Claquete 18 de março de 2005
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
A chegada da Semana Santa traz, para muitos, uma sensação de tristeza e culpa, pelo sacrifício de Cristo. Prefiro pensar na Páscoa, na alegria do renascimento, e, em nossa busca incansável para nos tornarmos pessoas melhores. Pensando assim, que tal curtir uma ótima animação, “Os Robôs”, dos mesmos autores do excelente “A Era do Gelo”, ou, uma comédia romântica, bem brasileira, “O Casamento de Romeu e Julieta”? Nas continuações, o premiado “Menina de Ouro”, ganhador de quatro Oscars, a aventura “O Vôo da Fênix”, com Dennis Quaid, o policial “Ladrão de Diamantes”, com o ex-007, Pierce Brosnan, a comédia romântica “Hitch – Conselheiro Amoroso”, com Will Smith, e, os suspenses “Vozes do Além”, com Michael Keaton, “O Amigo Oculto”, com Robert de Niro, e, “Constantine”, com Keanu Reeves, este nas duas redes de Natal. A sessão Filme de Arte do Cine Natal 1 reapresentará “Os Sonhadores”, do genial Bertolucci.
Estréia 1: “Robôs”
Animada pelos excelentes resultados de “A Era do Gelo”, que rendeu mais de 370 milhões de dólares, a Fox Animation e a Blue Sky Studios uniram-se novamente, para lançar mais uma animação no mercado. Desta vez, é “Robôs”, que teve a co-direção do brasileiro Carlos Saldanha. Rodney Lataria (Reynaldo Gianecchini), um robô que tem um dom para inventar máquinas, trabalha com seu pai, lavando pratos. Sonhando em conhecer seu ídolo, o Grande Soldador (José Santa Cruz), Rodney decide partir em uma viagem, rumo a Robópolis. Porém, ao chegar na cidade, ele percebe que sua busca será mais difícil do que imaginava. Logo, Rodney torna-se amigo dos Enferrujados, um grupo de robôs de rua, que sabe se virar, e, que acaba por abrigá-lo. Tentando encontrar o Grande Soldador, e, mantendo seu ideal em fazer um mundo melhor, ele enfrenta situações que podem pôr em risco a própria existência de Robópolis. “Robôs” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, nos Cines 1 e 6, do Moviecom. Censura livre.
Estréia 2: “O Casamento de Romeu e Julieta”
Alfredo Baragatti (Luís Gustavo) é um advogado, descendente de italianos, que é palmeirense ferrenho, sendo até membro do Conselho Deliberativo do clube. Alfredo criou sua Julieta (Luana Piovani) para ser como ele, mais uma apaixonada pelo Palmeiras. Batizada em homenagem aos ídolos palmeirense, “juli”, de Julinho, e, “eta”, de Echevarietta, ela é jogadora do time feminino do Palmeiras, atuando como centroavante. Julieta se apaixona por Romeu (Marco Ricca), um médico oftalmologista, de 45 anos, que é corinthiano de coração. Em nome do amor, Romeu aceita se passar por palmeirense, chegando a se filiar como sócio do clube, e, ir aos jogos, para torcer pelo rival. Tais atitudes geram desconfiança em sua família, principalmente em seu filho Zilinho (Leonardo Miggiorin), e, na avó Nenzica (Berta Zemmel), ambos corinthianos fanáticos. A direção é de Bruno Barreto, e, a história, baseada em um conto de Mário Prata. “O Casamento de Romeu e Julieta” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Pré-Estréia 1: “O Chamado 2”
Em 2002, um estranho filme, “O Chamado”, chegou aos cinemas, deixando aturdidos os espectadores, sempre na dúvida se tinham adorado ou detestado. O filme, uma refilmagem de “Ringu”, uma produção japonesa, tinha sua trama em torno de uma estranha fita, que levava à morte todos os que a assistiam, exatos sete dias depois. A continuação, “O Chamado 2”, foi dirigida pelo mesmo diretor dos originais japoneses, Hideo Nakata. Seis meses após os eventos que aterrorizaram Rachel Keller (Naomi Watts), e, seu filho Aidan (David Dorfman), os dois tentam deixar para trás as lembranças de Samara (Daveigh Chase), e, sua fita de vídeo amaldiçoada. Rachel e Aidan se mudam de Seattle para a pequena comunidade litorânea de Astoria, no estado de Oregon, onde pretendem recomeçar a vida. Porém, após a ocorrência de um crime local que tem uma fita de vídeo envolvida, Samara retorna para reiniciar seu ciclo de mortes. “O Chamado 2” terá pré-estréia, nas próximas quarta e quinta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.
Pré-Estréia 2: “Reencarnação”
Certos filmes causam polêmica antes mesmo de estrear. “Reencarnação”, estrelada por Nicole Kidman, causou furor, devido a uma cena onde ela beija um garoto de dez anos na boca. Dez anos após a morte de seu marido, Anna (Nicole Kidman) finalmente conseguiu reconstruir sua vida, estando prestes a casar novamente. Repentinamente, surge, em sua vida, um garoto de dez anos, que se apaixona por ela, e, diz ser a reencarnação de seu falecido marido. Anna, inicialmente, considera a história totalmente absurda, mas, alguns detalhes, de situações ocorridas, entre ela, e, seu falecido marido, contados pelo garoto, fazem com que fique intrigada. Aos poucos, Anna começa a relembrar fatos de seu passado, e, começa a questionar as escolhas que fez na vida, o que faz com seu noivo, a família dele, e, sua melhor amiga fiquem preocupados. “Reencarnação” terá pré-estréia na próxima quinta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Música brasileira em Hollywood
Ultimamente, parece ser coisa chique, acrescentar alguma música brasileira nos filmes. Além de uma versão meio estranha de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, numa cena em um clube, em “O Aviador”, outros dois sucessos recentes exibem músicas brasileiras. Em “Ladrão de Diamantes”, “Agora só falta você”, de Rita Lee, na voz de sua xará, Maria Rita, marca um dos momentos românticos do filme. Em “Perto Demais”, a cantora Bebel Gilberto, filha de João Gilberto e Miúcha, cede três sucessos de seu primeiro disco: “Mais Feliz”, “Tanto Tempo” e “Samba da Benção” (de Vinícius de Moraes e Baden Powell). É sempre bom ter a qualidade de nossos artistas em evidência, mesmo que seja nos filmes dos outros.
“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, em DVD
Um filme interessante, estrelado por Jim Carrey, chega às locadoras, em formato digital: “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que, durante anos, tentaram fazer com que o relacionamento entre ambos desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre, e, para tanto, aceita submeter-se a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude, Joel entra em depressão, frustrado, por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao mesmo tratamento. Porém, ele acaba desistindo, de tentar esquecê-la, e, começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória, nos quais ela não participa. Além do filme, o DVD traz comentários do diretor e do roteirista, o documentário “Uma espiada dentro do Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, Uma conversa com Jim Carrey e o diretor Michel Gondry, Cenas excluídas, Videoclipe: The Polyphonic Spree – Light & Day, e, Comercial da Lacuna. O formato de tela é widescreen anamórfico, e, o som, além das dublagens em português e espanhol, traz o áudio original em Dolby Digital e DTS. Item para colecionadores. O filme, dirigido por Michel Gondry, ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original.
Filme de Arte: “Os Sonhadores”
A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, reapresentará a produção de Bernardo Bertolucci “Os Sonhadores”. O ano de 1968 mudou o mundo, para sempre. Enquanto o movimento hippie pregava o amor livre, os estudantes, do mundo inteiro, protestavam, contra a Guerra Fria, a guerra do Vietnã, e, contra o próprio modelo estudantil, arcaico e arraigado às velhas tradições. A França explodiu, numa rebelião sem precedentes. É esse cenário, em polvorosa, que Matthew (Michael Pitt) encontra, quando sai dos Estados Unidos, para estudar em Paris. Lá, ele conhece os irmãos gêmeos Isabelle (Eva Green), e, Theo (Louis Garrel), que vivem uma relação incestuosa. Os três tornam-se amigos, dividindo experiências, e, relacionamentos, enquanto Paris vive a efervescência da revolução estudantil. Intrigante e provocante, como a maioria das obras de Bertolucci, o filme divide opiniões, que vão da paixão à ojeriza total. “Os Sonhadores” terá sessão única, às 21h10 do dia 22, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 16 anos.
Tamanho é documento?
Está pensando em trocar o seu televisor por um modelo com a tela maior? Se acha que o maior significa o melhor, saiba que a coreana Sansung apresentou um monitor de TV de plasma de 102 polegadas. A “criança”, que mede 2,2 por 1,3 metro, oferece ainda um contraste de 2000:1, que possibilita uma melhor definição das sombras. Mas, antes de se animar muito, saiba que, nem mesmo o fabricante teve coragem de dizer o preço deste mimo. Tamanhos menores, mas, ainda assim, impressionantes, já estão disponíveis no mercado, através de vários fabricantes. O problema é decidir qual tecnologia adotar, já que, a cada dia, surgem novos modelos de plasma, cristal líquido e DLP. Até mesmo o antiquado tubo de imagem ensaia uma volta por cima, com uma profundidade menor, ocupando menos espaço na sala. E tem gente que ainda chama a TV de 29 polegadas de telão…
Mônica, chocolate, e, DVD
Quem pensa que cinema só casa com pipoca, pode ir mudando de idéia, pelo menos, nesta Páscoa. A Paramount, Mauricio de Sousa Produções, e, a tradicional fabricante de chocolates Duffy, lançam o primeiro ovo de páscoa com DVD no Brasil. A princípio, serão produzidas 20 mil unidades do novo produto. O kit, intitulado “Páscoa Divertida”, contém um ovo de chocolate ao leite de 225 gramas, mais o DVD da Turma da Mônica. O DVD traz seis histórias clássicas, dos personagens de Mauricio de Sousa, e, jogos interativos, que podem ser jogados com os controles do aparelho.
Promoções, para que te quero
Para quem quer levar os pimpolhos ao cinema, é bom ficar atento às promoções, que podem render uma boa economia, pelo menos nas entradas. A quarta-feira é o dia universal da promoção, com entradas a 8 e 4 reais, nas duas redes de cinema de Natal. O Moviecom acena com preço único de R$3,50, para as sessões que iniciam antes das 14h (observem o ANTES, 14h já será um novo preço). O Cine Natal 1, por sua vez, acena com sessões extras de “Os Robôs”, no sábado e domingo às 11h, com preços a 8 e 4 reais. A meia entrada é válida para estudantes, crianças até 12 anos, e, adultos a partir de 60 anos. Aproveite!
Filme recomendado: “Final Fantasy”
Devoradores de almas
Não é muito difícil que, produções, tecnicamente irrepreensíveis, tenham uma fraca aceitação, do público, e, da crítica. Isso acontece porque há as obras “cabeça” e as de fácil consumo. Quando se tenta misturar as duas coisas, a rejeição é inevitável. Possivelmente foi o que aconteceu com “Final Fantasy”. Contudo, este filme merece ser revisitado, não apenas pela sofisticação técnica, mas, pela história, curiosa, e, fora dos padrões hollywoodianos.
Como é possível que uma animação, gerada pelas mais avançadas técnicas de computação gráfica, repleta de cenas de ação, e, com uma bela trilha sonora, tenha caído nessa situação? A resposta deve estar no enredo, que envolve alienígenas, espiritualidade, e, um ambiente apocalíptico.
A situação passa-se na Terra, no final do século 21. Nosso planeta fora invadido por estranhos seres, vindos em um meteoro, que caiu na Europa central. Os invasores desconhecidos matam todos os seres vivos, apoderando-se de suas almas. Só depois de muitas perdas, foi que os humanos, graças a um cientista de mente mais aberta, conseguiram descobrir um tipo de energia que, não só podia proteger os humanos, como também, atingir os invasores. Essa energia, chamada de bio-etérea, era gerada a partir de organismos microscópicos, e, fornecia não só o insumo para que as máquinas funcionassem, como também ERAM as próprias máquinas. É como se fosse uma realidade virtual-real.
Uma jovem cientista, Aki, tem sonhos recorrentes sobre os invasores, e, seu mundo original, e, busca uma maneira de anular a energia que mantém vivos os alienígenas. Para isso, precisa coletar oito espíritos diferentes, cujas energias, combinadas, poderão derrotar os invasores.
Ao mesmo tempo, um general belicoso, e, vingativo, quer, a todo custo, usar uma poderosa arma, estacionada na órbita da Terra, para destruir os invasores. Os cientistas tentam demovê-lo dessa idéia, mostrando que esse ataque só vai fortalecer o inimigo, já que este é formado de energia pura. Indiferente aos apelos, o general continua obsessivamente a sua campanha, chegando a provocar a destruição da cidade-barreira de New York, apenas para justificar a necessidade do ataque.
Enquanto o general prossegue na sua loucura, Aki, e, um antigo namorado, o capitão Gray, buscam os dois espíritos que faltam, para completar a solução “ecológica” do problema. Não é preciso dizer que os dois estão no alvo, e, no momento exato, do ataque do general. Para saber do resto, favor assistir o filme.
“Final Fantasy” representou um ambicioso projeto de computação gráfica, que levou, para as telas dos cinemas, com extremo realismo, o universo do videogame de mesmo nome. Mas, como desenhos, mesmo sofisticados, ainda são encarados, pelos adultos, como programas de criança, “Final Fantasy” esbarrou na falta de um público capaz de entender a complexidade dos conceitos apresentados. A duras penas, a indústria do cinema entendeu que, não basta imitar a realidade, é preciso mostrá-la de forma atraente.
Posteriormente, a Pixar encarregou-se de consagrar a computação gráfica, com sucessos como “Toy Story”, “Monstros S.A.”, e, o recente “Os Incríveis”.
A edição, em DVD, de “Final Fantasy”, é primorosa. O formato de tela é o original de cinema, widescreen anamórfico, e, o som apresenta as opções de inglês e português, ambas em Dolby Digital 5.1. No disco um, além do filme, estão disponíveis os comentários do co-diretor e da equipe. No segundo disco, Making Of, Cenários e Objetos, Aberturas alternativas, comentários do diretor, arquivos dos personagens, escalas de veículos, Editando Final Fantasy, Pesquisa de trailer, Primeiros testes, Transformação dos personagens, Trilha sonora isolada, storyboards e rascunhos, e, até mesmo o roteiro completo do filme! Um extra divertido é um apanhado dos “erros de gravação”, de algumas cenas do filme.
“Final Fantasy”, que levou quatro anos e 137 milhões de dólares para ser realizado, merece ser assistido com calma, não apenas pelos efeitos especiais primorosos, mas, principalmente por seu enredo denso e intrincado, mostrando que, na maioria das vezes, o inimigo não está lá fora, mas, dentro de cada um de nós.