Claquete 23 de abril de 2004

Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Ainda dominado pelo rolo compressor sado-religioso de Mel Gibson, as bilheterias brasileiras continuam com “A Paixão de Cristo”, nos primeiros lugares. Para contra-atacar, chegam o esperado “Kill Bill – Volume 1”, Quentin Tarantino, com a gatíssima Uma Thurman, e, o terror “Madrugada dos Mortos”, com Ving Rhames. Continuam em cartaz, o drama “O Retorno do Talentoso Ripley”, cujo papel-título fica com o ótimo John Malkovich, o gótico-fantástico “Anjos da Noite – Underworld”, com Kate Beckinsale, na luta dos vampiros contra os lobisomens, “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua gangue, o policial “Roubando Vidas”, com Angelina Jolie, e a comédia “Alguém tem que ceder”, com os veteraníssimos Jack Nicholson e Diane Keaton.

“Kill Bill”, Tarantino em grande estilo

Filme de ação, dirigido por Quentin Tarantino, e estrelado por Uma Thurman. Se você pensou em “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, errou, mas bateu na trave. A idéia do filme surgiu ainda no tempo de “Pulp Fiction”, e, o papel principal ficou para Thurman como presente de aniversário de 30 anos, em 2000. Ela vive o papel da Noiva, uma perigosa assassina, que trabalha em um grupo liderado por Bill (David Carradine), e, que é composto, principalmente, por mulheres. Ela está prestes a casar-se com Bill, mas, no dia de seu casamento, o noivo e companheiras de trabalho voltam-se contra ela, quase a matando. Ela fica 5 anos em coma, até despertar com um único desejo: vingança. “Kill Bill” foi inicialmente planejado como um único filme, mas devido à longa duração que teria, o diretor Quentin Tarantino, e, os produtores da Miramax Films, acabaram concordando em dividi-lo em duas partes, com lançamento de seis meses entre elas. O Brasil é um dos últimos países em que é lançado. Para se ter idéia, o DVD do primeiro filme já está à venda, no mercado americano. Além de Thurman e Carradine, estão no elenco Lucy Liu e Daryl Hannah. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 4 do Moviecom, censurado para menores de 18 anos.

Madrugada dos Mortos

Os zumbis, um dos sub-gêneros dos filmes de terror, que fez a festa dos filmes trash dos anos 80 (lembram de “Fome Animal”?), retorna triunfalmente, em “Madrugada dos Mortos”. Refilmagem de “O Despertar dos Mortos”, de 1978, os zumbis desejam dominar uma cidade de Wisconsin, e, começam a atacar as pessoas. Ana (Sarah Polley) é uma jovem enfermeira, que consegue escapar do ataque deles e é ajudada pelo policial Kenneth (Ving Rhames). Juntos, eles encontram abrigo em um shopping center, onde outros sobreviventes estão escondidos. Lá os zumbis não conseguem entrar e eles conseguem ter uma vida razoavelmente normal. Mas, a situação piora, quando começa a faltar energia e comida, o que faz com que eles tenham que sair do abrigo, para conseguir sobreviver. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 6 do Moviecom, com censura para menores de 18 anos.

“Ônibus 174”, entre os melhores de todos os tempos

Reconhecimento vem de onde menos se espera. O site Rotten Tomatoes, que conta com a participação de mais de 200 críticos de cinema, fez uma lista dos melhores filmes de todos os tempos. Nela, o documentário brasileiro “Ônibus 174” ocupa a segunda posição, tendo obtido 64 críticas com pontuação máxima. O primeiro lugar ficou com “Toy Story”, com 109 notas dez. Único filme brasileiro a figurar na lista, “Ônibus 174” conta a história do seqüestro de um ônibus, no Rio, e, que culminou com a morte de uma refém e do seqüestrador.

.
Inscrições abertas no “Curta Natal no MADA”

Produziu um curta-metragem, e não exibiu ainda para o público? Sua grande chance chegou, com o Curta Natal no MADA, festival de curtas-metragens, que faz parte da programação da sexta edição do MADA – Música Alimento da Alma, que acontecerá de 10 a 15 de Maio, em Natal. Os vídeos serão exibidos na Casa da Ribeira, e as inscrições encerram no dia 30 de abril. Serão aceitos vídeos nos padrões VHS ou Super-VHS no sistema NTSC, Betacam, formato digital (DV e mini-DV) ou U-matic. Para mais informações, acesse o site http://www.festivalmada.com.br/, ou mande email para marcelohbarreto@hotmail.com.

Identidade, em DVD

Baseado em um dos mais famosos livros de Aghata Christie, “O Caso dos Dez Negrinhos”, chega às locadoras, em DVD e VHS, “Identidade”, filme de suspense, em um estilo que esteve muito em voga nos anos 70. Uma violenta tempestade faz com que um grupo de pessoas busque abrigo em um motel desolado, gerenciado por um jovem bastante nervoso (John Hawkes). Entre eles, estão um motorista de limusine (John Cusack), uma estrela da TV da década de 80 (Rebecca De Mornay), um policial (Ray Liotta), encarregado de escoltar um assassino (Jake Busey), um casal de recém-casados (Clea DuVall e William Lee Scott), e, uma família em crise. De início, todos se sentem aliviados, por encontrarem um lugar para ficar, em meio à tempestade. Mas, logo entram em pânico, ao perceber que, um a um, todos estão sendo assassinados, em nome de um misterioso segredo, que une a presença de todos naquele lugar.

A Lista de Schindler, em DVD

Revisitando suas origens, o diretor Steven Spielberg trouxe para o cinema uma das histórias mais empolgantes dos bastidores da Segunda Guerra Mundial. Longe dos canhões de “Resgate do Soldado Ryan”, “A Lista de Schindler”, conta a história, real e emocionante, do empresário alemão Oskar Schindler, playboy, mulherengo e boa-vida, que, num gesto humanitário, de extrema ousadia, salvou a vida de milhares de judeus, ao mesmo tempo em que contava com o apoio dos nazistas. Aparentando desinteresse pela política, e fingindo explorar o baixo custo da mão-de-obra judia, o que Schindler fazia era empregar inocentes, que de outra forma, morreriam nos campos do Holocausto. O filme ganhou sete Oscars, inclusive o de Melhor Filme, três Globos de Ouro e sete premiações do BAFTA. Além do filme, o DVD duplo traz o documentário “Vozes da Lista”, de 77 minutos, com depoimentos de sobreviventes do grupo ajudado por Schindler, além de “A história de Shoah Foundation”, sobre os bastidores da organização que se dedica a promover a tolerância e combater o racismo.

A volta do Fantasma

Quem viu Débora Falabela encantando-se com os seriados de cinema em “Lisbela e o Prisioneiro”, não pode imaginar o sucesso que faziam essas seqüências de episódios curtos, nos anos 30, 40 e 50, quando a televisão ainda engatinhava os seus primeiros passos. Resgatando essa memória, a ClassicLine lançou, em DVD, o seriado “O Fantasma”, de 1943, com 15 capítulos, e, 260 minutos, no total. Phanton, aqui conhecido como Fantasma, foi lançado em quadrinhos por Lee Falk, em 1936. A série traz a história do Professor Davidson, e, sua filha Diana, que vão à África, procurar pela Cidade Perdida de Zoloz, onde, segundo a lenda, está escondido um grande tesouro. Mas, sua busca é impedida por um charlatão que deseja ter o tesouro só para si. Mais tarde a busca passar a ser dificultada pelo Dr. Bremmer, um criminoso internacional que planeja destruir a paz com as tribos nativas de Zoloz e construir uma base aérea secreta. Felizmente o Fantasma, noivo de Diana, é mais que um problema para os dois vilões. Não confundir com o filme de 1996, com Bily Zane e Catherine Zeta-Jones, com os mesmos personagens.

Filme recomendado: “Billy Elliot”

Bailarinos de carvão

Em meio ao festival de greves que assola o país, é interessante ver um filme, cuja história é ambientada na famosa greve dos mineiros de carvão da Inglaterra, em meados dos anos oitenta. Numa queda de braço com a Dama de Ferro Tatcher, os mineiros resistiram meses a fio, enfrentando a polícia, e, sofrendo penúrias de todo tipo. Ao final, capitularam, por não conseguir resistir ao rolo compressor da globalização. Mas, o tema central de “Billy Elliot” não é o movimento dos mineiros e sim o balé.

Vocês certamente perguntarão o que tem mineiros, polícia e greve, a ver com balé. Por incrível que pareça, o filme consegue mostrar o que todas essas coisas têm em comum com a refinada arte da dança, como veremos mais adiante. Britanicamente, vamos por partes, como diria o ilustre Jack, o Estripador.

Billy Elliot é um garoto de doze anos que, em 1984, vivia com sua família, numa pequena cidade de mineiros do norte da Inglaterra. Órfão de mãe, sua família resumia-se ao pai, um irmão de vinte anos, e, a avó, meio esclerosada.

Em meio ao violento movimento grevista, onde piquetes violentos alternavam-se com choques com a polícia, Billy vivia a rotina de qualquer garoto de sua idade, entre a escola e a academia de boxe. Por mais que se esforçasse, Billy não conseguia aprimorar-se no pugilismo. Isso era decepcionante para o pai, já que o boxe era uma tradição em sua família.

Um certo dia, como castigo por ter ido mal no ringue, Billy fica com a incumbência de entregar a chave da academia para a professora de balé, que dividia o espaço para suas aulas. Fascinado com o que via, quando Billy tomou consciência, já estava de sapatilhas, participando da aula. A professora, profissional limitada, mas com um olho clínico, percebeu o potencial que tinha diante de si e incentivou-o a continuar treinando.

Em segredo, Billy prosseguiu seus treinamentos, animado com a sugestão da professora, de tentar uma bolsa na escola nacional de balé. Tudo ia muito bem, até o pai flagrar Billy na aula. Para uma pequena cidade, constituída, na sua maioria, por trabalhadores braçais, que nasciam e morriam minerando carvão, o caso constituiu-se num escândalo, principalmente pela associação da arte ao homossexualismo. Proibido de freqüentar as aulas, Billy pratica às escondidas, ainda alimentando o sonho de um dia tornar-se um bailarino. No Natal, enfrenta o pai com aquilo que tinha de mais forte: a dança.

Resolvido a proporcionar ao filho um destino melhor do que o seu, Jackie Elliot fica tão aturdido, a ponto de querer furar a greve, para conseguir dinheiro. Sensibilizada, a cidade toda resolve ajudar o garoto, para que este realize o seu sonho. Ponto. O resto você verá no filme.

O que mais pode ser dito sobre este filme, sem estragar o prazer de quem vai assisti-lo? O roteiro e a trilha sonora são tão bem feitos, que até as cenas de confronto entre os grevistas e a polícia sugerem cenas de um balé, embora as imagens delicadas sejam substituídas por correrias, empurrões e muita porrada. Quem espera ouvir músicas clássicas todo o tempo, vai ser surpreendido com um rock agradável, até para quem não é fã do gênero.

Outra discussão interessante do filme é sobre a associação do balé masculino com homossexualismo. Em nenhum momento, Billy demonstra interesse por pessoas do mesmo sexo. O seu prazer é dançar. O mesmo não ocorre com o melhor amigo, que veste as roupas da irmã, quando está sozinho.

Além da fotografia fantástica, roteiro arrumado e ótimas coreografias, o elenco tem um papel importante no filme. Os papéis mais fortes, o pai de Billy e a professora de balé são interpretados por Gary Lewis e Julie Walters, dois ótimos atores, veteranos, mas pouco conhecidos fora da Europa. Já o garoto Jamie Bell, parece interpretar a si próprio. Selecionado entre milhares de garotos, preenchia as exigências da idade, do sotaque regional e das habilidades cênicas e da dança. Como Billy, ele também freqüentava as aulas de dança, escondido dos amigos, para não sofrer com as gozações.

A edição da Universal para a região 4 estaria perfeita, não fosse o detalhe de que a nossa língua é o português. Por conta disso, o excelente Making Of com vinte minutos, e, as notas de produção e elenco, ficam restritos aos que entendem inglês. O formato de tela é widescreen e o áudio traz somente a opção inglês Dolby Digital 5.1. As legendas podem ser em português, espanhol, inglês, chinês, coreano e tailandês. Além dos extras já mencionados, vem também material para DVD-Rom.

Eu sempre costumo dizer que um filme é bom, quando pode olhado por vários ângulos diferentes. Billy Elliot é um belo exemplo disso. Além dos interessantes questionamentos oferecidos, há uma história enternecedora e verossímil, além de belas cenas de danças, tanto os solos de Billy como os embates coreografados. Recomendo.