Claquete 11 de junho de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Dia dos namorados chegando, promessas para Santo Antônio, adivinhações e simpatias. Embora o romantismo esteja solto pelo ar, junto com a fumaça das fogueiras, nos cinemas, a programação não está para os apaixonados. De estréia mesmo, só “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80. O resto, está mais para Dia das Bruxas, já que, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” continua em cartaz, em quatro salas em nossa cidade, e, tem a pré-estréia de “Shrek 2”, com sua carga de fadas e magos. A seqüência do simpático ogro verde e seu amigo, o Burro Falante, vem batendo recordes de bilheterias nos cinemas americanos, e promete o mesmo sucesso nas plagas tupiniquins. Continuam em cartaz: “O Dia Depois de Amanhã”, um ótimo filme catástrofe, com Dennis Quaid, a aventura mitológica “Tróia”, com Aquiles & Cia, e, a comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore. Na outra sexta-feira, tem a pré-estréia de “Shrek 2”, no Moviecom. No Filme de Arte, do Cine Natal 1, o filme australiano “Geração Roubada”, sempre às terças-feiras.

“Cazuza – O Tempo Não Para”

Patrocinado pela Petrobras Distribuidora, chega às telas do cinema a biografia de Cazuza, jovem inquieto e vibrante, que empolgou a geração de jovens da década de 80, até a decadência física, motivada pela Aids, que o levou à morte. O filme mostra a vida profissional, e, pessoal de Cazuza, do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990, aos 32 anos: o sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas que falavam dos anseios de uma geração, o comportamento transgressor e a coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela Aids. A cinebiografia de Cazuza foi dirigida por Sandra Werneck (“Amores Possíveis”), e, Walter Carvalho (“Janela da Alma”). Além de Daniel de Oliveira, que vive o cantor, o elenco conta também com Marieta Severo, Reginaldo Faria, Débora Falabella, Maria Mariana, Leandra Leal, e, Andréa Beltrão. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 1 do Moviecom, para maiores de 16 anos.

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Filme de Arte: “Geração Roubada”

O cartaz do Filme de Arte desta semana, é um interessante filme australiano, “Geração Roubada”, que é baseado em fato verídico, ocorrido no início do século passado. Molly Craig (Everlyn Sampi) é uma jovem negra australiana, de 14 anos, que, em 1931, ao lado de sua irmã Daisy (Tianna Sansbury), de 10 anos, e, sua prima Gracie (Laura Monaghan), de 8 anos, foge de um campo do governo britânico da Austrália, criado para treinar mulheres aborígines para serem empregadas domésticas. Molly guia as meninas por quase três mil quilômetros, através do interior do país, em busca da cerca que o divide e que a permitiria voltar para sua aldeia de origem, de onde foram tiradas dos braços de suas mães. Na jornada, elas são perseguidas pelos homens do terrível governador, A. O. Neville (Kenneth Branagh), o qual não admite que as meninas não estejam de acordo com o ditado pela sabedoria branca e cristã. Sessão única, no Cine Natal 1, terça-feira, às 21h10.

Pré-Estréia: “Shrek 2”

O impaciente ogro verde, apresentado ao mundo em “Shrek”, volta agora às telas, com toda a sua turma, em uma nova aventura. Após se casar com a Princesa Fiona, Shrek vive feliz, em seu pântano. Ao retornar de sua lua-de-mel, Fiona recebe uma carta de seus pais, que não sabem que ela agora é um ogro, convidando-a para um jantar, juntamente com seu grande amor, na intenção de conhecê-lo. A muito custo Fiona consegue convencer Shrek a ir visitá-los, tendo ainda a companhia do Burro Falante. Porém, os problemas começam, quando os pais de Fiona descobrem que ela não se casou com o Príncipe, a quem havia sido prometida, e, enviam o Gato de Botas para separá-los. Na versão dublada, tem as vozes do humorista Bussunda (como Shrek), e, quem diria, do jornalista e apresentador de TV Pedro Bial (Irmã Feia). Pré-estréia, amanhã, em sessão única, às 14h40, na sala 2 do Moviecom, e, em sessões normais, na próxima sexta-feira, na sala 7.

Pato Donald faz 70 anos!

Velhinho, mas, em plena forma, um dos personagens mais famosos do mundo Disney chega ao seu septuagésimo aniversário. Odiado por uns, por ser um dos símbolos do capitalismo, mas amado por muitos, que vêem nele o mais “humano” dos heróis dos quadrinhos Disney, o Pato Donald fez a sua primeira aparição, no cinema, em “A Galinha Sábia” (“The Wise Little Hen”), curta-metragem animado dirigido por Wilfred Jackson. O desenho, que já trazia a dublagem característica de Clarence “Ducky” Nash, apoiava-se numa fábula infantil conhecida, e, dava as primeiras pistas da personalidade politicamente incorreta do então estreante Donald. Entre vários eventos comemorativos, está programado, para setembro, o DVD “A Cronologia do Donald”, reunindo os primeiros desenhos do personagem que, já serviu até de propaganda americana, no esforço de Guerra conduzido pelos Estúdios Disney, durante a Segunda Guerra Mundial.

“Verão de 42”, em DVD

Já que amanhã é Dia dos Namorados, que tal alugar alguns filmes românticos, e dar uma revisitada em nossos próprios sonhos? Uma boa pedida é “Verão de 42”, que conta a história de Hermie, um adolescente que se apaixona por Dorothy, mulher de um soldado que partiu para a guerra. O ambiente é uma pequena ilha, no norte dos Estados Unidos, onde Hermie e seus amigos brincam, namoram, e, conhecem as primeiras dificuldades da vida adulta. Com um roteiro simples, mas, bem elaborado, atores desconhecidos, locações singelas, e, a bela música de Michel Legrand, o diretor Robert Mulligan construiu um clássico do romantismo cinematográfico. O som é mono, já que o filme é de 1972, mas o formato de tela foi mantido em widescreen. Confiram.

“Dirty Dancing”, em DVD

Outra dica de um filme romântico, é “Dirty Dancing – Ritmo Quente”, com Patrick Swayze. Em 1963, Frances Houseman (Jennifer Grey), ou “Baby”, como é chamada pela família, uma jovem de 17 anos, viajou com seus pais, Marjorie (Kelly Bishop) e Jake Houseman (Jerry Orbach) e sua irmã Lisa (Jane Brucker) para um resort em Catskills. Ao contrário de Lisa, que pensa em roupas, Frances é idealista e quer estar no próximo verão no Corpo da Paz estudando a economia dos países do Terceiro Mundo. Assim, ela espera que este seja o último verão como uma adolescente despreocupada, mas Baby não se dá muito bem com sua irmã mais velha e está entediada em tentar distrair os hospedes mais velhos (foi envolvida nesta situação por seu pai). Até que numa noite Baby ouve algo que parece ser um som de festa no alojamento dos funcionários (que os hospedes não podem ter acesso). Ela consegue entrar na festa graças a um empregado e descobre que ali o pessoal realmente se diverte com danças, que Max Kellerman (Jack Weston), o dono do hotel, não permite. Baby chega a dançar com Johnny Castle (Patrick Swayze), um professor de dança, e logo fica apaixonada por ele. Quando Penny Johnson (Cynthia Rhodes), a parceira de dança de Johnny, fica grávida por ter se envolvido com Robbie Gould (Max Cantor), um dos garçons, Baby se oferece para aprender a dançar e substituir Penny, mas o pai de Baby, quando descobre, não gosta disto, pois considera que Johnny é de outra classe social e Baby é jovem demais para entender seus sentimentos. Com vários documentários, o DVD traz formato de tela widescreen, além de videoclipes.

Filme recomendado: “9 ½ Semanas de Amor”

Jogos de amor e dor

Talvez, uma das mais fortes características da evolução do homem, seja a incorporação das fantasias ao sexo. Ou seja, o que mudou, de Brucutú para a cá, é que, transamos também com o cérebro, além das demais partes do corpo. Alguns exageram, fazendo tudo via computador, mas são as exceções. O mais comum são os jogos sexuais entre parceiros, o que é saudável, e, benéfico, em qualquer relacionamento. Isto se torna um problema quando são ultrapassados limites, além dos quais, não existe retorno. Este foi o aspecto que mais me intrigou, no filme que consolidou a carreira de Kim Basinger, “9 1/2 semanas de amor”.

A primeira vez que assisti este filme foi em 1986, na época do lançamento nos cinemas. Enquanto brigávamos contra as remarcações no Plano Cruzado, todos comentavam sobre um filme erótico, estrelado por uma loura monumental, chamada Kim Basinger. Ao assistir o filme, não achei grande coisa, exatamente por estar esperando uma carga erótica explícita – o que não acontece no filme. A única coisa que achei interessante foi o animado strip da louraça.

Ao rever o filme, agora em DVD, fui agradavelmente surpreendido. A fotografia é fantástica, a trilha repleta de músicas conhecidas, a atuação dos atores é boa ( até o Mickey Rourke está bem, imaginem), as locações em New York e os cenários são muito bonitos, e, por aí vai. Contudo, o ponto alto do filme é o enredo, que pode passar desapercebido para a maioria dos espectadores.

A história gira em torno dos dois personagens principais. Kim vive o papel de Elizabeth, uma linda garota que trabalha numa galeria de arte. Ao acaso, conhece um misterioso executivo, chamado John, que a envolve num manto de sedução, repleto de situações estranhas e desafiadoras.

Cada dia é uma nova brincadeira, como a famosa cena da geladeira, onde Kim serve de test-drive para todo tipo de comida (essa cena foi deliciosamente parodiada na comédia “Top gang”, com Valeria Golino). As brincadeiras vão ficando mais pesadas, como quando John faz Liz vestir-se como homem, ou, quando a deixa parada no alto de uma roda-gigante.

Fascinada, a garota embarca nessa estranha viagem de prazeres e desafios, enquanto continua com suas funções na galeria. Uma de suas tarefas é organizar a exposição de um pintor que vive isolado no meio de um bosque. Acostumada ao torvelinho da cidade moderna, com todos os seus prazeres e exigências, Elizabeth é surpreendida com o ambiente bucólico, onde vive o pintor, e, a relação dele com aquele ambiente.

De volta ao seu mundo, Elizabeth começa a perceber a estranheza de sua relação com John. As brincadeiras já não são tão divertidas, e, a dor é maior que o prazer. É na vernissage do pintor-eremita, que ela percebe o que é ser um peixe fora d’água. Ponto. Se eu falar mais alguma coisa, ficará pouco para quem for assistir.

Quem disser que nunca fez uma brincadeira sexual, ou está mentindo, ou tem uma relação muito difícil. Independente de preferência sexual, condição social ou idade, quem ama quer agradar, e, ser agradado. Pode ser pelo uso de uma roupa íntima sensual, um biquíni mais cavado, uma noitada num motel, uma transa no carro ou na beira da praia. Há os que gostam da sensação de perigo, outros, que a namorada se comporte como uma garota de programa, ou ainda, os que associam dor ao prazer. Na minha humilde concepção, tudo é permitido entre quatro paredes – desde que os dois se sintam bem. O problema é quando a balança pende apenas para um lado.

O filme foi muito criticado por ser cheio de estereótipos. A loura bonita, o executivo cínico, o chefe gay, o entregador fanático por rock, são figuras comuns de New York. Nada disso atrapalha a história, pois o que acontece entre o par central poderia acontecer em qualquer lugar do mundo, com qualquer casal. Não estarei mentindo, ao dizer que é uma história de amor, muito mais próxima da realidade, que muitas outras.

Não gosto muito de separar os elementos de um filme, pois acredito que uma boa obra é aquela que forma um conjunto harmonioso. Mesmo assim, não tem como deixar de citar a belíssima fotografia do filme, realizada quase toda à contra-luz. Os cenários são elaboradíssimos, em especial o apartamento high-tech de John. O figurino explora o branco e preto, com forte predominância do último.

A trilha sonora é um espetáculo adicional, com músicas conhecidas, normalmente acopladas a uma determinada seqüência, como se fossem videoclipes. São músicas de Eurythmics, John Taylor, Corey Hart e outros. Alguns trechos são memoráveis: o já mencionado striptease de Liz, uma sensual sessão de slides, e, a transa num beco, debaixo de chuva. Só isso já paga o preço da locação.

O diretor Adrian Lyne fez poucos filmes, mas que sempre chamaram a atenção do público: “Flashdance”, “Atração fatal”, “Proposta indecente”, e, a versão mais recente de “Lolita”. Sabiamente, não quis participar das duas seqüências de “9 1/2 Semanas”. Na verdade, uma seqüência (“9 1/2 Semanas de Amor 2”), e, um prólogo (“As Primeiras 9 1/2 Semanas de Amor”). Neste último, um jovem inexperiente vive uma série de situações que justificariam as atitudes de John, passando de vítima em um filme para o algoz do outro. Mas, ambos são muito inferiores ao filme original.

Apesar de ser um filme tecnicamente muito bem feito, “9 1/2 Semanas de Amor” não teria funcionado bem, sem a perfeita química do par central. Rourke estabelecia a imagem do ator “cool”, com uma barba eternamente por fazer, e, o jeito cínico e indiferente. O astro vinha de sucessos como “O Selvagem da Motocicleta”, e, “O Ano do Dragão”, e, prometia deslanchar na carreira. Contudo, o que se observa, é que ficou limitado a filmes menores, dando mais atenção ao boxe e às motocicletas, que são as suas paixões.

Já com Basinger ocorreu o inverso. A atriz, que atuou com Bond Girl em “007 – Nunca Mais Outra Vez” (1983), explodiu de vez com “9 1/2 Semanas de Amor”. Daí para frente, fez inúmeros filmes, destacando-se “Batman” ( 1989), “A Fuga” (1994), “Los Angeles, Cidade Proibida” ( 1997), e, “Africa dos Meus Sonhos” (2000). De loura de figuração dos primeiros filmes, mostrou-se uma atriz segura e experiente, que parece ficar mais bonita a cada ano que passa.

A edição em DVD produzida pela Fox, se não traz nenhum extra, pelo menos teve a decência de manter o formato de tela widescreen original. O áudio está estéreo, mas mesmo assim excelente. É lamentável que um filme tão interessante não tenha um único documentário, trailer, notas de produção ou coisa que o valha. Os produtores ainda insistem em colocar menu e escolha de cenas como se fosse um recurso extra.

Apesar de ter sido considerado ousado na época do lançamento, “9 e 1/2 Semanas de Amor” é mais comportado que qualquer minissérie global ou novela das oito. Contudo, o mérito que o torna um filme digno de figurar na estante de qualquer cinéfilo, é a interessante exposição de uma relação humana, numa ótica que sempre fica escondida entre quatro paredes. Já está na minha estante. Confira você mesmo.