09/01/2004 – “Dogma”
Filme Recomendado: “Dogma”
Quando um filme trata de religião, a chance de desagradar alguém é quase exponencial. Se não for da religião “concorrente”, será devido aos brios ofendido de quem foi retratado na película.
Por ter certeza disso, os produtores de “Dogma” tiveram o cuidado de colocar na abertura do filme um aviso informando que o que vinha a seguir era uma comédia. Até Deus teve senso de humor – dizem eles no aviso – senão, como explicar o ornitorrinco?… Por estas e outras razões, embora questione todas as religiões, “Dogma” só poderia usar a imagem da Igreja Católica.
Apesar de ter dominado o mundo a ferro e fogo, é a que consegue ser a menos rígida entre todas as religiões em voga. O filme traz elementos aparentemente chocantes: a última descendente de Cristo é uma mulher desiludida e sem fé, que trabalha numa clínica de abortos. Os profetas são dois drogados que só pensam em sexo. Um décimo terceiro apóstolo, que literalmente cai do céu, é negro e diz que Jesus também o era. A Musa Inspiradora trabalha como dançarina de uma casa de striptease de terceira. E para completar, dois anjos banidos do céu buscam uma forma de voltar para lá, ajudados por um demônio trapaceiro.
O jeito que os anjos descobriram para fugir da Terra pode simplesmente provocar o fim do universo conhecido. No centenário de uma igreja, a Santa Sé aprovou a indulgência para quem atravessasse a sua porta. Ou seja, são zerados todos os pecados cometidos. Como existe um “convênio” entre Deus e a Igreja firmado entre Jesus e Pedro, o que for estabelecido na Terra é avalizado no Céu. O problema é que, aos expulsar os dois anjos, Deus o fez de forma permanente.
Se permitisse a sua volta, seria violada a Infalibilidade Divina. Na dúvida, o Caos. A Humanidade estaria perdida para sempre. E para piorar as coisas, Deus fazia uma visita à Terra e simplesmente sumira do mapa.
Para impedir os anjos de chegarem à igreja, é então solicitada a ajuda da última descendente de Cristo, que conta com o apoio de dois estranhos profetas e do mais estranho ainda décimo terceiro apóstolo. No caminho para New Jersey, tem que enfrentar um monstro de excrementos, encontram a Musa e travam o primeiro encontro com a dupla de anjos rebeldes.
Para quem teve o espírito aberto para ver o filme até aí, vai começar a perceber que cada um dos personagens tem valores e princípios morais que regem seus comportamentos. O próprio Loki, o Anjo da Morte, que executava o castigo divino, o fazia em função das culpas dos pecadores.
Quando se recusa a agir de outra forma, sofre ele mesmo as conseqüências. A herdeira de Cristo reconstrói sua fé em Deus e nos homens à medida que vai empreendendo a sua Cruzada pessoal.