Eu Sou a Lenda

A eterna luta entre o bem e o mal

 

Filmes apocalípticos com zumbis não são novidade no cinema, mas poucos tem como inspiração bons livros de ficção-científica. O escritor americano Richard Matheson teve vários livros levados às telas, e entre eles “Eu sou a lenda”, publicado em 1954, e que inspirou três grandes filmes, “Mortos que Matam” (“The Last Man on Earth”,EUA,1964), “A Última Esperança da Terra” (“The Omega Man”,EUA,1971) e “Eu Sou a Lenda” (“I Am Legend”,EUA,2007), sobre o qual vamos discorrer.

Na história original, um vírus transforma todos os habitantes da Terra em vampiros, à exceção do cientista Robert Neville, que tem que lutar contra todos. Essa ideia foi seguida nos filmes de 1964 e 1971, onde Vincent Price e Charlton Heston interpretaram o personagem central. Houve ainda um curta-metragem produzido pela Escuela oficial de Cinematografía em 1967, com o título “Soy leyenda”, baseado na mesma história.

Na versão de 2007, o vírus origina-se de uma pretensa cura do câncer, mas, que mostra-se capaz de uma incrível destruição. Nas primeiras semanas, 90% dos habitantes da Terra morrem por conta do vírus. Entre os sobreviventes, uma pequena parte revela-se imune ao vírus, mas os demais transformam-se em zumbis enlouquecidos, que são atraídos pelo sangue das pessoas normais e alimentam-se de carne humana. Estes seres tem uma sensibilidade exacerbada na pele, de modo que a simples exposição aos raios ultravioleta emitidos pelo sol é capaz de queima-los.

Neste universo é que vive Robert Neville (Will Smith), um cientista do exército americano, que, imune ao vírus, permanece em Manhattan, a ilha central de Nova York, onde pesquisa incessantemente alguma maneira de debelar a doença que destruiu o mundo.

Enquanto circula pela cidade, acompanhado pela cadela Samantha, Neville luta contra os zumbis, procura manter a sanidade e sofre com a falta da família morta na ocasião em que a cidade foi isolada.

Ele usa os meios possíveis para se comunicar com outros possíveis sobreviventes, emitindo mensagens pelo rádio, na esperança que mais gente esteja na mesma situação que ele. Quando já está praticamente se entregando ao desespero, é surpreendido pela chegada de Anna (a brasileira Alice Braga) e seu filho Ethan (Charlie Tahan), dois sobreviventes que vieram de São Paulo. Claro que não se explica que os dois são brasileiros (se é que são), afinal de contas todo americano sabe que no Brasil se fala espanhol e a nossa capital é Buenos Aires…

Eles ainda terão que resistir a uma batalha final onde os zumbis parecem começar a criar uma hierarquia e organização, para destruir o seu pior inimigo, o próprio cientista.

A diferença básica entre o filme de 2007 e as versões anteriores parece ser a tendência à profusão dos efeitos especiais, onde a história fica meio sufocada. Some-se a isto o maniqueísmo tão presente na cultura ocidental, onde, em nossa forma de pensar simplista, o mundo é visto como que dividido entre o Bem e o Mal. Bem e Mal, claro e escuro, luz e trevas. Certamente, essas histórias, contadas por orientais, teriam uma ótica completamente diferente.

Richard Matheson teve outros livros adaptados ao cinema: The Shrinking Man (1956), filmado como “O Incrível Homem Que Encolheu” (“The Incredible Shrinking Man”,EUA,1957); A Stir of Echoes (1958), filmado como “Ecos do Além” (“Stir of Echoes”,EUA,1999); Hell House (1971), filmado como “A Casa da Noite Eterna” (“The Legend of Hell House”,EUA,1973); Bid Time Return (1975), filmado como “Em Algum Lugar do Passado” (“Somewhere in Time,EUA,1980) e What Dreams May Come (1978), filmado como “Amor Além da Vida” (“What Dreams May Come”,EUA,1998).

Um bom livro nem sempre é garantia de um bom filme, e já observei grandes histórias desperdiçadas no cinema. Mas, no caso específico de Matheson, os sucessos nas adaptações foram a maioria. Para isso deve ter valido sua experiência como roteirista, como demonstram os quase noventa créditos listados no site do IMDB.