado, e, um elenco sólido, com grandes atuações de Liam Neeson, Jeremy Irons, Eduard Norton, e, o excelente ator sírio Ghassan Massoud, que viveu Saladino. Massoud, na vida real, constatou que, mil anos depois das Cruzadas, a intolerância ainda assola o mundo. Por ser de nacionalidade Síria, não pôde participar do lançamento do filme nos Estados Unidos, pois teve o visto de entrada negado.