Sucker Punch – Mundo Surreal

 

O realismo da fantasia

 

É curioso como alguns filmes caem no agrado do público, enquanto outros passam ao largo. É o caso de “Sucker Punch – Mundo Surreal” (“Sucker Punch”, EUA, 2011), dirigido por Zack Snyder. O diretor vinha de grandes sucessos como “300” (EUA, 2006) e “Watchmen: O Filme” (“Watchmen”, EUA, 2009), mas talvez a mistura do cyber-punk com abordagem psicológica não tenha atingido o seu publico usual. É uma pena, pois o filme é muito interessante.

Apesar de sua aparente complexidade, a história de “Sucker Punch – Mundo Surreal” é apresentada ao espectador de forma bem linear, iniciando pela trágica história da personagem principal, Babydoll (Emily Browning), que, após perder a mãe, causa a morte acidental da irmã, ao tentar livrá-la de ser abusada pelo padrasto (Gerard Plunckett).

Aproveitando a oportunidade para livrar-se da enteada e ficar com a fortuna da mulher, o Padrasto leva Babydoll para um hospício, dirigido pelo corrupto Blue Jones (Oscar Isaac). Após um acerto, Jones falsificará a assinatura da doutora Vera Gorski (Carla Gugino) para fazerem uma lobotomia na moça. O único senão é a demora, pois o médico encarregado da operação só chegará em cinco dias.

Desesperada, Babydoll observa atentamente tudo ao seu redor, em busca de qualquer coisa que possa ajudá-la a fugir do seu destino cruel. Em sua mente atormentada, ela se vê agora em um bordel comandado pelo cruel Blue Jones, que explora meninas para dançar e entreter os convidados, submetendo-se aos seus desejos.

As moças são treinadas pela coreógrafa Vera, ela própria uma escrava de Jones. Entre as prisioneiras do lugar estão Sweet Pea (Abbie Cornish), Rocket (Jena Malone), Blondie (Vanessa Hudgens) e Amber (Jamie Chung).

Quando Baby é forçada a dançar, ela entra em um novo estágio de fantasia, onde irá encontrar um homem sábio (Scott Glenn), que lhe entrega armas e diz que serão necessários cinco objetos para que ela consiga executar o seu plano de fuga: um mapa, fogo, uma espada e uma chave. O quinto e último objeto é um mistério a ser desvendado no momento certo.

Baby se esforça para conseguir o apoio das quatro companheiras, e para conseguir cada um dos objetos, ela dançará para desviar a atenção dos seus possuidores. Cada dança a leva a um nível de fantasia diferente, onde enfrentarão os mais diversos obstáculos.

O filme é um delírio visual e sonoro absolutamente fantástico. Todos os principais clichês do cinema, quadrinhos, mangás, games e animações está presente em diferentes momentos.

Ora ela está nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, o céu repleto de triplanos e dirigíveis, os Tommies ingleses lutando contra zumbis alemães. Noutra fase, elas usam uma fortaleza voadora da Segunda Guerra para invadir um castelo repleto de orcs que guarda um filhote de dragão – e sua mãe. No terceiro, elas usam um helicóptero da guerra do Vietnã para lutar contra robôs assassinos, que guardam uma bomba que está sendo transportada em um trem.

O filme tem um clima de videogame, com um visual delirante e dinâmico, principalmente nas cenas de luta. A dinâmica do filme é mantida graças a uma montagem eficiente e contínua, que evita hiatos entre as cenas de ação.

A fotografia do filme é uma personagem também, ao definir padrões de cores diferentes para cada nível de realidade ou fantasia. E a trilha sonora não deixa ninguém sossegado, com uma mistura maravilhosa que vai de Annie Lennox (“Sweet Dreams”) a Mozart (“Réquiem em dó menor”), passando por Björk (“Army of Me”), Queen (“I Want it All”) e Lennon & McCartney (“Tomorrow Never Knows”).

“Sucker Punch – Mundo Surreal” foge totalmente à mesmice hollywoodiana, trazendo em seu bojo traços de “Matrix” (“The Matrix”, EUA, 1999) e “A Origem” (“Inception”, EUA, 2010), mas com uma identidade própria. A edição em Blu-Ray traz uma edição estendida com 17 minutos a mais, um extenso Making Of, curtas de animação e vários outros extras.