13/02/2004 – “O Caminho Para Casa”

Filme Recomendado: “O Caminho Para Casa”

Coração de porcelana

Distante do tempo em que filme chinês era de kung fu, os filmes que tem chegado do Extremo Oriente tem sido de uma qualidade de fazer inveja a qualquer produção de Hollywood. São pérolas como o vietnamita “Três estações” e os chineses “Nenhum a menos” e “Último entardecer”. A eles vem se juntar “O Caminho Para Casa” de Yimoou Zhang.

A história de filme é de uma simplicidade assustadora: um jovem retorna para a sua aldeia natal ao receber a notícia de que o pai falecera. Este era o único professor da aldeia, onde ensinara por quarenta anos. Ao chegar em casa, o rapaz sabe que a mãe quer que seja cumprida uma antiga tradição da região: o morto deve ser conduzido a pé para que não se perca a caminho de casa.
Nesse retorno a seu local de origem, o jovem revive a história de amor dos seus pais. No lugar e na época em que viviam, onde todos os casamentos eram negociados pelas famílias. Di, jovem inculta do interior, já recusara vários pretendentes. Quando Changyu, um jovem da cidade para ser o professor local, ela se apaixona por ele.
Indiferente a esse abismo cultural que os separava, Di chega quase a morrer – literalmente – devido a esse amor. Até aí, nada que já não tenha sido visto mil vezes nas telas de cinema.
A diferença deste filme é o tratamento delicado que é dado ao relacionamento dos dois jovens. Diferente de nossas novelas, onde no primeiro encontro os jovens já vão para a cama, o comportamento dos jovens chineses pode até parecer ridículo. Não é, pelo menos para quem conseguir partilhar da inocência de um primeiro amor.
O filme é belo, seja pelas paisagens de tirar o fôlego, pela música suave e enternecedora, seja pelo romance delicado e dolorosamente real. Não é sem razão que sentimos a dor de Di ao partir-se o vaso de porcelana que continha as iguarias para seu amado. Com ele se partia também o coração da moça e todos os seus sonhos mais lindos.
Nesse universo ainda convive a mãe cega, que perdera a visão de tanto chorar a perda do marido, mas que é capaz de enxergar o que os outros não viam. É dela a iniciativa de mandar consertar a tigela partida, de valor inestimável para a garota.

Na busca para satisfazer a vontade da mãe, o filho do professor termina encontrando muito mais do que procurava. O valor do pai, a amizade e apreço de pessoas desconhecidas ou há muito esquecidas, bem como as próprias raízes que pensara ter cortado. A volta para casa não fora só do pai. O romance, a cultura e a tradição o levam a uma última homenagem ao velho professor.
A versão nacional do DVD ( que não foi lançado nos Estados Unidos em vídeo ou DVD) está excelente. O formato original do cinema permite apreciar a bela fotografia do filme e o áudio está em mandarim, permitindo ouvir a musicalidade da língua chinesa. Infelizmente não existem extras, mas este é um caso em que o conteúdo do filme já está muito bom. A trilha sonora é um espetáculo à parte, com melodias suaves e bem integradas às imagens. A atriz que personifica a Di jovem é Ziyi Zhang, a mesma que fez a esposa jovem em “Lanternas vermelhas” e mais recentemente, a guerreira mascarada de “O tigre e o dragão”.
É interessante observar os três momentos dessa promissora atriz, mas acima de tudo apreciar um bom momento da Sétima Arte nesse filme sensível e agradável aos sentidos. Recomendo a todos.