Claquete 30 de julho de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Aos poucos, o cinema volta seus olhos para os adolescentes e adultos. Neste final de semana, estréiam “Hellboy”, mais uma adaptação de um herói de quadrinhos, com muita ação e efeitos especiais, e, a comédia romântica “Meninas Malvadas”. Continuam em cartaz, “Efeito Borboleta”, uma ficção científica estilo viagem no tempo, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada do inesquecível Cazuza, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Para a criançada, “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo, “Homem Aranha 2”, dublado e legendado, “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, a produção da Disney, “Nem Que a Vaca Tussa”, e, o nacional “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte. Na próxima quinta-feira, acontece a pré-estréia de “Eu, Robô”, estrelado pelo rapper Will Smith.

Hellboy

Já perto do fim da 2ª Guerra Mundial (aquela, em que americanos e ingleses eram os mocinhos), os nazistas tentam eliminar seus inimigos, usando magia negra, e, invocando forças ocultas. Um destes rituais é interrompido por um grupo aliado, mas, alguma coisa já havia chegado ao nosso mundo: uma criança com a pele vermelha, e, a mão esquerda feita de metal. O garoto passa a ser chamado de Hellboy, sendo levado pelos Aliados. Depois de adulto, passa a integrar a agência clandestina BPRD (Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal), que luta contra as forças do Mal. Na agência, Hellboy tem a companhia do ser anfíbio Abe Sapien (Doug Jones), de seu amor platônico Liz Sherman (Selma Blair) – uma garota com poderes pirocinéticos – e, do agente Myers (Rupert Evans), além do próprio Broom, responsável pelo salvamento de Hellboy. As coisas se complicam quando Grigori Rasputin (Karel Roden) – o homem que trouxe Hellboy à Terra – é ressuscitado, e, retoma seus planos de deflagrar o Apocalipse. Hellboy é interpretado por Ron Perlman, mais conhecido por seu papel de Salvatore, em “O Nome da Rosa”. Mais uma adaptação de quadrinhos para o cinema, projeto pessoal do diretor mexicano Guillermo del Toro (“A Espinha do Diabo”, “Blade 2”). Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 4 do Moviecom. Censura 14 anos.


Meninas Malvadas

Cady Heron (Lindsay Lohan) é uma garota que cresceu na África, e, sempre estudou em casa, nunca tendo ido a uma escola. Após retornar aos Estados Unidos, com seus pais, ela se prepara para iniciar sua vida de estudante, matriculando-se em uma escola pública. Logo, Cady percebe como a língua venenosa de suas novas colegas pode prejudicar sua vida, e, para piorar ainda mais sua situação, Cady se apaixona pelo garoto errado. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Censura 12 anos.

Pré-estréia: Eu, Robô

Isaac Asimov, um dos maiores escritores de todos os tempos, já teve várias de suas obras transformadas em filmes. Desta vez, o filme “Eu, Robô”, estrelado por Will Smith, baseia-se nos elementos de um dos mais famosos livros de Asimov, de mesmo nome. O livro, na verdade, é uma coletânea dos primeiros contos sobre robôs, onde foram formuladas as famosas leis da robótica, que, assim como a personagem Susan Calvin (Bridget Monayhan), estão presentes no filme. Em 2035, a existência de robôs é algo corriqueiro, sendo utilizados, constantemente, como empregados, e, assistentes dos humanos. Os robôs possuem um código de programação chamado Leis da Robótica, que impedem que façam mal a um ser humano. Estas leis parecem ter sido quebradas, quando o Dr. Miles aparece morto, e, o principal suspeito de ter cometido o crime é, justamente, o robô Sonny. Caso Sonny realmente seja o culpado, a possibilidade dos robôs terem encontrado um meio de quebrar a Lei da Robótica pode permitir que eles dominem o planeta, já que nada mais poderia impedi-los de subjugar os seres humanos. Para investigar o caso, é chamado o detetive Del Spooner (Will Smith), que, com a ajuda da Dra. Susan Calvin, precisa desvendar o que realmente aconteceu. “Eu, Robô” tem pré-estréia na próxima quinta-feira, dia 5, no Cine Natal 1 (sessão única, às 21h30), e, no Cine 1 do Moviecom, sessões a partir de 16h10. Censura 12 anos.


Os Três Patetas, em DVD

Os nomes Moe.Curly e Larry são familiares? Não, se você não foi criança nos anos 60, a chance de ter assistido os filmes dos Três Patetas é muito remota. Mas, as novas gerações têm, agora, a chance de conhecer um dos mais famosos trios de comediantes americanos, adeptos da fórmula pastelão, que seria copiada, com sucesso, pelos Trapalhões, aqui no Brasil. A Columbia Tri-Star, que pertence à Sony, está lançando, no próximo dia 11, dois discos, “The Three Stooges: Goofs on the Loose”, e, “The Three Stooges: Stooged and Confoosed”, com dois dos mais populares filmes do trio. Uma inovação, deverá chamar a atenção, mesmo de quem não é fã do grupo. A Sony está lançando os DVDs com um efeito denominado ChromaChoice, um formato que permite ao usuário ver filmes antigos no original preto e branco ou colorido, com um simples comando do controle remoto. Segundo os especialistas, os métodos de colorização estão muito mais sofisticados do que no início dos anos 80, quando vários filmes “sofreram” a inclusão de cores. É esperar, para conferir.

Fahrenheit 11 de setembro

Ele não é candidato a nada, mas mete medo em todos os políticos americanos, principalmente os republicanos de George W. Bush. Michael Moore, que ficou mundialmente famoso com o seu libelo contra o armamentismo, “Tiros em Columbine”, investiga, em “Fahrenheit 11 de Setembro”, como os Estados Unidos se tornaram alvo de terroristas, a partir dos eventos ocorridos naquele fatídico dia de 2001. Também são explorados os paralelos entre as duas gerações da família Bush que já comandaram o país, e, ainda, as relações entre o atual Presidente americano, George W. Bush, e, Osama Bin Laden. O filme, que teve a sua distribuição ameaçada, já passou dos cem milhões de dólares de bilheterias, e, promete fazer muito estrago, na campanha da reeleição de Bush. “Fahrenheit” estréia, no Brasil, nesta sexta-feira. Vamos torcer para que chegue logo em Natal!

Asimov no cinema: O Homem Bicentenário

Uma das mais bem sucedidas adaptações de livros de Isaac Asimov para o cinema, foi “O Homem Bicentenário”, estrelado por Robin Williams. Em 2005 (o livro foi publicado em 1976), uma família americana compra um novo utensílio doméstico: um robô, chamado Andrew (Robin Williams), para realizar tarefas domésticas simples. Entretanto, aos poucos, o robô vai apresentando traços característicos do ser humano, como curiosidade, inteligência, e, personalidade própria. É o início da saga de Andrew em busca de liberdade e de se tornar, na medida do possível, humano. O diretor Chris Columbus, que fez os dois primeiros Harry Potter, conseguiu dar uma dimensão mais simpática ao drama do robô Andrew, inclusive com uma trama romântica que nunca existiu na história original. O filme, que já passou até na TV aberta, está disponível nas locadoras, em VHS e DVD.

Filme recomendado: “Viagem Fantástica”

Rumo ao espaço interior

Poucos se lembram, ou, tiveram notícia, de um filme, lançado no ano de 1966, que, se não teve o embasamento técnico, ou, os recursos de “2001, Uma Odisséia no Espaço”, apresentou um tema inovador, sobre a exploração do interior do corpo humano. Esse filme foi “Viagem Fantástica”, que seria refilmado nos anos 80, em “Viagem Insólita”.

A história foi absolutamente inovadora na época: um dissidente político (provavelmente da União Soviética, já que a época de era de plena Guerra Fria) consegue escapar, mas, sofre um atentado, e, entra em coma. Graças a um projeto ultra-secreto dos Estados Unidos, uma equipe é selecionada para ser miniaturizada, e, injetada no corpo do dissidente, a fim de reparar o dano no cérebro do cientista.

Bem de acordo com a paranóia da época, suspeitava-se de um traidor no grupo. Por isso, Grant (Stephen Boyd), o agente da CIA que trouxera o dissidente, vai junto com o grupo. Um pequeno submarino, com a equipe a bordo, é reduzido ao tamanho de um micróbio, e, injetado numa veia do cientista. Além de Grant, compõem o grupo um comandante da marinha, dois neuro-cirurgiões, e, a assistente de um deles, Cora, vivida pela linda Rachel Welch, ainda em início de carreira.

A viagem prossegue por várias partes do corpo humano, com as dificuldades inerentes de um filme do gênero. A suspeita do sabotador começa a se comprovar, quando ocorrem tentativas de assassinato de membros do grupo, e, danos nos equipamentos necessários para operar o paciente. O clímax ocorre em pleno cérebro, quando a equipe está divivida entre salvar as próprias vidas, ou, a do paciente, ao mesmo tempo em que luta contra o sabotador.

O problema de todo filme que depende de tecnologia é que esta “envelhece”. Os efeitos especiais, surpreendentes para a época, hoje parecem primários, se comparados ao que qualquer garoto de escola faz, com um simples PC. A trilha sonora, apesar de muito bem integrada à ação, apoia-se fortemente no uso de sintetizadores eletrônicos, novidade na época.

O elenco era formado por grandes atores, o que mostra como o filme foi levado a sério. Stephen Boyd já era famoso por seu papel de Messala, na megaprodução “Ben-Hur” de 1959. Donald Pleasence, um conhecido vilão das telas, William Redfield, e, Arthur Kennedy, todos atores veteranos, reforçavam o elenco de apoio. Novata mesmo, só a belíssima Rachel Welch, que explodiria em seu filme seguinte, “Um milhão de anos AC”. Além de uma carreira brilhante como estrela de cinema, Rachel viria a ser uma das primeiras a vender as fitas de exercícios.

O curioso deste filme é que, depois de ter sido lançado, foi encomendado ao grande autor de ficção-científica, Isaac Asimov, transformar o roteiro em livro, que saiu com o mesmo título. Aceitando o encargo, Asimov manteve-se fiel ao roteiro original, tendo o cuidado de corrigir as incoerências científicas. Contudo, o fato de não ser uma obra sua o incomodava. Em 1987, explorou novamente o tema, já com uma visão totalmente sua, que denominou “Viagem fantástica II – Rumo ao cérebro”. Nesse mesmo ano, foi lançado o filme “Viagem insólita”, como Dennis Quaid e Meg Ryan, com a mesma temática, mas num enfoque tipo comédia de aventura.

A edição em DVD, de “Viagem Fantástica” poderia ter sido um pouco melhor, pois o áudio veio em inglês, e, espanhol, estéreo (a turma do dublado, sorry!). Mas, pelo menos o formato de tela foi mantido em widescreen anamórfico. As legendas estão disponíveis em português, espanhol e inglês. Como extras, apenas trailer de cinema.

Apesar da produção não ter o requinte dos efeitos técnicos dos filmes atuais, “Viagem Fantástica” é um filme curioso para se ver, pelo pioneirismo dos efeitos, e, pela abordagem, com forte influência da Guerra Fria. Com um certo atraso, foi lançado, em DVD, “Viagem Insólita”, de modo que, dá para ver como vinte anos de evolução na indústria do cinema repercutem, na exploração de um mesmo tema. Valeu, Saba!