Claquete 08 de outubro de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

O mar do cinema, mais uma vez, não está para os peixinhos, a não ser pela entrada, pra valer, do desenho animado “Espanta Tubarões”, da Dreamworks. Para os meninos maiores, duas estréias da pesada: “Residente Evil – Apocalipse”, com Milla Jovovich, em mais uma versão do famoso videogame, e, “Kill Bill – Vol 2”, com a segunda parte da jornada vingativa da Noiva, no quarto filme de Quentin Tarantino. Entra também, em sessões normais, “Chamas da Vingança”, policial, com Denzel Washington. Continuam em cartaz “A Dona da História”, drama nacional, com Marieta Severo e grande elenco, “Rios Vermelhos 2”, filme policial francês, com o ótimo Jean Reno, “Paixão à Flor da Pele”, drama com Josh Hartnett, “Rei Arthur”, salada mista de Roma com a famosa lenda inglesa, o filme de ação “Supremacia Bourne”, com Matt Damon retomando o seu personagem de “Identidade Bourne”, e, o excelente drama “O Terminal”, estrelado por Tom Hanks e dirigido por Steven Spielberg. No Filme de Arte, do Cine Natal 2, a produção européia “Sem Notícias de Deus”.

Kill Bill – Vol 2

Quem assistiu a primeira parte de “Kill Bill” (e gostou…) deve estar ansioso, para ver o resto da história. No seu estilo muito particular, Quentin Tarantino conta a história da Noiva (Uma Thurman), uma perigosa assassina, que trabalha em um grupo, liderado por Bill (David Carradine), e, que é composto, principalmente, por mulheres. Prestes a se casar com Bill, no dia de seu casamento, o noivo e as companheiras de trabalho voltam-se contra ela, deixando-a como morta. Após passar cinco anos em coma, ela desperta, motivada exclusivamente pela vingança. Com muitos flashbacks, a história vai e volta, no tempo, mostrando um pouco dos personagens envolvidos. Seguindo o padrão de Tarantino, a trilha sonora é belíssima, assim como o visual dos personagens, e, a fotografia impecável. Estão presentes, também, muitas referências aos animes japoneses, às histórias de samurais e de cowboys. Antes de conferir a segunda parte nos cinemas, é bom dar uma refrescada na memória, assistindo “Kill Bill – Vol 1”, que chegou recentemente nas locadoras. Pena, que a versão lançada no Brasil tenha sido tão mutilada, deformando a espetacular fotografia do filme. “Kill Bill – Vol 2” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3, do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Resident Evil 2

Em 2002, um dos videogames mais populares do mundo, Resident Evil, ganhou uma versão cinematográfica, entitulada “Resident Evil – O Hóspede Maldito”. Criticado pelos fãs do game, o filme agradou os cinéfilos, por sua ação incessante, e, a presença da gatíssima Milla Jovovich. O tema é retomado, numa seqüência, estrelada pela mesma Milla. “Residente Evil – Apocalipse” começa no ponto onde o outro terminou. Desde que foi capturada pela Corporação Umbrella, Alice (Milla Jovovich) passou por várias experiências biogênicas. Ela teve seus genes modificados, o que fez com que adquirisse poderes, sentidos, e, agilidade sobre-humanos. Agora, ela precisa retornar à cidade de Racoon, onde recebe o apoio de Jill Valentine (Sienna Guillory) e Carlos Olivera (Oded Fehr), para eliminar um vírus mortal, que ameaça fazer com que todo ser humano retorne como zumbi. Direção de Alexander Witt. “Resident Evil – Apocalipse”, estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7, do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Filme de Arte: “Sem Notícias de Deus”

O Filme de Arte do Cine Natal 2, desta semana, é a produção européia “Sem Notícias de Deus”, dirigida por Agustín Díaz Yanes. O começo de século revela uma dura realidade aos dirigentes do céu. Não há almas capacitadas a entrar no Paraíso e o esvaziamento é uma realidade. O inferno, por sua vez, vive situação inversa: está cheio de candidatos. A mãe do boxeador mexicano Manny (Demián Bichir), com passado comprometedor, pede que os serviços do Bem salvem a alma do filho. Os dirigentes do céu enviam o melhor anjo para a missão, que encarna em Lola, a mulher do boxeador. Só que os serviços de inteligência do inferno detectam a missão e seus dirigentes não aceitam perder a disputa por essa alma. Mesmo atravessando problemas de superpopulação, enviam um representante de grande experiência – a lindíssima garçonete Carmen – para neutralizar as ações de Lola. Afinal, a avareza é um dos pecados capitais e, quanto mais se tem, mais se quer. O elenco, é de primeira: além de Bichir, Victoria Abril, Penélope Cruz, e, Fanny Ardant “Sem Notícias de Deus” teve onze indicações para o prêmio Goya. O Filme de Arte terá sessão única, às 21h10, no dia 12, terça-feira, no Cine Natal 2. Para maiores de 14 anos.

Fahrenheit 11 de Setembro, em DVD

Decidido a levar a sua cruzada pessoal contra o presidente Bush até o fim, Michael Moore conseguiu mais um feito impressionante. No primeiro dia em que o DVD foi colocado à venda, nos Estados Unidos, foram vendidas dois milhões de cópias! Embora o filme, no Brasil ainda esteja nos cinemas, Natal inclusive, a distribuidora Europa Filmes já anuncia, para 10 de novembro, a chegada do DVD nas locadoras. O disco traz novas cenas de abusos cometidos por soldados americanos, contra presos iraquianos, na prisão de Abu Ghraib; um testemunho, nunca divulgado antes, da conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, ante a comissão investigadora do 11 de setembro, e, outro, do presidente George W. Bush. Criticado ferozmente, pelos opositores, Moore lança também dois livros, “The Official Fahrenheit 9/11 Reader” (“O livro oficial de Fahrenheit 9/11”), que acompanha o filme, e, “Will They Ever Trust Us Again? Letters From the War Zone” (“Será que voltarão a acreditar em nós? Cartas da Zona de Guerra”), uma coletânea de cartas escritas por soldados e suas famílias ao diretor americano. Aguarde.

Chamas da Vingança

Uma grande onda de seqüestros varre o México, fazendo com que, muitos de seus cidadãos mais ricos contratem guarda-costas, para seus filhos. John Creasy (Denzel Washington) é um desmotivado ex-agente da CIA, que é levado à Cidade do México, por seu amigo Rayburn (Christopher Walken). Sem emprego, ele aceita a proposta de ser guarda-costas da pequena Pita (Dakota Fanning), uma garota de nove anos, que é filha de um industrial (Marc Anthony). Incomodado com as perguntas constantes da garota, John inicialmente vê seu novo trabalho como um fardo, mas, aos poucos, cria amizade com Pita, e, passa a ter um novo ânimo em sua vida. O seqüestro de Pita desfaz esta situação, fazendo com que ele, mesmo ferido, parta para resgatá-la, a qualquer custo. Direção de Tony Scott, que já dirigiu Washington em “Maré Vermelha”. “Chamas da Vingança” será exibido, a partir desta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.

Espanta Tubarões

Oscar (voz de Paulo Vilhena) é um pequeno peixe, que tem sonhos grandes, e que, se torna um herói involuntário, após pregar uma grande mentira. Após ser perseguido pelo filho do tubarão-chefe, Oscar presencia sua morte. Querendo bancar o herói, ele assume a autoria do assassinato, e, com isso, se torna uma grande celebridade no mundo aquático. Porém a situação se complica, quando ele é designado para repetir a façanha, eliminando outros tubarões. Produção da Dreamworks, no original, os personagens foram dublados por Will Smith, Robert De Niro, Renée Zellweger, Jack Black, Angelina Jolie e Martin Scorcese. Mas, essa versão, só em DVD… “Espanta Tubarões” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 6, do Moviecom, cópias dubladas. Livre.


Betty Faria, em DVD

A veterana atriz Betty Faria, recebe uma justíssima homenagem, ao mesmo tempo em que o acervo do cinema nacional terá três importantes títulos preservados, em DVD. Em parceria com a LC Barreto Produções, chegarão às lojas, de todo Brasil, os filmes “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Bye, Bye Brazil”, e, “Romance de Empregada”. Todos os discos terão extras, como Making Of, filmografia, biografias, trailer, e, outros mimos. Serão introduzidas, no mercado, 25 mil cópias dos três filmes. Com distribuição da Paramount, a idéia é lançar 40 títulos, até o final de 2005.

Filme recomendado: “Tarde Demais Para Esquecer”

Nunca é tarde para lembrar

Eu sempre gosto de perguntar às pessoas o que é que torna um filme inesquecível. A primeira reação, principalmente entre os mais jovens, é citar os efeitos especiais bombásticos, dos blockbusters. Isso pode ser verdadeiro, num primeiro momento, logo no lançamento do filme. Contudo, se “Titanic” é um filme inesquecível, para muitos, talvez seja mais pelo romance dos personagens de Leonardo Di Caprio e Kate Winslet, do que pelas imagens do navio afundando. Sim, meus caros, o relacionamento entre as pessoas termina sendo a dimensão de maior importância, pelo simples fato de que nós, espectadores, também somos humanos. Por isso mesmo, é mais fácil nos identificarmos com os heróis da tela. Esta, com certeza, é a explicação para que “Tarde demais para esquecer”, um filme estilo “sessão da tarde”, seja sempre lembrado.

O sucesso de um filme se mede, não só pelas bilheterias, mas, também, pelas refilmagens e referências. Curiosamente, o próprio “Tarde demais para esquecer” foi uma refilmagem de “Duas Vidas”, realizado em 1939, pelo mesmo diretor da versão de 57, Leo McCarey. Em 1994, a história foi refeita, com Annette Benning e Warren Beatty, chegando aqui com o título “Segredos do coração”. Talvez, por não estar à altura do filme de McCarey, esta fita recebeu uma indicação ao duvidoso “prêmio” Framboesa de Ouro, como a Pior Refilmagem daquele ano. Bem diferente, foi o delicioso melodrama “Sintonia de amor”, de 1993, com Tom Hanks e Meg Ryan, que presta uma grande homenagem ao filme de 57. As personagens de Meg Ryan e Rosie O’Donnell sabiam de cor as falas de “Tarde Demais Para Esquecer”, e, debulhavam-se em lágrimas, ao assistir o filme pela énesima vez.

“Tarde Demais…” sustenta-se na química perfeita do casal central, Cary Grant e Deborah Kerr. Grant, que fugiu de casa na adolescência para ser acrobata de circo, já era um ator veterano, em 57. Contratado pela Paramount, para rivalizar Gary Cooper, teve o nome artístico mudado, na última hora, de Gary para Cary Grant, para não dar muito na vista. Habilidoso, tanto para comédias, como para filmes sérios, tornou-se o favorito de diretores como Alfred Hithccock e Howard Hawks. Contracenou com as estrelas mais famosas do mundo, como Katharine Hepburn, Marilyn Monroe, Grace Kelly, Joan Fontaine, e, Ingrid Bergman, sua melhor amiga. Grant também atuou ao lado de Sofia Loren, com quem manteve um tórrido romance, interrompido porque a atriz resolveu manter o compromisso com o diretor Carlo Ponti, seu descobridor. O ator teve vários relacionamentos, sempre com mulheres mais jovens, tornando-se pai aos sessenta e dois anos. Nessa mesma época, afastou-se do cinema, por achar que não tinha lugar para o seu tipo, humor, e, classe.

Deborah Kerr também era uma atriz famosa em 1957, tendo estrelado sucessos como “O Rei e Eu”, “Fim de Caso”, “As Minas do Rei Salomão”, “Quo Vadis?”, “Prisioneiro de Zenda”, e, muitos outros. Posteriormente, viria a estrelar o premiado “A Um Passo da Eternidade”, ao lado de Burt Lancaster, Frank Sinatra e Montgomery Clift. Falando-se em prêmios, Kerr foi a atriz mais vezes indicada para o Oscar, mas que, jamais ganhou como Melhor Atriz. Em 1994, recebeu um prêmio especial da Academia pelo conjunto da carreira. Nada mais justo, para esta escocesa, que fugiu do padrão de suas colegas, sempre primando pela disciplina, correção, e, elegância.

A importância do elenco cresce ainda mais quando vemos a sinopse do filme. Um playboy conhece uma linda garota, durante uma viagem de transatlântico, entre a Europa e os Estados Unidos. Após muitos flertes, apaixonam-se, mas, como ambos eram comprometidos, decidem que irão resolver suas vidas, e, encontrar-se seis meses depois, no topo do Empire State, prédio mais alto de New York, na época (e hoje também). No dia marcado, quando a moça se aproximava do prédio, é atropelada, e, fica paralítica. Como ela não comparece ao encontro, o rapaz imagina ter sido abandonado. Tempos depois, acontecem alguns encontros amargos, onde cada um pensa o pior do outro. Como seria de se esperar, um dia, a verdade é revelada.

Uma história assim é do tipo pipoca-com-açúcar, daquelas que as moças saíam dos cinemas com a cara inchada de chorar. Voltamos então à nossa pergunta inicial, o que faz um filme como esse tornar-se especial, já que o tema vai-e-vém dos namorados foi milhões de vezes visitado? A verdade é que, assim como um discurso não precisa ser interminável, para ser imortal, uma história não precisa ser mirabolante, para ser inesquecível. O fundamental, é que seja bem contada.

Não existe nada mais falso do que amor de novela, daqueles que, no primeiro capítulo, dois desconhecidos apaixonam-se, e, pulam logo para a cama. Talvez seja esta a diferença do nosso filme, onde o caso de amor é delicadamente construído, numa progressão que afeta as próprias vidas dos envolvidos. Para se ter uma idéia, mais da metade do filme passa-se no navio, onde os dois se conhecem.

Nickie Ferrante era um boa vida, que nunca tinha trabalhado, vivendo às custas da família, e, com um casamento engatilhado, com uma herdeira milionária. Terry McKay, por outro lado, vivia com seu noivo, um bem sucedido empresário. Depois de paqueras, arrufos, e, reconciliações, os dois chegam à conclusão de que vivem vidas falsas, e, que devem buscar seus próprios sonhos, ele como pintor, ela como professora de música. É um pouco difícil acreditar que alguém conseguiria se firmar no mundo artístico em seis meses, mas aqueles eram os anos cinqüenta, quando o velho sonho americano ainda tinha muitos adeptos.

O curioso deste filme é que, mesmo na conservadora sociedade americana dos anos cinqüenta, os personagens eram perfeitamente aceitáveis e verossímeis. Afinal de contas, um quarentão que não batia um prego numa barra de sabão, e, uma mulher que vivia com um homem, sem ser casada, não seriam os heróis prediletos de uma família cristã decente. Contudo, Grant e Kerr conseguiram dar o seu recado, de uma forma tão convincente, que esses aspectos viraram meros detalhes.

A edição em DVD está sofrível. O áudio está disponível em inglês, espanhol e português, assim como as legendas. Como extras, trailer original do filme, galeria de fotos e trailers de outros títulos. Fazem falta algumas notas sobre a produção e elenco, por exemplo.

Apesar da pobreza do disco, este é um filme que merece ser alugado, mesmo por quem não goste muito de clássicos. Mesmo sem ser um filme profundo como “Cidadão Kane”, ou, um épico, como “Lawrence da Arábia”, “Tarde Demais Para Esquecer” lembra que existem momentos para qualquer coisa. Inclusive para desenterrar o sofrido lado sentimental, que existe, aprisionado dentro de cada um de nós. Nunca é tarde, para lembrar que, algum dia, todos nós já fomos muito românticos.