Claquete 25 de fevereiro de 2005

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Apesar de toda malhação no Oscar, não há como negar o interesse geral sobre a mais tradicional premiação do cinema. O bom é que, enquanto esperamos pelo domingo, dá para conferir alguns dos principais concorrentes, como “O Aviador” e “Menina de Ouro”. Nas estréias da semana, “O Amigo Oculto”, suspense estrelado por Robert de Niro, “O Massacre da Serra Elétrica”, refilmagem do famoso “trash movie” de 1974, e, o premiado documentário “Super Size Me – A Dieta do Palhaço”. Nas continuações, os já mencionados “Menina de Ouro”, dirigido e estrelado pelo ótimo Clint Eastwood, e, “O Aviador”, de Martin Scorsese, estrelado por Leonardo DiCaprio, ambos concorrendo a Melhor Filme. Tem também “Mar Adentro”, que concorre a Melhor Filme Estrangeiro. De resto, as comédias “Hitch – Conselheiro Amoroso”, com Will Smith, dando uma de Cupido, o besteirol “Entrando Numa Fria Ainda Maior”, com Robert de Niro, Dustin Hoffman, e, Barbra Streisand, e, o surpreendente “Em Busca da Terra do Nunca”, drama estrelado por Johnny Depp, que vive o criador de Peter Pan. Para a gurizada, sobrou “Eliana em O Segredo dos Golfinhos”, com a apresentadora infantil Eliana. Firme e forte, a sessão Filme de Arte do Cine Natal 1, traz a produção argentina “O Abraço Partido”.

Pré-Estréia: “Ladrão de Diamantes”

Após um bem sucedido roubo, Max Burdett (Pierce Brosnan) decide deixar o mundo do crime, e, aproveitar a vida em uma paradisíaca ilha, ao lado de sua namorada Lola (Salma Hayek). Porém Stanley P. Lloyd (Woody Harrelson), um agente do FBI que persegue Max há muito tempo, parte também para a ilha, na intenção de assegurar que Max irá cumprir a promessa, de encerrar sua carreira criminosa. Só que, logo depois, Max e Stanley iniciam um novo jogo de gato e rato. O ex-James Bond repete, aqui, o papel que viveu em “Thomas Crown – A Arte do Crime”, o do ladrão refinado e cínico. Uma canção brasileira, “Agora Só Falta Você”, composta por Rita Lee e Luiz Sérgio, aparece no filme, na voz de Maria Rita. A direção é de Brett Ratner, o mesmo dos dois “A Hora do Rush”. “Ladrão de Diamantes” terá pré-estréia, neste final de semana, no Cine 5 do Moviecom, a partir de 21h20. Para maiores de 12 anos.

Estréia 1: “O Amigo Oculto”

Toda criança tem um amiguinho imaginário, isso não é novidade para ninguém. A jovem Emily Callaway (Dakota Fanning), parecia estar passando por uma fase deste tipo, envolvendo-se com Charlie, uma figura fantasiosa, com quem passava horas brincando. A situação parecia natural, já que a mãe de Emily morrera há pouco, e, o pai, David (Robert de Niro), optara por mudar de Manhattan, fugindo das memórias dolorosas. Mas, a mudança trouxe problemas muito mais sérios, pois Charlie, imaginário, ou, “real”, revela uma personalidade malévola e destrutiva, utilizando a inocente Emily como o seu instrumento. Aos poucos, o pânico e a dúvida tomam conta de David. Outros fatos estranhos rondam sua casa. Charlie pode ser real? E qual poder tem sobre sua filha? David terá de correr contra o tempo para desvendar o mistério e impedir que o “amigo imaginário” cause uma nova desgraça. A direção é de John Polson. “O Amigo Oculto” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.

Estréia 2: “Super Size Me – A Dieta do Palhaço”

O diretor Morgan Spurlock decide ser a cobaia de uma experiência inusitada: alimentar-se apenas em restaurantes da rede McDonald’s, realizando neles três refeições ao dia, durante um mês. Durante a realização da experiência, o diretor fala sobre a cultura do fast food nos Estados Unidos, além de mostrar, em si mesmo, os efeitos físicos e mentais que os alimentos deste tipo provocam nas pessoas. O diretor Morgan Spurlock teve a idéia de rodar “Super Size Me” quando, pouco antes do jantar de Ação de Graças, viu, na TV, uma matéria jornalística sobre duas garotas adolescentes que estavam processando o McDonald’s, por torná-las obesas. O documentário ganhou o prêmio de Melhor Diretor – Documentário, no Sundance Film Festival, e, foi indicado ao Oscar de Melhor Documentário. “Super Size Me – A Dieta do Palhaço” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom, sempre na sessão de 18h30. Censura livre.

Estréia 3: “O Massacre da Serra Elétrica”

Em 1974, um filme produzido em fundo de quintal causou imenso alvoroço, principalmente entre os jovens. O filme era “O Massacre da Serra Elétrica”, onde um grupo de jovens era assassinado por um maníaco, com a ferramenta-título. O sucesso foi tamanho, que inaugurou uma onda de filmes de terror, onde brilharam as séries “Sexta-Feira 13”, “A Hora do Pesadelo”, e, muitas imitações baratas. Três décadas depois, foi feita uma refilmagem do filme original. Após acabar a gasolina do carro, um grupo de jovens tem sua viagem interrompida e param em um matadouro. Porém lá vive uma família de canibais e um homem com uma serra elétrica. Apesar de ter sido lançado em 2003, só agora chega ao Brasil. “O Massacre da Serra Elétrica” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 18 anos.

Filme de Arte: “O Abraço Partido”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz a produção argentina “O Abraço Partido”. Ariel (Daniel Hendler) é um jovem de vinte e poucos anos, que largou a faculdade, e, ainda vive às custas da mãe (Adriana Aizemberg). Sua vida gira basicamente em torno de dois locais: a loja de lingeries, de sua mãe, e, o cibercafé local, onde costuma encontrar sua namorada. Ariel sempre estranhou o fato de nem sua mãe nem seu irmão falarem sobre seu pai, que, nos anos 70, partiu para lutar na Guerra do Yon Kippur, em Israel, e, nunca mais retornou. Com a crise econômica instalada na Argentina, várias lojas tradicionais no bairro fecham, e, os amigos de Ariel sonham em conseguir a cidadania européia, e, partir do país em busca de emprego. Ariel também tem este sonho, mas, cada vez mais, alimenta o desejo de conhecer seu pai e também a verdade sobre seu afastamento da família.O filme, dirigido por Daniel Burman, ganhou vários prêmios, nos festivais de cinema de Berlim, Lleída e Havana. “O Abraço Partido” terá sessão única, às 21h do dia 1, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 14 anos.

Cerimônia de premiação do Oscar

Domingo acontece a entrega da premiação do Oscar versão 2005. Os dois favoritos na disputa são “O Aviador”, de Martin Scorsese, e, “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood. Na categoria Melhor Filme Estrangeiro, o mais cotado é o espanhol “Mar Adentro”. “O Aviador” tem um total de onze indicações, o maior número concedido a um filme nesta edição. Apesar do número de indicações não garantir a premiação, ao longo da história do Oscar, dos últimos 20 filmes com mais indicações, 18 levaram o Oscar de melhor filme. Mas, a biografia de Howard Hughes está ameaçada por Clint “Dirty Harry” Eastwood, com o seu tocante “Menina de Ouro”. O curioso é que, no final de 2004, o filme nem tinha data de estréia, mas, dois meses depois, aparece fortíssimo na disputa das sete categorias a que foi indicado. A premiação será transmitida pela Rede Globo, e, pelo canal pago TNT. Neste último, a transmissão do show inicia às 21h.

Catálogo de eventos de cinema

Você tem interesse sobre eventos de cinema, como festivais e mostras, nacionais e internacionais, mas tem que ficar garimpando na internet, ou, rezando para que saia na Claquete? Pois saiba que agora tem uma publicação especializada no assunto. O Guia Brasileiro de Festivais de Cinema e Vídeo 2005, que acabou de ser lançado, reúne informações sobre 96 festivais e mostras regulares de cinema e vídeo, previstas para acontecer este ano. Entre outras informações, estão incluídas as características de cada um dos eventos, além das datas de inscrição e de realização, categorias de premiação, relato da última edição, e, contatos. O guia é um produto da Associação Cultural Kinoforum, e, pode ser adquirido no próprio site da organização, www.kinoforum.org.

Filme recomendado: “Mulher-Gato”

As sete vidas da vilã-heroína

Por estranho que possa parecer, quem mais reclama da adaptação de um personagem de quadrinhos para as telas de cinema, é o fã destes quadrinhos. A reclamação mais comum é de que foram feitas mudanças, no perfil, ou, no visual do personagem. Bem, seria impossível não ter alterações, já que, quadrinhos e cinema, são meios diferentes, com linguagens igualmente diferentes. Mas, é interessante quando se consegue manter, digamos, o espírito do personagem. Esta foi a grande virtude do filme “Mulher-Gato”, lançado recentemente em DVD.

Estrelado por Halle Berry, “Mulher-Gato” teve uma fria acolhida, nos cinemas, injusta, a meu ver. A primeira reclamação foi de que, como “Elektra”, transformaram uma vilã em heroína. Na verdade, quem afirma isso, conhece pouco a personagem, nascida nas páginas dos gibis de Batman, através da pena de Bob Kane e Bill Finger, em 1940. Mas, vamos ao filme.

Patience Phillips é uma artista frustada, que trabalha na área de propaganda de uma grande indústria de cosméticos. A empresa está preste a lançar um novo produto no mercado, e, é justamente Patience quem é encarregada de projetar a campanha publicitária do novo produto. Após uma rejeição de sua primeira proposta, por parte do presidente da companhia, Patience fica incumbida de fazer uma outra, e, entrega-la até meia-noite do dia seguinte.

Nesse mesmo dia, dois fatos importantes marcam a vida da garota. Um gato estranho aparece na janela do apartamento de Patience, e, fica preso na sacada. Penalizada, a moça tenta salva-lo, e, termina pendurada na sacada. Um policial que passava pensa que ela está cometendo suicídio, e, salva-a, de uma queda quase certa. Desfeita a confusão, fica uma atração mútua, que a moça tem que deixar para outra hora, já que está desesperada para concluir o trabalho.

Prestes a encerrar o prazo, Patience corre até a indústria, para entregar o projeto ao patrão. Mas, chegando lá, a moça presencia uma declaração do cientista-chefe, afirmando que o novo produto causava dores de cabeça, dependência química, e, deformidades na pele. Tentando fugir, Patience entra em uma tubulação que é usada para descartar resíduos químicos. Os seguranças acionam a descarga dos resíduos, e, a moça é, literalmente, despejada no mar, o que causa a sua morte.

Neste momento, o misterioso gato, que tem poderes avindos de uma divindade egípcia, chega junto do corpo inanimado de Patience, e, devolve-lhe a vida. A partir daí, a moça passa a ter as poderosas habilidades dos felinos, amplificadas a um nível inacreditável.

A moça tímida e reclusa desaparece, dando lugar a uma ousada e provocante mulher, capaz de enfrentar um grupo de bandidos armados, apenas com as mãos nuas, mas, que apodera-se de jóias preciosas, de uma joalharia. Aos poucos, Patience vai assumindo a personalidade da Mulher-Gato, enquanto investiga os fatos que cercaram o fim de sua vida anterior. Bandida e heroína, ela prossegue, impetuosamente, para matar a sua sede de justiça e vingança.

Essa dualidade da Mulher-Gato, longe de ser um erro conceitual, é, na verdade, a marca mais importante da personalidade da personagem. Ao contrário de outros vilões do Batman, a Mulher-Gato não mata ninguém. Em várias ocasiões, chegou, até mesmo, a ajudar o Homem-Morcego. Não fosse o seu vício de apropriar-se das jóias alheias, já estaria cuidando de gatinhos e morceguinhos na bat-caverna… Bonita, sensual, e, habilidosa, veste-se com roupas provocantes, com botas de salto alto, chicote, e, luva de garras, no melhor estilo fetiche sado-masô.

Desde as suas primeiras aparições, nas páginas dos gibis de Batman, ela fugiu totalmente do caráter chapado, dos outros personagens de ficção ocidentais. Normalmente, os mocinhos são bonzinhos, a ponto de não deixar um papel de bala cair na rua, enquanto que os vilões, não apenas venderiam a mãe, como ainda a entregariam… O próprio Batman, que só consegue enxergar o preto e o branco, cede ao arco-íris da Mulher-Gato.

A Mulher-Gato, ao longo dos anos, teve diversas aparições, sempre associadas aos produtos do Homem-Morcego. Várias atrizes vestiram a pele da vilã: Julie Newmar, a mais perfeita, que ainda provoca saudades nos meninos quarentões, Lee Meriwether, miss América, que apareceu no longa-metragem que antecedeu o seriado, e, Eartha Kitt, cantora e a primeira atriz negra a representar a personagem, deixaram sua marca, nas duas temporadas do seriado “Batman”, estrelado por Adam West. Em 1993, foi a vez da fantástica aparição de Michelle Pfeiffer, em “Batman – O Retorno”, chegando, finalmente à atual versão solo, estrelada por Halle Berry, longe das asas do Homem-Morcego.

A escolha de Halle Berry caiu como uma luva para a personagem. Ao contrário da maioria das insossas atrizes de Hollywood, Halle consegue ser sensual, sem vulgaridade, vigorosa, sem masculinidade, e – importante para os americanos – não aparenta ser negra, o que deixa num limbo racial meio indefinido. Isso não é novidade, pois a Mulher-Gato da segunda temporada, de 1967, foi vivida por uma negra, Eartha Kitt. Não que isso faça diferença para nós, brasileiros, que consideramos a indefinição racial um valor importante de nossa cultura – pelo menos antes dessa idéia estapafúrdia de cotas raciais para universidades!

Halle conseguiu incorporar todas as características da personagem, da sensualidade felina, ao andar bamboleante, e, até o jeito de mover a cabeça. Quanto às cenas de ação, ponto para nós, do Brasil! A técnica que se considerou mais próxima da luta de um gato, foi a capoeira, e, a moça esbanja pernadas e piruetas, para derrotar os inimigos, entre eles – com a devida licença – a gatíssima Sharon Stone.

O filme parece ter funcionado melhor na tela pequena, do que nos cinemas. A versão em DVD, muito bem cuidada, traz o formato de tela widescreen anamórfico, com áudio original remasterizado em Dolby Digital 5.1, com efeitos sonoros que põem à prova o subwoofer. Como extras, um ótimo documentário de meia-hora, “As Muitas Faces da Mulher-Gato”, apresentado por Eartha Kitt, com a participação de todas as atrizes que encarnaram a personagem, Making Of, e, cenas adicionais, tudo devidamente legendado.

Embora tenha decepcionado os fãs de carteirinha, que esperavam a reencarnação dos quadrinhos, “Mulher-Gato” é um bom filme de ação, sem excessos de violência, e, com um roteiro simples, porém, bem executado. Embora não seja um “colecionável” (a não ser para os fãs de Halle Berry), é uma boa diversão, para os meninos e meninas, dos oito aos oitenta. Veja, e, tire as suas próprias conclusões.