Claquete 24 de dezembro de 2004
Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
Chegou o Natal, e, mais importante do que abrir os presentes e empanturrar-se de comida, é a hora de abrir o coração e expressar os sentimentos para quem se ama. E, para completar o programa das festas, que tal conferir as estréias? Enquanto George Clooney e sua gangue exploram novos roubos mirabolantes, em “Doze Homens e Outro Segredo”, Wesley Snipes retoma seu papel do meio-homem, meio-vampiro, em “Blade 3”, com direito a muitas cenas de ação, enquanto Lázaro Ramos e Deborah Secco vivem suas agruras em “Meu Tio Matou um Cara”. Continuam em cartaz “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”, fantasia estrelada por Jude Law, Gwyneth Paltrow, e, Angelina Jolie, a comédia romântica “Dança Comigo”, com Richard Gere, Jennifer Lopez e Susan Sarandon, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida”, com a incansável Xuxa, em busca do ouro dos baixinhos, a comédia de humor negro “Papai Noel às Avessas”, a maravilhosa animação “Os Incríveis”, parceria da Disney com a Pixar, campeão de audiência nos cinemas americanos, “Lutero”, filme sobre o padre que enfrentou a igreja medieval e provocou a Reforma, as comédias “Bridget Jones, No Limite da Razão”, com Renée Zellweger, “O Expresso Polar”, interessante fantasia em animação gráfica, onde o veterano Tom Hanks serviu de modelo para nada menos do que seis personagens, o suspense “Os Esquecidos”, com a talentosa Julianne Moore, e, o desenho animado “Bob Esponja”, da Nickelodeon. Feliz Natal para todos!
Estréia 1: “Blade 3”
Wesley Snipes retorna ao seu papel de Blade, o renegado caçador de vampiros, personagem de quadrinhos da Marvel, criado por Marv Wolfman e Gene Colan. Em uma base localizada no deserto, os vampiros dão a cartada decisiva, em seus planos para conquistar o mundo: ressuscitam Drácula (Dominic Purcell), que deu origem à raça, e, que possui poderes, que lhe permitem sobreviver à luz do dia. Em paralelo, os vampiros iniciam uma campanha difamatória contra Blade (Wesley Snipes), colocando o FBI em seu encalço. Após alguns confrontos com agentes federais, Blade e Whistler (Kris Kristofferson) percebem que precisam de ajuda. Eles se aliam aos Nightstalkers, um grupo de humanos que se dedica a caçar vampiros, e, que é liderado por Abigail (Jessica Biel), que é também a filha de Whistler. Juntamente com Hannibal King (Ryan Reynolds), e, a cientista Sommerfield (Natasha Lyonne), que possui uma deficiência visual, Blade e os Nightstalkers iniciam uma série de batalhas contra Dranica Talos (Parker Posey), a atual líder dos vampiros, sem saber que terão que enfrentar o próprio Drácula. Do diretor David S. Goyer. “Blade 3” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom.
Estréia 2: “Doze Homens e Outro Segredo”
Após o bando de Danny Ocean (George Cloooney) roubar 160 milhões de dólares do cassino de Terry Benedict (Andy Garcia), e, de quebra, conseguir de volta sua esposa, Tess (Julia Roberts), que, na época, estava namorando Benedict, Danny reparte o dinheiro, e, cada um vai viver de forma discreta. Três anos depois, Danny e Tess vivem tranqüilamente, em Connecticut, mas, esta paz é quebrada, com o reaparecimento de Benedict, que quer a grana de volta, apesar de ter recebido esta quantia do seguro. Além disto, Benedict quer os juros de três anos, o que no total seria quase 200 milhões de dólares. Acontece que a quadrilha gastou dinheiro demais, e, agora, precisa bolar um plano fantástico para levantar esta quantia em apenas duas semanas, ou então todos serão mortos. Danny e seu melhor amigo, Rusty Ryan (Brad Pitt), concluem que a melhor opção é roubar um raríssimo Ovo Fabergé, que está sendo exibido num museu de Roma, e, que vale o que eles precisam. Porém, logo descobrem que François Toulour (Vincent Cassel), um milionário que gosta de praticar roubos impossíveis, apenas para mostrar seu intelecto, também pretende roubar o Fabergé. Do diretor Steven Soderbergh, “Doze Homens e Outro Segredo” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.
Estréia 3: “Meu Tio Matou um Cara”
Éder (Lázaro Ramos) é preso, ao confessar ter matado um homem. Duca (Darlan Cunha), um menino de 15 anos, que é sobrinho de Éder, quer provar a inocência do tio. Ele tem certeza que o tio está assumindo o crime para livrar a namorada, Fátima (Deborah Secco), ex-mulher do morto. Duca também quer conquistar o coração de Isa (Sophia Reis), uma colega de escola, que parece estar mais interessada em seu melhor amigo, Kid (Renan Gioelli). Para conseguir provar sua teoria, Duca recebe a ajuda de Isa, e, Kid, nas investigações. Mais um bom momento do cinema nacional, sob a direção de Jorge Furtado, que repete a parceria com Lázaro Ramos, de “O Homem Que Copiava”. “Meu Tio Matou um Cara” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom.
Brasileiros são premiados Festival de Havana
A 26ª edição do Festival de Cinema de Havana, rendeu quatro prêmios para três produções brasileiras: Melhor Montagem (Mair Tabares) e Melhor Música (Naná Vasconcelos), pelo filme ”Quase Dois Irmãos”; ”Nelson Freire”, de João Moreira Salles, ficou com o segundo lugar na categoria de documentário, e, a animação ”Mangue e Tal e Portinholas” (vários diretores) recebeu menção honrosa. ”Diários de Motocicleta”, que era um dos favoritos, na disputa para melhor filme, acabou não concorrendo. O diretor Walter Salles, considerando que o tema Che Guevara poderia influenciar os membros do júri, resolveu retirar seu trabalho da competição.
Home Theater, para que te quero…
Quem acha que um hometheater, mesmo o mais simples, só serve para assistir filmes, está redondamente enganado. Com os avanços da indústria, principalmente nos modelos mais recentes de DVD players, muitos recursos foram incorporados. Já é possível ver fotos tiradas em máquinas digitais, desde que transferidas para um simples CD-Rom, embora existam modelos que tem até um encaixe para os memory stick; para os amantes de música, além de poder escutar o “velho” CD, é possível também escuta-la a partir dos formatos mp3 e wma, que permitem colocar centenas de canções em um único disco; para os que gostam de soltar a voz, muitos modelos simulam um videokê; alguns players já lêem o formato Divx, que consegue espremer um filme inteiro em um único CD; se o seu computador for bem parrudo, dá para conecta-lo à internet, colocar a imagem no hometheater, e, de quebra, gravar os programas da TV, como se fosse um videocassete. Aliás, o videocassete também pode ser usado, com o novo processador de som Dolby Prologic II. O chato é ter que rebobinar a fita, no final…
De Olho nas Promoções
Quem precisa dar um presente legal, e, está com a grana curta (ué, todo mundo levantou a mão?), deve ficar de olho nas promoções de DVD. Discos que, normalmente, estão na casa dos quarenta, cinqüenta reais, muitas vezes são oferecidos em promoções “casadinhas”. A Warner oferece dois discos por 34 reais, enquanto que a Dreamwork, Paramount e Fox, vende três filmes por 60 reais, que termina saindo um preço médio bem razoável. E, se o presente puder esperar um pouco, a boa opção são as lojas online, que, além de oferecerem um acervo maior, ainda vendem no cartão de crédito em várias parcelas, sem juros. Dê uma navegada, antes de se espremer nas compras da véspera de Natal. Boas compras!
“Onze Homens e Um Segredo”, em DVD
Antes de conferir a seqüência deste filme, que chega aos cinemas de Natal nesta semana, que tal dar uma conferida no primeiro capítulo? Danny Ocean (George Clooney) é um homem de ação. Apenas 24 horas após deixar a penitenciária de Nova Jersey, ele já está pondo em prática seu mais novo plano: assaltar três cassinos de Las Vegas em apenas uma noite, em meio à realização de uma luta que vale o título mundial dos pesos-pesados. Para tanto, Ocean reúne uma equipe de onze especialistas, a fim de ajudá-lo em seu plano, seguindo sempre três regras básicas: não ferir ninguém, não roubar alguém que realmente não mereça, e, seguir o plano, como se não tivesse nada a perder. Curiosidade: observe o personagem Rusty, vivido por Brad Pitt, que aparece sempre comendo. Infelizmente, o formato de tela é o famigerado tela cheia, mas o disco traz, como extras, comentários, trailer, Documentário “Por Trás das Câmeras da HBO”, Bastidores, e, a aparência do golpe.
“Onze Homens e Um Segredo”, com Frank Sinatra, em DVD
Pouca gente tem idéia, mas o filme “Onze Homens e Um Segredo”, estrelado por George Clooney, é, na verdade, uma refilmagem de um filme homônimo, estrelado por Frank Sinatra, Dean Martin, Angie Dickinson, e, Sammy Davis Junior, em 1960. Na época, um irreverente grupo de atores, autodenominados “Rat Pack”, juntaram-se para atuar neste interessante filme. Danny Ocean, um veterano da Segunda Guerra, reúne seus homens, para promover um ousado assalto simultâneo a cinco cassinos de Las Vegas. O que difere deste filme para o outro, além dos néons e efeitos especiais, é a rigorosa moral da época, quando o crime não compensava… Pelo jeito, o mundo mudou um pouco, de 60 para cá. O disco traz ainda dois trailers de cinema, comentário de Frank Sinatra Jr. & Angie Dickinson (sem legenda), mapa de Vegas, Informações Escondidas, “The Tonight Show”, com Johnny Carson, e, Frank Sinatra. Os três últimos, com legendas em espanhol, não me perguntem porque.
“A Festa de Babete”, em DVD
Depois de uma demora imperdoável, chega agora, em DVD, um dos mais belos filmes de todos os tempos, inspirado em um conto da escritora dinamarquesa Isak Dinensen. O filme, dirigido por Gabriel Axel, ganhou, merecidamente, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1988. Na desolada costa da Dinamarca, vivem Martina e Philippa, as belas filhas de um devoto pastor protestante, que prega a salvação através da renúncia. As irmãs sacrificam suas paixões da juventude, em nome da fé, e, das obrigações, e, mesmo muitos anos depois da morte do pai, elas mantém vivos os seus ensinamentos, entre os habitantes da cidade. Mas, com a chegada de Babette, uma misteriosa refugiada da guerra civil na França, a vida para as irmãs e seu pequeno povoado começa a mudar. Logo, Babette as convence a tentar algo realmente ousado – um banquete francês! Nesta nossa época, de festas faustosas e interesses nem sempre fraternos, é interessante ver, neste filme, até onde pode chegar o verdadeiro desprendimento.
Filme recomendado: “O Corpo”
O corpo da discórdia
Uma das coisas mais decepcionantes, para qualquer apreciador de cinema, é descobrir que o filme que está assistindo pertence a um gênero totalmente diferente do que se imaginava. Bem, algumas vezes, essa surpresa pode ser positiva, como aconteceu comigo, ao assistir “O Corpo”, estrelado por Antonio Banderas, o latino preferido de Hollywood. Quem assiste um filme de Banderas, espera algo no estilo “Assassinos”, “13º Guerreiro”, ou, “A Máscara do Zorro”. Surpreendentemente, “O Corpo” é um filme onde o tema suplanta, e muito, os protagonistas.
A história pode ser resumida em um parágrafo: Uma arqueóloga descobre restos mortais, em Israel, que podem ter sido de Jesus Cristo. Por abalar um dogma das Escrituras, a ressurreição de Cristo, o Vaticano envia um padre, para investigar o caso. O corpo também atrai a atenção de judeus ortodoxos, do governo de Israel, e, até mesmo, terroristas palestinos. Uma solução conveniente é encontrada no final. Ponto.
Muita gente decepcionou-se com “O Corpo”, exatamente por esperar um thriller de ação, cheio de explosões, e, efeitos especiais. Eu até achava que seria algo do gênero, embora algumas vezes isso se torne maçante e repetitivo. Mas, o mais interessante foi o que o filme trouxe embutido, um questionamento que incomoda não só a religião católica, como toda e qualquer religião. Aliás, a exploração de temas semelhantes está enriquecendo muita gente por aí. Vide Dan Browm, de “Código da Vinci”…
Partamos do princípio que religião é uma organização estruturada, com código, e, cadeia de comando, que tem, como esteio, a fé numa determinada crença. Fé é uma coisa bem mais abrangente que religião. E, é nesse delicado calcanhar de Aquiles, que “O Corpo” se sustenta.
Quando o misterioso corpo aparece, em Israel, com ele apresentam-se várias evidências de que poderia ser o do filho de Deus. Ninguém que fosse crucificado era sepultado, ainda mais, no túmulo de um homem rico. No jazigo foi encontrada uma moeda, com a efígie de Pôncio Pilatos, governante romano da época de Jesus. As inscrições num vaso, e, numa lâmpada de óleo, também apontavam precisamente para 32 DC. O corpo trazia oxidações nos pulsos e pés, típicos de quem foi crucificado. No crânio, existiam marcas de furos, que não foram feitos por metais, mas, sim, por espinhos. No tórax, a marca de um ferimento de lança de perfil redondo, idêntica à que os romanos usavam. E aí?
As reações são as mais diversas possíveis. O Vaticano fica em desespero, pois isso iria contrariar o que estava escrito no Novo Testamento, e, que marca a diferença do catolicismo para todas as outras religiões não-cristãs: a ressurreição. O chefe do Shin Bet, a polícia israelense, tenta tirar proveito do caso. Os judeus ortodoxos invadem o local, e, roubam peças importantes, por considerar os mortos sagrados. Os padres têm crises existenciais, e, de fé. Os terroristas palestinos preocupam-se com as conseqüências para a sua causa.
Aí é que aparece o grande questionamento do filme. O que parece ser um debate entre ciência e fé, transforma-se numa guerra, entre fé e religião. A fé cristã é baseada em fatos, que podem ou não ter acontecido, ou, na sua maravilhosa filosofia de amor e aceitação do próximo? A veracidade ou não da elevação de Cristo aos céus torna-o menos sábio e sagrado? O que é importante, e, essencial, para a burocracia do Vaticano, pode ter pouco valor, para quem crê com sabedoria. Afinal de contas, o obscurantismo dos mil anos de dominação da Igreja Católica baseou-se, exatamente, em cercar a ignorância das pessoas, com dogmas inquestionáveis. Infelizmente, algumas seitas ainda usam o mesmo comportamento, nos dias atuais.
Além do ousado questionamento religioso, “O Corpo” proporciona um interessante passeio na região conturbada de Israel, com todas as suas cores e povos. A profusão religiosa está presente a todo instante, seja nos monumentos ou nas manifestações exibidas no filme.
Infelizmente, a edição em DVD de “O Corpo” está de uma pobreza de fazer inveja a São Francisco de Assis. O formato de tela é tela cheia, e, a imagem apresenta uma qualidade semelhante à de uma fita VHS. O áudio oferece as opções de inglês e português, assim como as legendas. Como extras, trailer de cinema, notas sobre o filme, produção, e, elenco, e, dez minutos de entrevistas, que resumem-se a rasgação de seda mútua. As “cenas de bastidores” são dez minutos de filmagens das filmagens, sem uma única explicação ou coisa que o valha. A edição americana, que foi da Columbia/Tri-Star, trazia, pelo menos, o formato de tela widescreen, com qualidade de imagem melhor.
De qualquer forma, “O Corpo” é um filme em que o conteúdo merece que se assista com atenção. A pobreza da apresentação torna indiferente assistir em DVD ou VHS, o que é até uma vantagem. “O Corpo” é um filme para ser visto, e, discutido, por quem não tem medo de levantar ou enfrentar questionamentos. É para ilustrar a diferença entre fé e religião, pelo uso da política pelas igrejas e vice-versa, dos valores pessoais e religiosos, etc.. Assista, discuta e tire suas conclusões.