Claquete 30 de abril de 2004
O que está em cartaz
Os vampiros continuam em alta. Além de “Anjos da Noite”, estréia, esta semana, mas só a partir de quarta-feira, “Van Helsing – Caçador de Monstros”, com a mesma Kate Beckinsale, desta vez, ao lado dos mocinhos. Na sexta-feira, estréiam “Velozes e Mortais”, road-movie com Jim Caviezel, desta vez, batendo, ao invés de apanhar, e, a comédia romântica “Como se Fosse a Primeira Vez”, com a gatíssima Drew Barrymore. Continuam em cartaz: “Kill Bill – Volume 1”, Quentin Tarantino, com Uma Thurman, Lucy Liu e Daryl Hannah, o terror, “Madrugada dos Mortos”, com Ving Rhames, o drama “O Retorno do Talentoso Ripley”, cujo papel-título fica com o ótimo John Malkovich, “A Paixão de Cristo”, “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua gangue, o policial “Roubando Vidas”, com Angelina Jolie, e a comédia “Alguém tem que ceder”, com os veteraníssimos Jack Nicholson e Diane Keaton. No Filme de Arte do Cine Natal 1, “Albergue Espanhol”.
Velozes e Mortais
Descaradamente pegando carona na grife “Velozes e Furiosos”, “Velozes e Mortais” tem uma temática bem diferente. Ao invés das corridas ilegais nas ruas da cidade, o filme é centrado no gênero road-movie, passando-se todo nas estradas. Rennie Cray (Jim Caviezel, o Jesus de “Paixão de Cristo”) é um homem que sai pelas estradas, dirigindo seu Plymouth 70, à procura de um maníaco assassino, que dirige um Cadillac 72 verde. O assassino demonstra a raiva que sente pelo mundo, perseguindo, e, matando mulheres, que simbolizam aquela que partiu seu coração. Uma das vítimas era a mulher de Cray, que agora vive unicamente para a sua vingança. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 4 do Moviecom, censurado para menores de 14 anos.
Como Se Fosse a Primeira Vez
Henry Roth (Adam Sandler) é um veterinário paquerador, que vive no Havaí, e, é famoso pelo grande número de garotas que conquista. Seu novo alvo é Lucy Whitmore (Drew Barrymore), que está de férias no local e por quem Henry se apaixona perdidamente. Porém há um problema: Lucy sofre de falta de memória de curto prazo, o que faz com que ela rapidamente se esqueça de fatos que acabaram de acontecer. Com isso Henry é obrigado a conquistá-la, dia após dia, para ficar ao seu lado. Deliciosa comédia romântica, com a eterna garotinha do ET. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 6 do Moviecom, e, no Cine Natal 2, a partir de quarta-feira, dia 5, no Cine Natal 2.
O Caçador de Vampiros
O romance “Drácula”, de Bram Stoker, teve centenas de adaptações em filmes, peças, desenhos e outras variantes. A última é “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, onde o Dr. Van Helsing (Hugh Jackman), um dos principais especialistas em vampiros de sua época, no século XIX, é contratado pela Igreja Católica, para eliminar o mais perigoso dos vampiros: o conde Drácula (Richard Roxburgh). Para isso, ele parte para o leste europeu, acompanhado de Anna Valerious (Kate Beckinsale), tendo que enfrentar, de quebra, outros monstros, como o lobisomem (Will Kemp), e, Frankenstein (Shuler Hensley). Curiosamente, Kate Beckinsale está em cartaz no filme “Anjos da Noite”, onde vive uma vampira que luta contra lobisomens. Hollywood está meio pobre de idéias, não? “Van Helsing” só estréia na quarta-feira, dia 5 de maio, na Sala 7 do Moviecom e no Cine Natal 1, censurado para menores de 14 anos.
.
Filme de Arte: “Albergue Espanhol”
Esta produção franco-espanhola, de 2002, conta a história de Xavier (Romain Duris) um jovem de 25 anos, que está terminando o curso de Economia. Um amigo de seu pai oferece-lhe um emprego no Ministério da Fazenda, mas, para assumir o posto, o rapaz precisa saber a língua espanhola. Ele decide acabar seus estudos em Barcelona, para aprender a língua. Para isso, vai ter que deixar Martine (Audrey Tatou), sua namorada há quatro anos. Ao chegar em Barcelona, Xavier procura um apartamento no centro da cidade, encontrando um que deve dividir com outros sete estudantes, todos estrangeiros. Com eles, Xavier vai descobrir a autonomia, a sexualidade, e, iniciar a vida adulta. Em sessão única do Filme de Arte do Cine Natal 1, na terça-feira, dia 4, às 21h10.
Filhos de Duna, em DVD
Em 1965, Frank Herbert publicou um estranho livro, de 500 páginas, que falava de um universo futuro, onde a razão da existência era uma estranha substância, de nome Melange, que era produzida em um único lugar: o planeta Arrakis, ou Duna. O livro, que teve mais seis continuações, ganhou os prêmios Nebula e Hugo, vendeu milhões de cópias e chegou às telas do cinema e da televisão. O primeiro filme, “Duna”, de David Lynch, também teve a mesma história sob a forma de uma minissérie da FOX, ambas disponíveis em DVD. Foi lançado, agora, “Filhos de Duna”, também pela FOX, em DVD, numa versão bem reduzida, de 98 minutos, contando a história do segundo livro da série.
Helena de Tróia, em DVD
Enquanto as fãs de Brad Pitt esperam ansiosamente 14 de maio, para ver o seu herói saradão, só de saiotes, no papel de Aquiles, quem ver uma outra versão da história, é só dar uma passada na locadora. O filme em questão é “Helena de Tróia”, produção dirigida por Robert Wise, em 1956, que subverte a visão oficial da história de Homero. A história é contada do ponto de vista dos troianos, mostrando os gregos como vilões invasores. A história é bem conhecida: em 1193 A.C., um triângulo amoroso entre o príncipe de Tróia, Paris, a bela Helena e o príncipe de Esparta, Menelau, coloca as duas nações em uma guerra sangrenta. Vale até pela curiosidade histórica. O filme está com formato de tela letterbox e som Dolby Digital 5.1. Confiram!
Uma Noite Alucinante, em DVD
Já ouviu falar em “terrir”? Foi uma fase de filmes de terror dos anos 80, que, de tão exagerados, levavam os públicos adolescentes às gargalhadas, com os estripamentos, banhos de sangue e outras pérolas de clichês. A expressão máxima do terrir foi a série “Uma Noite Alucinante”, lançada nos cinemas como “A Morte do Demônio”. O segundo filme da série, chega agora em DVD, resgatando um dos exemplares mais criativos do gênero. Um grupo de jovens resolve hospedar-se numa cabana na floresta, onde descobrem uma fita com gravações de trechos do Livro dos Mortos. A evocação traz da floresta forças do mal, que os transformam em monstros, para o desespero de Ash, o único que consegue resistir. Á noite munido apenas de uma serra elétrica e uma espingarda, Ash precisa combater uma horda de demônios e seres assustadores.
Filme recomendado: “Pacto dos Lobos”
Porque alguém lançaria mão de índios lutadores de kung fu, nobres conspiradores e ambientes de serial killers, para contar a misteriosa história de um monstro que assolou a França no século XVIII? Se for para fazer um relato histórico, seria impossível, mas cinema não é uma tese acadêmica, e pode usar a licença poética que os autores acharem necessários para tornar o relato interessante. E é nisso que resultou “O Pacto dos Lobos”, um filme com muita ação e aventura, um bonito elenco, locações fantásticas e uma história intrigante, sobre um mistério real que até hoje não foi solucionado.
Na França de 1766, quando a realeza ainda era plena, a notícia de uma Besta assassina, que mata e mutila aldeões, principalmente mulheres e crianças, leva o rei Luís XV a enviar um emissário especial, o Cavaleiro Grégoire de Fronsac (Samuel Le Bihan), que, acompanhado do misterioso Mani (Mark Dacascos), um índio Mohawk, chega a Gévaudan, uma aldeia no interior sul do país. Fronsac é um homem de muitas qualificações: jardineiro, naturalista, curandeiro, taxidermista e intelectual, entre outras coisas úteis para a França do século XVIII. O objectivo do Cavaleiro é capturar a misteriosa fera, que para uns é um lobo, para outros um monstro, para outros o próprio demônio. Fosse o que fosse, a Besta parecia conseguir sempre fugir, sem ser reconhecida pelos poucos sobreviventes.
Lançando-se à caça do misterioso animal, o Cavaleiro começa a conhecer os outros personagens locais, como o rancoroso Jean-François (Vicente Cassel), que perdeu um braço na África, sua bela irmã, Marianne (Emilie Dequenne), e a sensual prostituta Sylvia (Mônica Bellucci). Aos poucos, vai descobrindo que existe uma rede de intrigas que se estende da Roma papal até a corte da França, com epicentro na pequena Gévaudan.
Pouco se sabe sobre a Besta de Gévaudan fora da França. Mas, o monstro realmente existiu, e fez mais de cem vítimas entre 1764 e 1767, nas regiões rurais de Auvergne e Dorgogne. Tudo isto está documentado nos livros oficiais das prefeituras destes lugares, com relatos das testemunhas sobreviventes – todas idôneas, como padres, juízes e deputados. Quando o terror se intensificou, as autoridades locais pediram ajuda à Corte e o rei Luís XV se interessou pessoalmente pelo caso, mandando homens de seu exército e oferecendo recompensas para quem a capturasse.
Foram utilizados os mais variados métodos de captura, com caçadores experientes, armadilhas, iscas envenenadas, mas sem resultados práticos. Em quatro ocasiões, diferentes animais de grande porte – lobos e hienas – foram mortos, mas em pouco tempo novas vítimas apareciam. O último ataque observado foi em junho de 1767, sem explicação coerente. Até hoje, mais de duzentos anos depois, não há uma explicação definitiva sobre o que era a Besta de Gévaudan.
Se não há uma explicação comprovada, só restam as especulações, e porque não faze-lo em grande estilo, como ousou o diretor Christophe Gans? Se há um meio de comunicação que vive lado a lado com a fantasia, este é o cinema. Gans apresentou a sua versão dos fatos, com muita ação e aventura, juntando o estilo videogame com um enredo bem amarrado, mostrando um pouco do poderoso jogo de intrigas e interesses que era comum na época retratada. Se non é vero, é bene trovato…
O diretor não esconde a sua afinidade pelos mangás, ou quadrinhos japoneses, que já lhe renderam um filme anterior, muito cultuado pelos fãs: “Crying freeman” ou “Lágrimas de um guerreiro”, estrelado pelo mesmo Mark Dacascos em 1995. As seqüências alucinantes de ação alternam-se com os relacionamentos tensos dos personagens, numa recriação bem feita de cenários e figurinos. O mesmo não se pode dizer dos armamentos e acessórios utilizados pelos bandidos. Já que o kung fu era praticado por todos, uma das armas brancas utilizadas lembra muito o duelo final de “Operação Dragão”, de Bruce Lee.
Mas, realismo histórico fica melhor em documentários, não em filmes de ficção. As seqüências de luta são antológicas, no melhor estilo Hong Kong. A apresentação dos personagens principais é fantástica, com Mani distribuindo porrada debaixo de chuva, numa das coreografias marciais mais bonitas do cinema. O diretor usa e abusa de determinados efeitos, como a alteração da velocidade da imagem durante as cenas de ação, e na montagem apresenta as lutas corpo a corpo em três planos (geral, golpe, reação), numa velocidade tal que quase só vêem as sombras em movimento. O fato de ter utilizado câmeras digitais facilitou a inserção dos efeitos especiais.
O entusiasmo que “O pacto dos lobos” foi recebido na França acabou prejudicando-o no mercado externo, que esperava um filme épico “sério”. Mas, como um produto de entretenimento adequado ao público atual, o filme consegue ser mais do que uma caça-ao-monstro-com-artes-marciais. Com as suas duas horas e vinte de duração, o filme mostra um fato histórico inusitado, entremeado por uma aventura capa-e-espada, tendo como pano de fundo a Revolução Francesa. Com uma linguagem dinâmica, o filme prende a atenção e surpreende até o fim, em meio às reviravoltas do enredo.
O elenco é um dos pontos fortes do filmes. O misterioso índio faixa-preta é vivido por Mark Dacascos, que foi realmente campeão europeu de kung-fu no início dos anos 80. Ele abandonou as competições para fazer filmes como “Only the Strong”, “Double Dragon” e “A Ilha do Doutor Moreau”, além do já citado “Lágrimas de um guerreiro”. Na televisão, assumiu o papel título do seriado “O Corvo”, originado a partir de um filme estrelado pelo filho de Bruce Lee, Brandon.
A cortesão Sylvia é vivida por Mônica Bellucci, que ficou famosa ao estrelar “Malena”, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2001. Mônica, que foi uma das vampiras do “Drácula” de Coppola, e esteve nas duas seqüências de “Matrix”. Seu marido na vida real, Vicente Cassel, faz outro importante personagem de “O Pacto dos Lobos”, o desajustado Jean-François de Morangias.
O ponto negativo do filme ficou por conta da distribuidora, que optou por uma edição de padrão de qualidade inferior ao que a produção certamente merecia. A edição em DVD, da Europa Filmes, limitou-se a uma edição com tela cheia e poucos extras. A dublagem traz português (2.0) e francês ( DD 5.1 e 2.0), enquanto que as legendas estão disponíveis em português, inglês e francês. Como extras, Trailer, Teaser e TV Spot, Entrevistas, Making Of, Bastidores, O Monstro, Notas sobre Elenco e Diretor. O Making Of é legendado em português, tem nove minutos de duração, e dá uma visão geral do filme. Bastidores e Entrevistas são trechos do Making Of, sem nenhuma novidade. Na edição americana da Universal, além do filme vir em Widescreen anamórfico, vem também as cenas deletadas, trailers e notas de produção.
Apesar das deficiências da edição em DVD, “O Pacto dos Lobos” é diversão garantida para os amantes de filmes de ação, além de dar mais um lampejo do que foi a turbulenta Europa pré-Revolução Francesa. Assista e tire as suas próprias conclusões.