Claquete 07 de maio de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O Último Samurai, em DVD

Os fãs do filme “O Último Samurai” já podem ir separando os trocados. Com pré-venda iniciando já em maio, a Warner estará lançando, no dia 23 de junho, uma edição dupla, em DVD. O filme conta a história de um oficial americano, que, contratado para modernizar o exército japonês, termina testemunhando os momentos finais do último e verdadeiro samurai. O disco 1, que traz o filme, terá também os comentários do diretor Edward Zwick, infelizmente, sem legendas. O segundo disco, traz um documentário do History Channel “História versus Hollywood: O Último Samurai”, “Tom Cruise: A Jornada do Guerreiro”, “Edward Zwick: Vídeo Diário do Diretor”, “Fazendo um Épico”, uma conversa com Edward Zwick, “Um Mundo de Detalhes: Design de Produção”, com Lilly Kilvert, “Seda e Armadura: Design do Figurino”, com Ngila Dickson, “Treinamento Básico do Exército Imperial”, “Soldado a Samurai: As Armas”, “Cenas Eliminadas com Comentários opcionais do Diretor”, Pré-Estréia no Japão, e, trailer de cinema. Fique atento!

Geofísico da Petrobras produz curta sobre movimento ecológico

Pouca gente sabe, mas um movimento espontâneo, que uniu moradores de Diogo Lopes, ambientalistas, organizações não-governamentais, órgãos públicos e a Petrobras, resultou em uma importante área de preservação ambiental. E, o melhor de tudo, todo esse desenrolar foi registrado em um curta-metragem, produzido por José Paulo Goulart, geofísico da Petrobras, e, dirigido pelo designer gráfico João Roberto Fernandes. Numa narrativa didática, embalada por belíssimas imagens da região, o curta “A importância da preservação: A história da Reserva Ponta do Tubarão”, conta, em 20 minutos, toda a epopéia para a preservação deste paraíso ecológico. Quem quiser conferir, o filme será apresentado no Festival MADA, na mostra Curta Natal, entre 10 e 15 de maio, na Casa da Ribeira. Confira!


Tesouros de Mickey Mouse, em DVD

Se você é fã do ratinho de Walt Disney, chega agora, no dia 12 de maio, uma edição histórica, “Treasures – Mickey Mouse em Cores Vivas”, em DVD duplo. A carreira de Mickey Mouse na era dos desenhos a cores, com 26 historinhas, lançadas entre 1935 e 1939. Uma coleção atemporal dos primeiros passos de Mickey, fora do mundo preto e branco. Essa coletânea traz um festival de atrações especiais, inclusive os bastidores da criação de desenhos raros, feitos com lápis; e das primeiras trilhas sonoras. Lá estão preciosidades, como a concepção original dos pôsteres de cinema, e, uma entrevista com desenhistas e clássicos da TV, na qual Walt Disney comenta sobre o camundongo que deu início ao grande império. Inclui ainda, uma introdução exclusiva do historiador de filmes Leonard Maltin.

Os Maias, em DVD

Inspirada na obra homônima de Eça de Queiroz (1845- 1900), “Os Maias” estreou na TV Globo em janeiro de 2001. De autoria de Maria Adelaide Amaral, e, com direção geral de Luiz Fernando Carvalho, a minissérie, que teve o maior número de pedidos do público para ser lançada em DVD, traz sua versão inédita, adaptada para este formato pelo próprio diretor, e totaliza 904 minutos distribuídos em quatro discos. Publicado em 1888, o romance “Os Maias”, é um retrato da decadência da aristocracia portuguesa na segunda metade do século XIX, sendo considerado, por muitos, a mais perfeita obra literária produzida em Portugal, depois de “Os Lusíadas” (1572), de Luís de Camões. A história retrata a tradicional família Maia, enfocando o amor entre os irmãos Carlos da Maia (Fábio Assunção) e Maria Eduarda (Ana Paula Arósio). Além da minissérie, o pacote traz também depoimentos dos atores Ana Paula Arósio, Fabio Assunção, Walmor Chagas, Selton Mello, Simone Spoladore e Osmar Prado, comentários da autora da minissérie, Maria Adelaide Amaral (sobre a adaptação da obra para TV e para DVD), e, notas sobre a obra literária, através de Beatriz Berrine (professora de literaturas portuguesa e brasileira da PUC/SP), que também atuou como consultora do projeto.

“Eram os Deuses Astronautas?”, em DVD

Uma das figuras mais polêmicas dos anos 70, foi o escritor suíço Erich Von Däniken, que aturdiu o mundo com uma teoria impressionante. A Terra teria sido visitada por seres alienígenas, que teriam modificado nossos antepassados, e, deixado marcas de sua passagem por aqui. Publicado em 1968, o livro “Eram os Deuses Astronautas?” bateu, em pouco tempo, recordes de vendas em 38 países, com cerca de 7 milhões de cópias, vendidas em todo o mundo. Em 1970, foi produzido um filme, com locações em diversos países, que mostra os fundamentos deste marco da ufologia. Nele, o escritor Erich Von Däniken procura provar, por meio de descobertas arqueológicas e textos sagrados, que todos os deuses das antigas civilizações eram, na verdade, extraterrestres. O filme, que teve breve passagem no circuito comercial, chega agora, ao grande público, em DVD. Nele, são explorados locais fascinantes, como as pistas de Nazca, as ruínas Maias e Astecas, a Ilha de Páscoa, e, as pirâmides do Egito. O disco traz ainda, como extras, trailer original, vida e obra de Erich Von Däniken, o livro “Eram os Deuses Astronautas?”, e, galeria de fotos. Leia o livro, assista o filme e fique com uma pulga atrás da orelha.

Filme recomendado: “Brava Gente Brasileira”

Cavaleiros de Tróia do Mato Grosso

Durante muito tempo fui preconceituoso em relação ao cinema nacional. Talvez por coincidir, a minha juventude, com a época das “pornochanchadas”, tomei certa aversão às produções tupiniquins, dando preferência ao que vinha de fora. À medida que fui amadurecendo, aprendi que nada é perfeito (nem eu, inclusive), e, que é melhor experimentar, para depois criticar. Não existe nada pior do que uma opinião do tipo “não vi e não gostei”. Existem produções brasileiras ótimas, do mesmo jeito que saem produtos de Hollywood que não valem o que o Garfield enterra (ou enterraria, se tivesse coragem). Uma experiência interessante foi assistir “Brava gente brasileira”, sobre o qual iremos conversar.

Confesso a vocês que peguei o filme enganado. Pela semelhança do título, achei que fosse baseado no romance de João Ubaldo Ribeiro, “Viva o povo brasileiro”. Resolvido o engano, descobri que o enredo do filme é baseado em um fato histórico, ocorrido no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, no final do século XVIII.

Em 1778, um estudioso português, Diogo, vem a serviço do governo lusitano para fazer o levantamento topográfico da região do Forte Coimbra, situado na margem direita do médio rio Paraguai. Além de problemas com os espanhóis, que dominavam todo o resto da América do Sul, a região era habitada pelos índios Paiaguás e Guaicurus. Estes últimos tinham um notável desenvolvimento, chegando inclusive a desenvolver a habilidade de domar e usar cavalos em incursões de guerra. Eram conhecidos como os índios cavaleiros.

A expedição que conduzia Diogo era comandada por Pedro, um impetuoso e violento soldado, que conduzia amigos e inimigos com a mesma mão-de-ferro. No caminho para o Forte Coimbra, deparam-se com algumas índias banhando-se num rio. Numa prática que deve ter sido comum durante séculos a fio, os soldados capturaram e estupraram as índias, matando-as ao final. Separando uma delas, Pedro a entrega a Diogo, para que prove aos homens que não é um “sodomita”, termo pejorativo para homossexual. Perturbado pela febre e pelas privações da extenuante jornada, Diogo cede aos impulsos e violenta a jovem. Depois, atormentado pelo remorso, impede que Pedro a execute, levando-a junto com a expedição. O outro sobrevivente é um garoto branco, que teria sido raptado pelos índios.

Os dias que se seguem no Forte trazem a Diogo uma nova visão da vida. Longe da civilização e dos rígidos padrões morais e religiosos da Corte, Diogo inicia uma relação amorosa com Ánote, com descobertas mútuas que surpreendem, deliciam e assustam o jovem português. A lembrança da noiva portuguesa, nobre, rica e virgem fica cada vez mais distante.

Enquanto os índios cavaleiros choram seus familiares mortos, Diogo e o comandante do forte tem os seus próprios problemas, enfrentando a discriminação da Igreja, que condena o relacionamento que estes mantém com mulheres indígenas. Diogo fica feliz ao descobrir que Ánote está grávida, sonhando que nasça uma pessoa com as melhores qualidades das duas civilizações. Infelizmente para Diogo, os costumes e ódios ancestrais falam mais alto, e, o filho tão sonhado não vem. Logo em seguida, os índios usam um habilidoso ardil para invadir o forte, dizimando cinquenta e quatro ocupantes. Ainda se passariam doze longos anos antes que um acordo de paz fosse concretizado entre índios e portugueses.

O massacre ao estilo Cavalo de Tróia foi o fato real em que o roteiro foi baseado. A maior parte das filmagens foi feita no próprio Forte Coimbra, local até hoje de difícil acesso, onde a comunicação com o mundo resume-se a um solitário orelhão. O resultado final do filme reflete as dificuldades de produção, tanto logísticas como financeiras. Contudo, mesmo eventuais falhas do roteiro não tiram o brilho desta interessante produção.

De todos os personagens índios, apenas Ánote era uma atriz profissional. Todos os demais eram Kadiwéus, subgrupo dos Guaicurus originais. Nenhum deles tinha a menor noção de arte cênica, mas conseguiram interpretar a si próprios magnificamente.

Os Kadiwéus, que a princípio seriam só fonte de consulta, embasaram de forma decisiva o filme, seja nos hábitos, costumes e usos, como também influenciaram na forma como as cenas foram realizadas. A própria diretora reconhece que sentia que a forma que imaginara certas passagens ficava diferente quando era mostrada da forma “Kadiwéu”. Em tempo: existem algumas cenas de nudez, mas nada que não possa aparecer no Globo Repórter ou Jornal Nacional.

O elenco profissional contou com o ator português Diogo Infante para o persornagem homônimo, Leonardo Villar no papel do comandante, Luciana Riguera como Anote, e, um irreconhecível Floriano Peixoto ( lembram do transexual “Sarita”, da novela “Explode coração”?) como o grosseiro Pedro. Sérgio Mamberti e Buza Ferraz fazem papéis secundários.

O enfoque mais discreto do filme é no grande embate entre as duas civilizações. É fato indiscutível que no encontro de duas civilizações diferentes, a mais poderosa sempre subjuga a mais fraca. Isso ocorreu entre os europeus e todos os indígenas, as potências mundiais e os países subdesenvolvidos e vai ocorrer com a Terra quando chegarem aqui os homenzinhos verdes de Alfa-Centauro. O que se mostra no filme, e isso sempre ocorre, é a fase em que o invasor ainda é fraco, e o autóctone ainda tem a ilusão que pode resistir e vencer.

Outro aspecto interessante é o posicionamento dos personagens como pessoas, com seus desejos, aspirações, qualidades e defeitos. Acresça-se a isso uma terra ao mesmo tempo paradisíaca e infernal, onde a sobrevivência de cada dia era uma vitória e será fácil entender o caráter brutal de todos, brancos ou índios. Talvez por isso o título em inglês tenha sido mais adequado: “Brave new land”, que não só exalta o lado selvagem das novas terras como lembra o título original da famosíssima obra de Aldous Huxley, “Brave new world”, traduzido por aqui como “Admirável mundo novo”.

Como seria de se esperar, a edição em DVD vem com a pobreza habitual das produções nacionais. O formato de tela é Full Screen e o áudio em português 2.0 e 5.1. As legendas estão disponíveis em francês, espanhol e inglês. O curioso é que em muitas cenas quando os índios conversam entre si, simplesmente não há legenda alguma e ficamos sem entender patavina! Como extras, notas sobre elenco e diretora, trailer de cinema, notas de produção, making of, comentários em áudio da diretora, iconografia e galeria de fotos.

“Brava gente brasileira” nem de longe é a produção mais rica ou bem feita do cinema brasileiro. Contudo, na sua simplicidade consegue passar ao espectador mais um aspecto das raízes sociais, físicas e geográficas que resultaram na riquíssima cultura brasileira. Cultura essa que vem sendo dilapidada e “invadida” no inexorável processo de globalização. Isso até chegarem os homenzinhos verdes de Alfa-Centauro. Enquanto isso, vejam o filme, para reconstituir mais um pedacinho do mosaico multifacetado de nossa história.