O grande salto

Uma das únicas coisas boas da idade é permitir que alguém seja testemunha de um evento histórico, e não apenas tomar conhecimento por livros e outros registros. Neste aspecto me considero afortunado, pois não só vivenciei mudanças tecnológicas impressionantes, como também acompanhei fatos monumentais ao longo da metade do século passado e início do atual. Um destes fatos foi a chegada do Homem à Lua em 1969, evento comemorado no mundo todo, mas cujos detalhes a maioria das pessoas conhece apenas superficialmente.

Neste ano de 2019, um dos filmes que concorreram ao Oscar foi “O Primeiro Homem” (“First Man”, EUA,2018), estrelado por Ryan Gosling, e que ganhou o prêmio das Academia de Melhores Efeitos Visuais, sendo ainda indicado para Edição de Som, Mixagem de Som e Direção de Arte. O filme ainda ganhou o Globo de Ouro de Melhor Trilha Sonora e Melhor Atriz Coadjuvante (Claire Foy), além de sete indicações ao BAFTA e mais de uma centena de outras nominações.

A ocasião era perfeita para o lançamento deste filme, já que, em julho de 2019 será celebrado o aniversário de meio século da chegada do homem à Lua. Mas, isso seria incompleto sem uma produção bem feita, o que, felizmente, não foi o caso. “O Primeiro Homem” reuniu uma boa direção (Damien Chazelle), bons atores (Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, e muitos outros), o roteiro de Josh Singer baseado no livro de James R. Hansen, boa recriação de época, ótimos efeitos visuais, e o melhor que a tecnologia do cinema poderia oferecer.

O filme retrata com notável fidelidade a vida de Neil Armstrong (Gosling), suas dificuldades, limitações, qualidades e ambições, num interessante recorte da vida de um homem simples, engenheiro e piloto de testes, que passaria do dia para noite ao status de celebridade mundial. Se há um pecado no filme é centrar a atenção unicamente nele, esquecendo que a chegada à Lua foi um esforço coletivo monumental, que exigiu o esforço e dedicação de centenas de milhares de pessoas durante anos a fio.

Assistindo este filme, uma pessoa que pouco ou nada conhece sobre esse momento histórico certamente terá uma boa visão do que era o mundo naquela época, e do esforço sobre-humano para vencer todos os obstáculos e vencer a Corrida Espacial. Sim, pois naquela fase de Guerra Fria, o mais importante era ultrapassar a União Soviética, que obtivera inúmeros sucessos, como o lançamento do primeiro satélite (Sputnik,1957), e do primeiro voo orbital tripulado (Gagarin,1961).

Para quem quer conhecer um pouco mais a fundo a história da chegada do homem à Lua, existe uma minissérie da HBO de 1998, intitulada “Da Terra à Lua” (“From Earth to the Moon”,EUA,1998), que explora não só os momentos iniciais da NASA, bem como detalhes importantes de todos os voos que conseguiram chegar em nosso satélite. Esta produção teve a participação ativa de Tom Hanks, que além de apresentar os episódios, participou da elaboração dos roteiros e também atuou no último capítulo.

A minissérie é dividida em doze episódios, que embora obedeçam uma ordem cronológica, não tem ligação um com outro, podendo até ser assistidos de forma independente. Os cinco primeiros episódios mostram os primeiros anos da Nasa e a difícil preparação para as viagens no espaço, acompanhando o programa Gemini e o início do programa Apollo, incluindo o horrível acidente que causou a morte de três astronautas. Os episódios são “Can We Do This?”, “Apollo One”, “We Have Cleared the Tower”, “1968” e “Spider”.

Os episódios 7 a 10 mostram as missões lunares sobre vários ângulos, como o novato Alan Bean que se tornou a quarta pessoa a andar na Lua, o acidente da Apollo 13 que deixou o mundo em suspenso, a participação do primeiro americano no espaço, Alan Shepard, na Apollo 14 e a intensa preparação dos astronautas num programa de exploração geológica da Apollo 15. Os episódios são “Mare Tranquilitis”, “That’s All There Is”, “We Interrupt This program”, “For Miles and Miles” e “Galileo Was Right”.

O episódio 11, “The Original Wives Club”, mostra um lado praticamente ignorado do glamouroso mundo dos astronautas, o de suas esposas, que além de enfrentar a ausência dos maridos, e o eterno temor por suas vidas, ainda tinham que lidar com seus lares, filhos e ainda suportar o assédio da imprensa.

O episódio 12, “Le voyage dans la lune”, além de mostrar como foi a última viagem tripulada para a Lua, ainda mostra um pouco da vida de Georges Méliès, um pioneiro do cinema que gastou grande parte de sua fortuna para fazer o primeiro filme sobre uma viagem à Lua, que seria roubado pelo americano Thomas Edison e exibido como seu nos Estados Unidos.

Acredito que assistir ao filme “O Primeiro Homem” e complementá-lo com a minissérie “Da Terra à Lua” será um programa excelente que dará ao espectador não apenas uma visão do que foi a chegada do homem à Lua, mas o sentido real do que Armstrong quis dizer ao citar o grande salto da Humanidade em suas primeiras palavras ao tocar o chão do satélite. Confiram.