O Reino Proibido

 

A xícara cheia, o bêbado, o pássaro e o fio de cabelo

 

É pouco provável que alguém vá a um filme estrelado por Jackie Chan ou Jet Li se não for um apreciador de filmes de artes marciais. Se não pertencer a este grupo, sugiro que passe longe de “O Reino Proibido” (“The Forbidden Kingdom”, EUA, 2008). Se for um fã do gênero ou dos atores, que são a maior expressão do kung-fu nos cinemas, então, pode entrar e curtir.

Esta é a primeira vez que os dois trabalham juntos em um filme e certamente os espectadores esperavam algo monumental. Mas, infelizmente, é um filme hollywoodiano e os dois atuam mais como coadjuvantes. Algo assim como o seriado “Besouro Verde”, onde Bruce Lee atuava como ajudante do herói, mas a audiência prestava mais atenção nele…

A história gira em torno de Jason (Michael Angarano), um jovem introvertido, recém chegado a Chicago, que passa suas horas livres assistindo filmes de kung-fu e vagando pelo bairro chinês da cidade. Um dia, Jason arruma confusão com um grupo de valentões da escola, lutadores de taekwondo. O grupo força Jason a abrir o antiquário do velho Hop (Jackie Chan), seu único amigo no bairro. O ancião termina levando um tiro e Jason foge, levando consigo um estranho bastão, a pedido de Hop.

O bastão é um artefato mágico, e transporta o rapaz para uma China antiga e mística, onde bruxas e seres imortais convivem com os humanos, todos dominados pelo tirânico Guerreiro de Jade (Colin Chou). Perdido nessa terra estranha, Jason sabe apenas que tem que devolver o bastão ao seu legítimo dono – que ele nem ao menos sabe quem é.

Logo, Jason conhece Lu Yan (Jackie Chan), um lutador imortal que depende de vinho para sobreviver e revela que o bastão é a chave para libertar o poderoso e travesso Rei Macaco (Jet Li), o único que pode derrotar o Guerreiro de Jade.

Uma ajuda inesperada aparece na forma da linda Pardal (Yifei Liu), cujos pais foram mortos por homens do Guerreiro de Jade, e que sempre se refere a si própria na terceira pessoa. Os três se põem a caminho da fortaleza do tirano, onde está aprisionado o Rei Macaco. No caminho, mais uma figura estranha se une ao grupo, o misterioso e taciturno Monge Silencioso, também vivido por Jet Li. O confronto entre ele e Lu Yan é um dos pontos altos do filme, numa das seqüências mais bem coreografadas do cinema.

Todos ficam decepcionados ao saber que Jason, o profetizado salvador do Rei Macaco, não sabe nada de kung-fu, a não ser o que viu nos filmes. Decididos a transformá-lo em um guerreiro, os dois mestres se esforçam para ensinar o que sabem, embora, como ocidental, Jason tenha dificuldade para perceber a filosofia que serve de alicerce para a luta.

Aliás, uma das cenas mais interessantes – e pouco percebidas – do filme, é quando Lu Yan tenta explicar através de uma metáfora, dizendo que a mente do rapaz está muito cheia de idéias pré-concebidas do kung-fu, e que ele precisa esquecê-las para aprender direito. “A xícara está muito cheia, é preciso esvaziá-la – diz”. E, o rapaz simplesmente derrama o chá de sua xícara!

Novos perigos irão surgir, mesmo antes de chegarem à fortaleza do Guerreiro de Jade. A mais perigosa é a bruxa Ni Chang (Bingbing Li), com um visual exótico que lembra a Storm de X-Men.

Mas, o grande confronto será com o imortal Guerreiro de Jade, que, com seus soldados, fará tudo para que o Rei Macaco não seja libertado de sua prisão. O confronto final é uma grande festa, com várias lutas acontecendo ao mesmo tempo, inclusive com Jason, que, depois de um curso ultra dinâmico, tornou-se um mestre do kung-fu.

“O Reino Proibido” é uma diversão descompromissada, adequada para quem está acostumado com os exageros normais de um filme de arte marcial, mesclando o humor de Jackie Chan, aqui um pouco mais contido, com a seriedade de Jet Li, vivendo um personagem galhofeiro, parecendo até que trocaram os personagens.

Prepare-se para os tradicionais “vôos”, das quedas de enormes alturas, dos personagens quase indestrutíveis e muitas outras pérolas do gênero. E, fique atento às falas dos personagens chineses. Tem algumas coisas interessantes que sobressaem no besteirol generalizado. Boa diversão!