Luz do Dia

O segredo de Iris

Tenho sempre reclamado aqui da falta de criatividade da indústria do cinema nos dias atuais, investindo muito em refilmagens ou temas bem repetidos. Claro, isso é Hollywood, paraíso do capitalismo, onde o lucro certo ainda é o valor mais importante. Por isso, é uma grata surpresa encontrar um filme que foge a estes padrões, sem descuidar da qualidade técnica, e oferecendo uma história diferente e intrigante. Isso tudo é “Luz do Dia”, (“Daglicht”, NLD, 2013), dirigido por Diederik Van Rooijen.

O filme começa apresentando o menino Aron (Daniel Verbaan) causando confusão na piscina, por mergulhar e permanecer no fundo, isolando-se dos outros. O garoto entra em crise ao ser tocado, só acalmando-se com a chegada da mãe, Iris Boelens (Angela Schifj), uma jovem advogada e mãe solteira.

A professora conversa com Iris, recomendando que faça testes psicológicos no filho, que apresenta sintomas de autismo, mas a jovem recusa-se, por não querer que o filho fique rotulado como deficiente. A escola decide que ele deverá ficar uma semana afastado, para melhorar o comportamento.

Bastante atarefada no escritório de advocacia em que trabalha, Iris resolve pedir ajuda à mãe, Ageeth (Monique van de Ven), uma das poucas pessoas com que o menino se relaciona bem. Mas, Ageeth está de viagem marcada e recusa-se a desistir dela, cedendo apenas em que a filha e o neto fiquem na casa, pois o aquário que lá existe acalma sobremaneira o garoto.

Quando um dos peixes morre, Iris chama o especialista que cuida do aquário para verificar, e um comentário casual a deixa curiosa, quando ele diz que o menino parece muito com o irmão dela na mesma idade. Quando ela quer saber mais, ele não responde e vai embora.

Intrigada, ela liga para a mãe, que nega o fato com veemência, e desliga o telefone. Iris, então, invade o escritório da mãe e encontra num cofre uma pasta com documentos e recortes de jornais sobre uma pessoa chamada Ray Boelens, que teria cometido um crime bárbaro e estava internado em um manicômio judiciário.

Investigando sobre o assunto, ela descobre que Ray (Fedja van Huêt) aparentemente matara uma vizinha e sumira com um bebê. Por ser autista, ele recusava-se a falar, e os advogados não tinham feito muitos esforços para tirá-lo do hospício.

Iris, então, decide defendê-lo, e vai visitá-lo no hospital, contando com a ajuda de Bo (Matteo van der Grijn), um simpático funcionário da instituição, e que já lida com Ray há muito tempo.

A jovem fica surpresa quando, ao apresentar-se como sua irmã, Ray nega, dizendo que ela não é irmã dele. Ele balbucia algumas frases sem sentido para Iris, o que deixa a moça ainda mais intrigada.

O encontro frustrado com Ray não é a única coisa estranha que acontece na vida de Iris. Ela recebe ameaças anônimas, seu chefe e melhor amigo sofre um acidente grave, a mãe recusa-se a falar sobre Ray, e mesmo um caso lhe é tomado, onde ela defendia o filho de um rico empresário por sedução de menor. Quando ela sofre uma tentativa de assassinato é que ela terá a oportunidade de descobrir o segredo que havia sido mantido a sete chaves em sua própria família por décadas.

É possível que, em certo ponto do filme, o espectador suspeite da solução do mistério, mas, a direção segura, a trilha sonora tensa e impactante, a fotografia perfeita, e a construção da história, entremeada inteligentemente com flashbacks da vida de Ray, mantém a atenção do espectador presa do começo ao fim.

O filme é um raro representante da indústria holandesa, pouco habitual nos mercados fora da Europa, mas que já teve ganhadores do Oscar como “Caráter” (“Karakter”, NLD, 1997), que venceu a categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 1997.