“Treze Vidas: O Resgate” e “O Resgate na Caverna Tailandesa”

O resgate dos Javalis Selvagens

Não é novidade para ninguém que a Vida é a grande inspiração para a Arte, embora às vezes aconteçam fatos tão surpreendentes que torna difícil a sua transposição para as telas de cinema. Um desses acontecimentos foi o resgate de treze adolescentes na Tailândia, que ficaram presos em uma caverna inundada.

Recentemente a Amazon Prime lançou o filme “Treze Vidas: O Resgate” (“Thirteen Lives”, UK, 2022), que traz uma versão resumida do evento, mas com grande qualidade, enquanto a Netflix trouxe “O Resgate na Caverna Tailandesa” (“Thai Cave Rescue”, TIA/EUA, 2022), uma minissérie em seis episódios sobre o mesmo tema.

O caso ganhou as manchetes de todo o mundo, na época, principalmente pela descoberta de que os meninos ainda estavam vivos, mesmo após dez dias sem comida. O resgate foi uma operação delicada e que envolveu mais de cinco mil pessoas de 17 países diferentes, todos buscando alcançar um objetivo que parecia impossível, resgatar os garotos com vida.

Embora tenha despertado a atenção midiática do mundo inteiro, poucas pessoas tiveram a noção real das dificuldades impostas às equipes de resgate, seja pelas condições físicas da caverna, pela inundação constante das águas da chuva ou mesmo pela logística dos materiais necessários. Mesmo os experientes mergulhadores da marinha tailandesa não tinham o conhecimento ou equipamento necessário para a movimentação em cavernas.

O aprisionamento dos garotos também se deveu a uma série de eventos inesperados, como o inicio antecipado da estação de monções, as pesadas chuvas que caem em um período do ano no sudeste asiático, problemas no satélite meteorológico e até a vontade de visitar a conhecida caverna, um ponto turístico da região, situada próxima da fronteira da Tailândia com Mianmar.

Quando as chuvas começaram, e rapidamente inundaram a caverna, a solução imediata – e única disponível – adotada pelo técnico foi penetrarem cada vez mais, buscando um terreno mais elevado. Ao chegar no final da caverna foi que perceberam estar em um beco sem saída.

Enquanto isso, do lado de fora o alarme veio através dos pais, que estranharam a ausência dos meninos. Aos poucos, as autoridades foram tomando consciência da gravidade da situação e mais e mais pessoas e organizações foram se envolvendo no resgate.

A solidariedade das pessoas, principalmente os locais, foi surpreendente, a ponto de os fazendeiros permitirem a inundação de seus campos cultivados, perdendo toda a colheita da estação. Muitos trabalharam voluntariamente para o desvio das águas bombeadas, trazendo doações de alimentos, remédios e até conforto espiritual.

Somente com a chegada de mergulhadores especializados em cavernas foi possível encontrar os meninos. Após dez dias, até os pais imaginavam que estivessem mortos. Na verdade, a sobrevivência dos garotos foi possível graças à liderança do técnico, que ajudou a controlar a fome, ansiedade e o medo através de técnicas de meditação.

Muitos questionaram a responsabilidade do técnico, em ter levado os meninos para a caverna, mas foi graças a ele que todos sobreviveram até serem encontrados pelos mergulhadores. Contudo, para retirá-los da caverna ainda seria necessário muito mais, principalmente porque a concentração de oxigênio estava caindo a níveis críticos e a possibilidade de inundação total era cada vez maior.

Todos esses detalhes e muito mais estão no filme e na minissérie. O filme, mais condensado, ainda assim consegue reunir uma quantidade impressionante de informações, parecendo até um documentário. A participação dos astros Viggo Mortensen e Colin Farrell é discreta, e a maior parte do elenco é de tailandeses.

A minissérie, dividida em seis episódios, é bem mais extensa e detalhada, focando desde o início na vivência dos garotos, seus problemas pessoais e familiares e as dificuldades dentro da caverna. Também é possível entender melhor toda a problemática da situação, e as soluções dramáticas que tiveram que ser adotadas.

O evento cobrou o seu preço, com a morte do experiente mergulhador tailandês Saman Gunan, afogado em circunstâncias não esclarecidas, e do SEAL Beirut Pakbara, morto em decorrência de uma infecção no sangue adquirida durante as operações do resgate.

Recomendo a todos de assistirem as duas produções, para ter uma ideia clara do que foi essa impressionante operação de resgate, onde a vida de treze meninos de situação humilde mereceu a atenção e ajuda do mundo inteiro.

“Treze Vidas: O Resgate” pode ser encontrado no serviço de streaming Amazon Prime Video, enquanto “O Resgate na Caverna Tailandesa” está disponível na Netflix.