Arquivo X: Eu Quero Acreditar

 

Acredite… para entender

 

Desde o seu nascimento, a televisão tem uma relação conturbada com o cinema, a ponto de um profissional de uma indústria não poder trabalhar na outra. O mais comum é que personagens de filmes de sucesso virem seriados de televisão. Quando acontece o inverso, como “Missão Impossível”, “Star Trek” e “Arquivo X”, sempre há alguma insatisfação. Não foi diferente quando foi lançado “Arquivo X: Eu Quero Acreditar” (“The X Files: I Want to Believe”,EUA,2008), segunda produção cinematográfica baseada no famoso seriado de televisão.

“Arquivo X” (“The X-Files”) foi uma série de televisão que permaneceu por onze temporadas, entre 1993 e 2002, que abordava temas como teorias da conspiração envolvendo alienígenas, pessoas do alto escalão do governo encobrindo fatos, paranormalidade, e até temas mais místicos, como satanismo, aparições de fantasmas, etc.. O seriado era estrelado por dois atores de grande identificação com o público, David Duchovny e Gillian Anderson, vivendo os agentes do FBI, Fox Mulder e Dana Scully.

Além dos fatos estranhos com que eles lidavam, também era curiosa a maneira como eles encaravam as situações. Mulder era sempre aberto às possibilidades, enquanto Scully, muito cética e arraigada às suas convicções religiosas, viviam em amigável conflito, sem falar da tensão sexual nunca explicitada que havia entre os dois.

O filme “Arquivo X: Eu Quero Acreditar” retoma a vida dos dois vários anos após os acontecimentos abordados no filme anterior, “Arquivo X – O Filme” (“The X-Files”,EUA,1998). Scully havia voltado a exercer a sua profissão de médica em um hospital religioso, enquanto Mulder, atualmente procurado pelo próprio FBI, se mantinha recluso em uma propriedade isolada, pesquisando coisas que nem ele mesmo tem ideia do que fosse.

Os dois são forçados a voltar à ativa quando uma agente do FBI é sequestrada e simplesmente desaparece. A única pista sobre ela é fornecida por um ex-padre (católico, obviamente, já que o catolicismo é minoria nos Estados Unidos), que diz ter visões que vêm direto de Deus.

A agente Dakota Whitney (Amanda Peet), que chefia a investigação do desaparecimento da colega, resolve recorrer a Mulder, mesmo incorrendo na desaprovação do parceiro Mosley Drummy (o rapper Xzibit) e da maior parte do FBI. Para entrar no caso, Mulder ganha o perdão do órgão, mas exige que Scully também o acompanhe.

Além da agente, outras mulheres também haviam desaparecido, o que leva os investigadores a acreditar que estão diante de um serial killer ou alguma outra coisa mais estranha. O problema é que, as únicas pistas parecem partir do padre Joe (Billy Connolly), um homem condenado por pedofilia, que havia abusado sexualmente de 37 meninos no passado.

Quem mais se ressente do caso é Scully, pois enquanto Mulder mergulha fundo, aceitando como verdadeiras as visões do padre, a médica rejeita este último, não apenas pelo passado de abusador, como também por contrariar as suas rígidas convicções religiosas (ela, obviamente, também é católica). Para piorar as coisas, ela está envolvida com uma criança que sofre de uma doença degenerativa considerada sem cura, e rejeita interromper o tratamento.

Todos os caminhos levam Mulder e Scully a investigar o tráfico de órgãos, por achar que os desaparecimentos das mulheres têm a ver com essa causa básica. Agora, encontrar as vítimas desaparecidas ainda com vida passa a ser uma questão de tempo.

Curiosamente, os espectadores que mais rejeitaram os filmes foram os antigos fãs da série, por não encontrar elementos comuns aos episódios da TV, como extraterrestres, conspirações governamentais ou aparições sobrenaturais. Já as pessoas que nunca tinham ouvido falar em Arquivo X consideraram o filme atual como uma boa peça de ação policial. Junte-se uma ótima fotografia, a trilha sonora envolvente e uma montagem extremamente dinâmica (a sequência inicial é de tirar o fôlego), e deparamos com um filme que agrada e desagrada a gregos e troianos.

Mas, como sempre costumo dizer, opinião é única, e gostar ou não tem a ver com o íntimo de cada pessoa. A recomendação? Assista e forme a sua própria opinião.