Claquete 23 de julho de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Quer ir ao cinema, mas, tem mais de doze anos? Bem, se não for chegado a um filme infantil, as opções são poucas. Para completar, apenas um filme estréia neste final de semana, “Efeito Borboleta”, um ficção científica estilo viagem no tempo. Fora isso, continuam em cartaz, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “A Batalha de Riddick”, ficção científica repleta de ação, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Para a criançada, “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo, “Homem Aranha 2”, dublado e legendado, “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, a produção da Disney, “Nem Que a Vaca Tussa”, o nacional “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.


Efeito Borboleta

Que conseqüência um fato de hoje pode causar no futuro? Esse é o tema de “Efeito Borboleta”, com uma nova visão de viagens no tempo. Evan (Ashton Kutcher) é um jovem que luta para esquecer fatos de sua infância. Para tanto ele decide realizar uma regressão onde volta também fisicamente ao seu corpo de criança, tendo condições de alterar seu próprio passado. Porém ao tentar consertar seus antigos problemas ele termina por criar novos, já que toda mudança que realiza gera conseqüências em seu futuro. O título do filme faz referência a um conto de Ray Bradbury, “Um Som de Trovão”, onde a morte de uma simples borboleta, no passado, causa mudanças radicais na História. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Censura 14 anos.

HTPC

Já ouviu falar nesta sigla? Mas, se já ficou com raiva, por não poder ver aquele filme maneiro, baixado da internet, no seu telão de 29 polegadas, saiba que já existe uma solução. HTPC é a sigla de um microcomputador, idealizado para uso com o seu hometheater. Com um bom processador, muita memória RAM, disco rígido acima de 80 giga, boas placas de som e captura de vídeo, é possível gravar programas da TV em formato digital, reproduzir filmes, clipes e jogos, como se viessem do DVD, e, tudo o mais que a sua imaginação permitir. Já podem, inclusive, ser montados em gabinetes pretos, coloridos, e, até mesmo transparentes, com néon e outras acessórios, como teclados e mouse sem fio. Mas, prepare o bolso, pois uma configuração destas sai bem mais caro do que o pecezinho básico do dia-a-dia…

Band of Brothers, em DVD

Você é fã dos filmes de guerra, daqueles em que os gringos ainda eram os mocinhos? Experimente, então, “Band of Brothers”, minissérie com dez capítulos, que conta a trajetória de um grupo de homens (Easy Company), do primeiro dia de treinamento até o final da guerra, passando por todos os principais acontecimentos do cenário europeu. A narrativa humaniza os soldados, procurando retratá-los como homens comuns, mostrando o que eles gostavam, o que temiam, como eles se relacionavam uns com os outros e o que era importante para eles. Projeto conjunto de Steven Spielberg e Tom Hanks, inspirada no livro homônimo de Stephen E. Ambrose, resultou em uma superprodução de 120 milhões de dólares – a mais cara da história da TV. O pacote traz seis DVDs, com formato de tela Widescreen e som Dolby Digital 5.1, com pleno uso do seu subwoofer!

Cinema Revolucionário, em DVD

Essa é para os estudiosos do cinema. Foi lançado, em DVD, mais um pacote com filmes russos que marcaram época. É a coleção “Cinema Revolucionário Soviético – Vol. 2”. Entre as obras, “Aelita – A Rainha de Marte”, curiosa aventura de ficção científica com toques de comédia e política, dirigida por Iakov Protazanov, baseada em livro homônimo de Alexei Tolstoi; “Um Homem Com Uma Câmera”, exemplo da ruptura total do cinema com a literatura e a dramaturgia, de Dziga Vertov, o artista preferido do governo soviético, que criou o Kino-Pravda (Cine-Verdade) e o Kino-Glaz (Cine-Olho); “Andrei Rublev”, obra-prima desigual do cinema-russo, que revelou ao mundo um jovem e promissor cineasta, Andrei Tarkovsky; e, finalmente, “Câmera Olho – Réquiem a Lênin”, projeto cinematográfico mais ambicioso de Dziga Vertov, cineasta favorito de Lênin.

Morre o coreógrafo Antonio Gades

Morreu nesta terça-feira, dia 20, em Madri, aos 67 anos, vítima de um câncer, o bailarino e coreógrafo espanhol Antonio Gades, famoso por difundir a dança flamenca. Seus restos mortais foram levados para Cuba, onde foi cremado, e, suas cinzas, espalhadas. Sua admiração por este país era tanta, que chegou a filiar-se ao PC cubano, recebendo, do próprio Fidel, a Ordem José Martí, em junho passado. Gades ficou mundialmente famoso, após protagonizar filmes do cineasta Carlos Saura, como “Bodas de sangue” (1981), “Carmen” (1983), e, “Amor Bruxo” (1986).

Os reis do cinema

Se lhe perguntassem qual o país que mais produz filmes, o que responderia? Se pensou nos Estados Unidos, errou por uma letra. O país que mais produz filmes no mundo é a Índia, principalmente em Bombaim, por isso mesmo, apelidada de “Bollywood”. Os números impressionam: são produzidos cerca de 700 filmes indianos por ano, empregando dois milhões de pessoas, e, levando 70 milhões de espectadores aos cinemas, por semana! Para conferir algumas produções, que dificilmente chegam por aqui, só nas locadoras. Veja “Missão Kashmir” e “Lagaan”, com direito a muita ação, belas músicas e coreografias, e, quatro horas de duração, cada!

Filme recomendado: “Uma Relação Pornográfica”

A jura secreta que não foi feita

O relacionamento entre um homem e uma mulher já foi levado às telas de mil e uma maneiras diferentes, seja de forma romântica, como “Um homem, uma mulher”, “Casablanca”, “Sintonia de amor”, seja de forma neurótica, como “O último tango em Paris”, “Império dos sentidos”, “Perdas e danos”. Às vezes, o casal é meio estranho, como Madonna e Rupert Everett, em “Sobrou para você”. E aí, quando se pensa que não havia nada mais a explorar, aparece um belo filme europeu intitulado “Uma relação pornográfica”.

Não deixe o título enganá-lo. O filme – indicado por minha filha caçula – não contém pornografia alguma, no máximo, breve nudez e simulação de sexo. A novela das sete, certamente, apresenta cenas mais fortes do que este filme.

A relação pornográfica, de que fala o título, refere-se a como os personagens se conheceram. Através de uma revista especializada, um homem e uma mulher, que não se conheciam, marcam um encontro, por ter em comum uma determinada fantasia sexual (que nunca chega a ser revelada). A mulher define a relação como pornográfica, por ter tido origem exclusivamente sexual.

Curiosamente, à medida que se encontram, os dois começam a descobrir afinidades e uma empatia que, aos poucos, vai transformando-se num sentimento mais profundo. Até mesmo o sexo passa a ser feito de maneira diferente, com emoção e envolvimento.

A situação se complica, porque, embora progressivamente mais envolvidos, cada um tem dificuldade para expressar seus sentimentos. É o retrato perfeito da sociedade moderna, pois quanto mais se aperfeiçoam as facilidades tecnológicas de comunicação, mais as pessoas têm dificuldades para exprimir o que sentem.

O filme é, tecnicamente, perfeito. O espectador torna-se cúmplice onisciente, pois os dois envolvidos narram sua experiência para interlocutores anônimos, provavelmente seus respectivos terapeutas. Dessa maneira, podemos tomar conhecimento, não só dos momentos mais íntimos do casal, mas também, do que cada um sentia ou pensava na ocasião.

Dois momentos do filme são particularmente interessantes. Na saída do hotel, após um dos encontros, o homem convida a parceira para jantar. Os dois sentem-se extremamente bem, pois não há a ansiedade para impressionar o outro e garantir o sexo ao final do encontro – este já aconteceu. O jantar é tão prazeroso, que eles resolvem voltar ao hotel. Num outro momento, a mulher sugere que não façam apenas sexo, mas sim, amor. Esse seria o ponto de mutação da relação, onde, pessoas que não sabiam nome, endereço ou telefone da outra, consolidam um forte vínculo emocional.

Os dois atores principais, o espanhol Sergi Lopez e a francesa Nathalie Baye, estão absolutamente perfeitos, sustentando o filme com suas atuações. O elenco é reduzido, as locações resumem-se basicamente ao quarto de hotel, e, ao restaurante onde se encontram, mas, a narração em flashback alternada, ao invés de atrapalhar, conduz o filme como se fosse uma colcha de retalhos perfeita.

É uma pena que a edição em DVD tenha sido tão pobre. O formato de tela é 4×3 e o áudio está disponível em inglês (!) e português 2.0. Poderiam ter mantido, pelo menos, o áudio original, em francês. As legendas estão disponíveis em português e inglês. Como extras, ficha técnica, sinopse, filmografia e trailer de cinema.

Apesar da mutilação técnica, este é um filme que vale à pena ser assistido, comentado, discutido, e, refletido. Talvez, exista um pouco do casal do filme em todas as nossas relações, com sentimentos abafados, palavras não ditas, gestos incompletos, e, pior de tudo, emoções não compartilhadas. Quem sabe, vendo isso com outros, não nos ajudará um pouco? Afinal, como canta Fagner, “Só uma coisa me entristece/ O beijo de amor que eu não roubei/ A jura secreta que eu não fiz/ A briga de amor que eu não causei…”