Claquete 18 de junho de 2004
O que está em cartaz
No calor da fogueira, entre os preparativos para as festas juninas e os ensaios de quadrilha, a programação está boa mesmo é para a criançada. Além de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, que continua aprontando suas bruxarias em três salas da cidade, a estréia da semana é “Shrek 2”, o simpático ogro verde, que volta, avacalhando o mundo dos contos de fadas. Quem se achar fora de faixa, sorry, mas vai ter que se contentar com “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “O Dia Depois de Amanhã”, um ótimo filme catástrofe, com Dennis Quaid, e, a aventura mitológica “Tróia”, com Aquiles & Cia. No Filme de Arte, do Cine Natal 1, o filme “Dogville”, com elogiada atuação de Nicole Kidman.
“Shrek 2”
Quem pensa que desenho animado só agrada crianças, está redondamente enganado. Repetindo o sucesso de “Shrek”, de 2001, “Shrek 2” já é a maior bilheteria de um desenho animado da história nos Estados Unidos, com mais de US$353 milhões arrecadados até o último fim de semana. O filme une as tradicionais personagens dos contos de fadas com situações bem humoradas, e, até mesmo, paródias de outros filmes, como Fiona imitando Trinity em Matrix, no primeiro filme. No novo episódio, a história começa com Shrek e a princesa Fiona retornando da lua-de-mel, e, recebendo um convite dos pais da noiva, o rei e a rainha de Tão Tão Distante, para um baile real, em homenagem ao apaixonado casal. Mas, os pombinhos não sabem que o casamento deles estragou os planos do rei para o futuro da filha… e dele próprio. “Shrek 2” traz, novamente, Mike Myers, Cameron Diaz, e, Eddie Murphy, nas vozes de Shrek, Fiona, e, Burro. A história ganhou alguns personagens novos, como o Gato de Botas (Antonio Banderas), a rainha Lílian (Julie Andrews), o rei Haroldo (John Cleese), Príncipe Encantado (Rubert Everett), e, a Fada Madrinha (Jennifer Saunders). Na versão dublada, Bussunda faz a voz de Shrek, e, o jornalista Pedro Bial estréia, no mundo da animação, dando vida à Irmã Feia. “Shrek 2” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2 e Sala 6 do Moviecom (cópias dubladas), e, na Sala 7 do Moviecom (cópia legendada).
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Filme de Arte: “Dogville”
O Filme de Arte desta semana é “Dogville”, do diretor Lars Von Trier. Durante os anos 30, Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece em Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas, fugindo de gângsteres. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), Grace é escondida, pela população da pequena cidade, e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que, após duas semanas, ocorrerá uma votação, para decidir se ela fica. Após este “período de testes”, Grace é aprovada por unanimidade, mas, quando a procura por ela se intensifica, os moradores exigem algo mais, em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre, de modo duro, que, nesta cidade, a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto, Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade. Sessão única, no Cine Natal 1, terça-feira, às 20h10.
Seriado “Perdidos no Espaço”, em DVD
Se você foi menino nos anos 60, com certeza vai lembrar de uma série sobre uma família de astronautas, que pulava de planeta em planeta, metendo-se em encrencas, a maioria das vezes, provocada por um certo Doutor Smith. A primeira temporada da série “Perdidos no Espaço”, de 1965, está sendo lançada em DVD, num magnífico pacote com oito discos. São trinta episódios, com 49 minutos de duração cada, estando incluso um piloto, que não chegou a ser exibido na TV. A imagem é tela cheia, em preto e branco, e, o áudio está disponível em inglês, com legendas em português. É uma boa ocasião para os saudosistas reverem os personagens, em especial, o já citado Doutor Smith (vivido por Jonathan Harris, falecido em 2002), o menino Will (Bill Mumy), e, o Robô, cuja maior virtude era ficar rodando os braços, e, gritando “Perigo! Perigo!”. A série está à venda, nas lojas virtuais, pela internet. Em tempo, estes episódios nada têm a ver com a lamentável refilmagem de 1998.
“Todo Mundo em Pânico 3”, em DVD
Um dos bons momentos do humor de paródia, está disponível, agora, em DVD. É “Todo Mundo em Pânico 3”, com toda a coleção de gags e piadas escrachadas, principalmente sobre outros filmes. O filme está um pouco mais comportado do que os dois anteriores, mas tem a direção de David Zucker, criador do gênero, com “Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu!”. Embora com menos escatologia e piadas infames, “Todo Mundo em Pânico 3” mantém suas gozações, misturando “O Chamado” com “Sinais”, com pitadas de “8 Mile” e “Matrix”. Após os eventos dos filmes anteriores, Cindy Campbell (Anna Faris) está trabalhando como jornalista. Sua mais nova matéria é investigar a origem de gigantescos círculos, que surgiram na fazenda de Tom Logan (Charlie Sheen), além de descobrir as ligações entre uma fita de vídeo amaldiçoada, e, a ameaça de invasão alienígena à Terra. Há vários famosos fazendo pontas, como Leslie Nielsen, Queen Latifah, e, Pámela Anderson. Nas locadoras.
Filmes da Vera Cruz são lançados em DVD
As novas gerações não sabem, mas, nos anos cinqüenta, houve uma tentativa de se implantar um estúdio de cinema nos moldes de Hollywood. Instalada em 1949, o estúdio conta com o apoio dos poderosos Francisco Matarazzo e Francisco Zampari, trazendo nomes importantes da indústria, como Alberto Cavalcanti, brasileiro que fez carreira no cinema europeu. Algumas produções alcançaram prêmios internacionais, como “O Cangaceiro”, de 1953. Três dessas produções foram lançadas agora, em DVD. São elas: “Tico-Tico no Fubá”, sobre a vida do compositor Zequinha de Abreu, “Sinhá Moça”, drama ambientado na época da escravidão, e, “Uma Pulga na Balança”, sobre um malandro que controlava a vida de ricaços de dentro da cadeia. Os filmes podem ser adquiridos isoladamente, ou em um pacote especial. Confira!
Listas, para que te quero…
Está pensando em comprar um DVD player, uma TV nova ou um hometheater? Cuidado com as propagandas enganosas, e, o papo dos vendedores. Eles jamais irão falar dos defeitos dos produtos ou das deficiências da assistência técnica. Para manter-se informado, sempre com a visão do usuário (que sofreu na pele os problemas), uma ótima pedida são as listas de discussão na internet, onde se pode tirar dúvidas, trocar idéias, e, evitar as famosas “canoas furadas”. Tudo funciona à base de emails, e, mesmo quem não escreve, recebe todos as mensagens trocadas entre os membros do grupo. Para essa área de equipamentos de entretenimento doméstico, uma boa opção é o grupo home-theater, no Yahoogroups. Mais detalhes em br.groups.yahoo.com/group/home-theater/.
Filme recomendado: “Villa-Lobos: Uma Vida de Paixão”
Villa-Lobos: vida e obra do pajé da música brasileira
Uma reclamação, generalizada, e, infelizmente, verdadeira, é de que somos um país de memória curta. É difícil precisar fatos que ocorreram apenas algumas décadas atrás, é o que garante Zelito Viana, que foi obrigado a fazer um gigantesco trabalho de pesquisa para um projeto antigo, um filme sobre Heitor Villa-Lobos. Mas, já diz a sabedoria popular, há males que vem para o bem. A finalização recente de “Villa-Lobos – Uma vida de paixão”, permitiu aproveitar os recursos disponíveis da mídia mais atual de entretenimento: o DVD.
Se para um outro tema isso não seria importante, neste caso específico, certamente, foi fundamental. Vamos demonstrar a teoria. A obra riquíssima do grande compositor ficaria perdida num som monofônico, tal a sua riqueza, e, profusão de detalhes. A imagem, igualmente importante no filme, perderia a riqueza da bela fotografia, ao ser mutilada para ser mostrada na televisão, ou, em VHS.
O filme poderia ser analisado, ou pelo aspecto musical, ou pelo rigor histórico dos fatos. Se, aos produtores do filme, foi um parto conseguir levantar uma biografia do maestro, nem me atrevo a questioná-la. Do primeiro aspecto, só me veio à lembrança Dona Débora, a querida professora do Colégio Estadual de Santa Rita, que esforçava-se para nos ensinar alguma noção, da nobre arte da música. Se meu conhecimento musical é nulo, pelo menos, consegui identificar o “O canto do pajé”, que tentávamos cantar nas solenidades do Centro Cívico. Claro, nunca saía tão lindo quanto o coro de quarenta mil vozes, regido por Villa-Lobos, fato este, registrado no filme.
Vamos, então, analisar o filme pelo melhor ângulo de que dispomos: o do espectador. Na dúvida entre uma peça biográfica, e, uma obra cinematográfica, Zelito Viana certamente optou pela última. O filme usou – e abusou – dos flashbacks, indo e voltando no tempo, a ponto de deixar confusa uma pessoa pouco habituada a este artifício.
Normalmente, usa-se um ponto de referência, e, a partir dele, faz-se viagens ao passado, para resgatar lembranças do personagem. No filme, a história inicia-se em 1959, no último dia da vida do artista, e, são mostrados acontecimentos em várias épocas diferentes. Um outro ponto referencial utilizado foi a primeira viagem de Villa-Lobos aos Estados Unidos, em 1944. Durante a viagem, ele precisou ser hospitalizado, e, também aí são encadeados diversos flashbacks.
Apesar dos vais-e-véns, a vida do maestro vai sendo delineada, mostrando as pessoas que influíram em sua vida, como o pai rigoroso, mas, incentivador da arte, a mãe carinhosa, mas, castradora de sua música, a tia Fifina, que o iniciou em Bach, a primeira mulher, Lucíllia, o músico Artur Rubinstein, a segunda mulher, Mindinha, e, outros, que aparecem de relance, como o escritor Érico Veríssimo, que foi o seu intérprete nos Estados Unidos.
Um ponto polêmico da biografia de Villa-Lobos, é a viagem que fez ao Nordeste e Norte do país, na primeira década do século passado. Se Villa-Lobos não foi até o Amazonas, não quer dizer que não tenha se aventurado, pois num país sem estradas, e, sem comunicações, como era o Brasil daquela época, uma viagem ao interior da Paraíba já era uma expedição que envolvia inúmeros riscos, fossem índios selvagens, doenças endêmicas, ou, bandidos.
Contudo, duas coisas tornam “Villa-Lobos: Uma vida de paixão” um filme imperdível. A primeira, é que, foi feito o retrato do ser humano, e, não, do mito. Heitor Villa-Lobos era uma pessoa com defeitos e qualidades, que o fizeram amado, e, odiado, por muitos. O mesmo sujeito irascível, que não aceitava a autoridade de ninguém, usou a máquina do Estado Novo para promover a educação musical no ensino público. O homem que amava o seu país, a ponto de tê-lo presente em todas as suas obras, não aceitava ser apresentado como “compositor brasileiro”, por considerar a música um valor universal.
O segundo aspecto, que torna o filme interessante, é a transposição, para imagens, de várias das composições do grande mestre. O melhor exemplo disso é a seqüência da gravação de “Trenzinho caipira”. Outras cenas ilustram momentos de criação de certas obras, juntando o tema e música, num conjunto fascinante.
Para leigos, como eu, além da conhecidíssima Ária da Bachiana N.° 5, foi possível reconhecer outras músicas, como os mencionados “Trenzinho caipira”, e, “O canto do pajé”. Além dessas, outras composições enchem os ouvidos, na interpretação da Orquestra Sinfônica Brasileira, e, do Coro do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
E, Aleluia!, temos um DVD nacional produzido pela Playarte, mas, com tudo o que um DVD deveria ter. Foi mantido o formato de tela Widescreen, com boa qualidade de imagem. O áudio veio em português Dolby Digital 5.1 e 2.0, e, as legendas, em portugês, inglês, espanhol e francês (uma dica: deixem as legendas em português, pois existem diálogos em inglês e francês). Na parte de extras, cuidado, pois existem duas páginas de opções, e, o melhor material está na segunda. Estão disponíveis: biografia de Villa-Lobos, notas de produção, biografia dos atores e do diretor, Making Of, com nove minutos, produzido pela TV Cultura, trailer, depoimento do elenco (19 minutos), o documentário “Villa-Lobos – início do projeto” (23 minutos), depoimento da equipe técnica (7 minutos), e, o videoclipe “O canto do pajé”.
“Villa-Lobos: Uma vida de paixão” é um filme sobre, e, de paixões. Não apenas as paixões do Villa-Lobos, pela música, pelas mulheres, e pela vida, mas, também, dos idealizadores do filme, que perseguiram a idéia, anos a fio, até conseguirem concretizá-la. O filme é um monumento vivo a uma das maiores figuras de nossa história, não se limitando ao factual, mas dando uma pincelada do conjunto de sua obra, sem deixar de lado a dimensão humana. Parabéns a Zelito Viana, seu filho Marcos Palmeira, Antônio Fagundes, Letícia Spiller, Ana Beatriz Nogueira, e, toda a equipe de produção. E, parabéns para nós, que podemos apreciar este filme, com um prazer redobrado.